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Scot Consultoria

Alerta para a entressafra


Segunda-feira, 4 de julho de 2011 - 17h04

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Um ano de preços da arroba, livres do funrural, estão demonstrados acima. Que corrida, hein?! Saímos ano passado de preços ao redor de 80 reais por arroba nesta época de final de safra, batemos lá em cima na entressafra ao redor de 115 reais no pico. Depois descemos um pouco e ficamos oscilando entre 100 e 105 reais por um bom tempo até que veio finalmente a safra. A safra fez essa barrigada que a arroba está vendo agora — rompeu abaixo de 100 reais, chegou a bater brevemente 94 reais e está agora rondando 95 reais. Faz umas semanas já que ela está rondando estes 95 reais. Repare nesse retângulo desenhado no gráfico. Essa figura não é à toa. Ela é um sinalizador, desenhado ano passado ainda que indicava uma sugestão de até aonde a arroba poderia cair. Se os preços quisessem cair, eles tinham grande probabilidade de cair até ao redor de 95-98 reais. E quer saber? Adivinhe. É exatamente aonde os preços vieram nessa safra. É exatamente onde os preços estão agora. Se tínhamos um objetivo de baixa desse ano, ele foi atingido, 20 reais abaixo dos 115 reais que foi o pico ano passado. Vamos aprofundar ainda mais esta coisa. Vamos levar nosso olhar mais longe e olhar o longo prazo das safras, comparando a safra de hoje com as safras do passado e ver como a coisa está. Repare no próximo gráfico, a queda atual é muito parecida com as quedas anteriores. Se existe um objetivo abstrato de queda da arroba na safra, novamente aqui no longo prazo, vemos esse objetivo sendo completado e em linha com as maiores quedas das safras dos anos passados. Daqui adiante muitas opiniões estão sendo ventiladas, caro leitor. Não passa um dia sem que a gente fique sabendo de uma nova opinião sobre a entressafra. É natural que seja assim. O desejo de saber o futuro dos preços da arroba é irresistível e seduz muita gente, tanto amadores quanto profissionais. Mas vou te falar, esse ano está impressionante. Chama-me a atenção o tanto que o pessoal de um modo geral e ligado ao mercado, em particular, está mais vocal e opinioso em 2011. Não recordo anteriormente de um número tão grande de pessoas com “certeza” de saber onde estará o pico da entressafra. É interessante a multitude de razões e argumentos para justificar, explicar e racionalizar sobre as possibilidades da entressafra. A conclusão que mais aparece brotar entre os entendidos de mercado é a seguinte: essa entressafra vai frustrar em termos de preços. Ah, sim. Essa é a opinião geral. Até de gente que conheço que já faz tempo que acompanha mercado, que respeito o método de coletar e tratar as informações está achando, hoje, é bom frisar, pois as opiniões podem mudar, que a entressafra vai ser bem abaixo do que se gostaria que fosse. Na prática é o seguinte. Uma quase unanimidade de quem acha que ela não vai chegar perto do pico do ano passado, em outras palavras. O pico, como mostrado no gráfico anterior, foi de 115 reais. A grande maioria do pessoal acha que esse ano a arroba não vai passar nem perto disso. Acham que virá bem mais abaixo. Não sei se isso vai ocorrer ou não. O que me chama a atenção é o tamanho representativo da população de “neutros”, por assim dizer, sobre a população total que acompanha mercado. Estatisticamente falando, os neutros são, hoje, a grande maioria do mercado. Agora vamos atrelar isso ao timming da arroba. Ser neutro em pleno pico de safra? Soa, no mínimo, suspeito. A arroba está baixa, o sentimento geral é de baixa. Será que as projeções não estão sendo contaminadas com esse sentimento prevalecente? É só uma idéia para a reflexão. Outra coisa que me chamou a atenção. Tem sido bastante comentado no twitter sobre o mercado interno. De um modo geral diz-se que o mercado interno está fraco esse ano. É ótimo discutir essas coisas, mas pelo que conheço de mercado pecuário, o único ano em que o mercado interno se fez presente para alterar a arroba foi ano passado, caro leitor. A entressafra é usualmente dirigida pela oferta, não pela demanda. Isso quer dizer que é a falta de boi e vaca gordo, em outras palavras, que dita o preço no segundo semestre. Ano passado a alta foi pela demanda muito mais que pela oferta, então será que essa exceção não gerou um olhar por demais atento, uma lente de aumento fortíssima sobre o mercado interno esse ano? A gente escuta bastante a questão de mercado interno, estudos sobre isso. Até mesmo aqui na CP a gente fala sobre isso de vez em quando, a Lygia da XP, sei que está fazendo um trabalho fantástico em acompanhamento do mercado interno também. Mas será que não estamos desequilibrando a equação oferta versus demanda ao olhar tão profundamente a demanda? Como é que está a velha e boa oferta de gado no segundo semestre? Outra coisa. Será que é o mercado interno que está fraco ou são os preços da carne no varejo que estão altos, inibindo o consumo? Repare que são duas coisas diferentes. Se 1) o mercado interno estiver fraco então realmente veremos os preços da arroba com dificuldade de subir, mas se 2) forem os preços no varejo que estão altos, a arroba pode subir, a carne no atacado pode subir e o varejo terá que absorver essa alta na redução de suas margens para poder vender carne. Lembre-se que carne representa mais de 10% do faturamento dos supermercados médios, caro leitor. Algo me diz que a segunda opção é a que já ocorreu no passado. Repare no gráfico a seguir. Ele mostra quem está na frente em uma corrida de preços. Atualmente é o atacado quem está na frente, mas repare o que ocorreu em 1999, 2002, 2006, 2008 e 2011 — apesar do varejo ter permanecido na frente, o diferencial de preço entre os dois caiu e o preço da arroba conseguiu comer parte da diferença. Então, vamos ficar de olhos bem abertos e não “fecharmos” em uma opinião, por mais convincente que ela parece no primeiro momento. O mercado é famoso por fazer algo totalmente ao contrário do que era esperado pela maioria das opiniões. Ano passado, para dar o exemplo mais recente, foi exatamente isso que ocorreu.
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