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Scot Consultoria

A morte do Bundesbank


Segunda-feira, 7 de novembro de 2011 - 09h36

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


O banco central alemão é conhecido por sua ortodoxia. Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça. Após a hiperinflação na República de Weimar, os alemães passaram a confiar mais no Bundesbank do que em Deus. Jamais ousariam brincar com a inflação novamente. E esta postura acabava expondo a fraqueza relativa dos vizinhos, com constantes desvalorizações de suas moedas. Até criarem o euro, um projeto político de união que usaria a cartada bélica como pressão para a Alemanha ceder cada vez mais em sua ortodoxia monetária. Com sua primeira grande crise, a União Europeia corre sérios riscos de ruptura. De alguma forma, a Alemanha terá que bancar os custos dos resgates. Angela Merkel tem feito jogo duro até agora, o que coloca pressão por reformas de austeridade nos países periféricos. Mas o nível de estresse tem atingido patamares alarmantes. Basta ver o que se passa na Grécia. Até quando a Alemanha consegue manter a firmeza para evitar o “moral hazard”? Até quando os países menos competitivos suportam politicamente as reformas necessárias? Os títulos italianos já negociam acima de 6% ao ano, taxa insustentável para um país com 120% de dívida pública sobre o PIB. Eis onde entra o Banco Central Europeu. O BCE herdara a tradição do Bundesbank, condição para a Alemanha aceitar o euro. Mas, cada vez mais, o BCE se parece com o Federal Reserve americano. Ainda que de forma mais sigilosa, o fato é que o BCE já abandonou sua ortodoxia faz tempo. Ele vem afrouxando sistematicamente suas exigências para comprar títulos soberanos dos países mais endividados. Passou a aceitar títulos com “rating” muito abaixo do usual. Expandiu seu balanço, agora repleto de títulos podres. E, finalmente, reduziu a taxa de juros na primeira reunião com o novo presidente, o italiano Mario Draghi. Como reação a estas medidas, dois alemães já renunciaram de seus postos no Bundesbank e BCE. A pressão para o BCE “abrir as pernas” é enorme. O custo político de a Alemanha pagar diretamente pelos resgates é alto demais. A saída pela expansão monetária é muito tentadora. O jornal “O Globo” estampa no caderno de economia hoje a opinião do ex-ministro argentino Domingo Cavallo: “O euro precisa ser desvalorizado”. A revista britânica “The Economist” tem defendido uma atuação ainda mais ousada do BCE. Em suma, muita pressão tem sido colocada no BCE para agir como “salvador da pátria” na região. E seus atos recentes, ainda que na surdina, demonstram que ele vai capitular. Será, então, a morte definitiva do Bundesbank. O professor de Harvard, Kenneth Rogoff, diz ser “misterioso” o valor relativamente robusto do euro atualmente. Tendo a concordar com ele. Quem ainda não viu o que está por trás do véu de respeitabilidade do BCE? Se olharem direito, verão que a mulher de César não é mais honesta, ainda que tente manter as aparências... - Por Rodrigo Constantino, diretor do Instituto Liberal.
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