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Agenda Azul


Terça-feira, 20 de março de 2012 - 14h06


O 6° Fórum Mundial da Água, realizado nesses dias em Marselha (França), não deixou margem para dúvidas: ou se investe decididamente na proteção dos recursos hídricos do planeta, ou a civilização humana padecerá de terrível escassez. Que já se manifesta. Relatório da ONU, apresentado no encontro, aponta a irrigação agrícola como séria questão a ser enfrentada. Primeiro, porque tal técnica demanda muita água, cerca de 70% do total; segundo, devido à dramática necessidade para alimentar uma população que deverá atingir 9 bilhões de habitantes em 2050. Segundo as revisadas, e mais precisas, estimativas da FAO, a produção de comida precisa crescer 60% nesse período, e isso somente parece possível aumentando as áreas irrigadas no campo. Resultado: vai aumentar a necessidade de água para as lavouras, especialmente nos áridos países do Oriente Médio que, aliás, importam cada vez mais alimentos. Mudanças climáticas devem alterar o padrão das chuvas, provocando secas mais prolongadas e derretimento de geleiras. Tudo conspira contra o abastecimento. Estudos indicam que, sem decididas políticas de manejo de água, 40% da população mundial viverão em áreas de alto estresse hídrico até 2050. Estimativas de longo prazo, claro, sempre carregam muita incerteza. A terrível seca, porém, que afetou, neste 2011, as grandes planícies norteamericanas, prejudicando a irrigação e restringindo a água para consumo humano pareceu um aviso recente dos céus. No Brasil, novamente o fenômeno climático La Niña provocou forte estiagem, derrubando a safra, e arrancando os cabelos dos agricultores sulinos. Dentre as dúvidas, uma certeza: preservar os mananciais d’água será estratégico nas políticas sustentáveis do futuro. A situação anda preocupante. Cerca de 25% das áreas agrícolas mundiais se degradam, de forma mais ou menos severa, em decorrência da má, e intensiva agricultura. Esta depaupera os recursos hídricos, reduz a fertilidade dos solos, aumenta a erosão. A contínua irrigação tem provocado a salinização dos solos em certos locais, fazendo decair a produtividade agrícola. Lençóis freáticos, bombeados para a superfície, se aprofundam, prejudicando o enraizamento das plantas; o desmatamento e os ventos causam desertificação. Na Espanha, na Austrália, nos Estados Unidos, na África, por onde se procura se percebem ameaças contra a segurança alimentar. Olhos enviesados atribuem à agricultura o papel de vilão na equação mundial da água. Algo injusto. Acontece que mesmo gastadora, a prática da irrigação rural pouco compromete a qualidade da água, exceto quando esta se contamina com resíduos de agrotóxicos persistentes, comuns no passado, mas pouco utilizados hoje em dia. Após regar as plantas, via aspersão ou no gotejamento, o precioso líquido se percola pelas entranhas da terra, corre aos riachos ou se evapora, cumprindo o ciclo natural da água. No uso urbano, ao contrário, o abastecimento das residências polui organicamente as águas nos vasos sanitários; na pia da cozinha e na lavanderia ela se mistura ainda com detergentes e saponáceos. Já nas unidades industriais, as águas utilizadas se contaminam com solventes e demais produtos químicos, que lhe roubam a vida. Nas cidades, que ninguém duvide, ambas a demanda e a poluição são tremendas. O Fórum Mundial da Água de 2012 contou, entre as 180 delegações participantes, com a presença de uma orgulhosa comitiva paulista. Ela representava o exitoso “Pacto das Águas São Paulo”, um programa que nasceu há três anos às margens do rio Jacaré Pepira, no município de Bocaina. Ali, tendo à frente o então governador José Serra, centenas de prefeitos e outras autoridades municipais se comprometeram a aderir ao “Consenso das Águas” de Istambul (Turquia), documento histórico que define tarefas na gestão descentralizada dos recursos hídricos. Esse azulado movimento ambientalista, organizado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (www.ambiente.sp.gov.br/pactodasaguas), cresceu sem parar, ultrapassando as expectativas iniciais. Dentre os 1.070 signatários, oriundos de 49 países, ao Consenso das Águas de Istambul, 595 adesões se originam nos municípios paulistas. Notável. O “Pacto das Águas São Paulo” configura o maior programa já realizado no Brasil em defesa dos recursos hídricos, com foco na gestão local, dentro das bacias hidrográficas. Lição de casa bem feita. Em fins do ano passado, o governo paulista promoveu uma avaliação sobre o desempenho dos municípios, premiando os primeiros colocados. Entre aqueles de maior população, 94 municípios cumpriram as metas estabelecidas no programa em defesa das águas, capitaneados por Sorocaba, Tupã, Paulínia, Itapira e Batatais. Já entre os pequenos municípios, abaixo de 20 mil habitantes, 135 deles mostraram os melhores resultados, liderados por Regente Feijó, Bilac, Bocaina, Lindóia e Santo Antonio do Jardim. Podem tirar o chapéu para eles. Por todo o estado de São Paulo, corredores ecológicos se formam sinuosamente acompanhando os córregos. A recuperação dessa mata, chamada ciliar como se os olhos abrigassem, garante a plena função ambiental da biodiversidade, promovendo a junção do verde (vegetação) com o azul (água). Na beirada dos riachos, no entorno das nascentes, ao redor dos lagos, nessas paragens a vida selvagem floresce, a natureza se torna exuberante. Água é vida. Neste próximo dia 22 de março se comemora o Dia Mundial da Água. Mais que discursos, gestos de simpatia e lembranças nos bancos escolares, espera-se ações concretas, coletivas e individuais, em defesa da agenda azul. Água potável, mundo sadio.
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