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Scot Consultoria

Uma hora a mola se solta


Segunda-feira, 16 de maio de 2011 - 09h51

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


“Que dia bonito hoje. Céu claro, sem nuvens. A temperatura está amena. Não está fazendo o calor que estava fazendo semana passada. Ainda nessa hora da manhã escuto os passarinhos daqui da janela do apartamento. Ainda não tem carros passando na rua. Estão todos aqui. Meus pais. Os pais dela. Que dia bonito.” Vou lá fazer o meu cafezinho. Faço para ela e para os pais dela também. Tem algo especial fazer um cafezinho em uma cafeteira Bialetti, não sei explicar. Fico ali na cozinha, preparando um pão com presunto e queijo para a minha filha, perdido em pensamentos. Noite passada coloquei ela para dormir. Ela sempre pede para cantar a “Musiquinha do Soberano, papai”. É a moda de viola do boi soberano. Sei ela de cor. “O boi salvou o menino, papai?” Salvou sim, filha. E adormece. A Bialetti apitou. O café está pronto. Ainda não deixo os pensamentos sobre o mercado entrar na minha cabeça. Não. Tenho coisas muito mais importantes para pensar hoje. Lembre-se bem do dia de hoje, Rogério. Será muito especial. Somará com os outros dois melhores dias de sua vida. O seu casamento e o nascimento da Rafaela. Escuto minha esposa me chamando: — Rogério, vamos para o hospital?, ela me diz com um olhar esperançoso. — Claro!, respondo. Sexta-feira, treze. Um belo dia para uma nova vida vir ao mundo, não é mesmo? — É mesmo. É dia de Nossa Senhora de Fátima. Pegou os documentos? — Peguei. Estão aqui comigo, digo sorrindo. — Então vamos, ela também sorri. Pois é, caro leitor. Realmente foi um dia especial. Especial e inesquecível. Meu filho nasceu! Bem-vindo ao mundo, Rodrigo Florêncio Bonito Leal Goulart! Daí você já viu, né? Não deu para escrever nada nesse dia. Estou escrevendo hoje, no domingo. Aonde deixamos o mercado na semana passada? O mercado físico estava querendo enfraquecer, os contratos futuros desabaram e a apreensão sobre o frio no MS se tornando cada dia mais assombrosa. Mas o que aconteceu de fato com os mercados nesta semana? Parece que conseguiram comprar um pouco mais de bois e vacas na semana, como você pode ver a seguir. Esta semana (8 a 14/5) as escalas em SP fecharam entre três e quatro dias de animais comprados. Esta alta começou já no final de abril, mas convenhamos... Está muito igual ao que vem ocorrendo desde o início do ano. Mas a oferta de animais vem se mantendo restrita pelos pecuaristas ou por opção dos frigoríficos porque o atacado também não está permitindo, atualmente, repasses para cima nos preços. Não sei se foi efeito atrasado em virtude do aumento temporário dos combustíveis que enfraqueceu o consumo no curto prazo, mas o que temos de real mesmo para justificar esta queda foi a queda da carne no atacado, como você pode ver no gráfico abaixo. Posso estar menosprezando esse movimento do curto prazo como temporário, olhando para ele com certo distanciamento, mas o mercado futuro também está com um olhar em cima disso daí, mas com um olhar o inverso do meu... Está olhando com uma lente de microscópio e aumentando muito o efeito da coisa toda para o restante do ano. Sabemos que a pressão baixista, mesmo sem ainda, mostrar de fato uma queda forte para a arroba, está influenciando o mercado. Até mesmo operadores experientes estão começando a se questionar se a entressafra será ou, mais ainda, terá qualquer tipo de alta. Escutei isto essa semana e me chamou a atenção. É claro que a idéia aqui não é peitar o mercado, mas estarmos bem alertas para as oportunidades que ele deixa aparecer, caro leitor. Deixe-me te dizer somente uma oportunidade, mas primeiro, colocarei o gráfico da curva dos futuros, abaixo. É o mesmo da semana passada, como você pode ver, só que atualizado com os fechamentos desta sexta-feira. Estes preços estão arredondados e já livres de impostos. O que a gente tem é o seguinte - preços iguais até o fim do ano. O mercado está dizendo que sim, agora em maio teremos uma quedinha de quatro reais (semana passada era de três reais de queda), mas depois disto os preços vão se recuperar aos poucos para o que temos hoje. Pare e contemple este gráfico. É uma aberração? É uma anormalidade? Meu Deus do Céu, que oportunidade! Oportunidade? Olhe para o gráfico novamente, agora abaixo e descontada a inflação. Você terá a real oscilação da arroba no período. Ou seja, na realidade o mercado está esperando um ano de baixa para a arroba, isso em pleno ano de retenção (ainda) de matrizes e volta da alta no bezerro. Pode acontecer? Claro que sim, mas será inédito um movimento desses nessas duas décadas de plano real. Se eu fosse um frigorífico, esse tipo de gráfico me faria sorrir. Será a primeira vez na história dos mercados futuros que o hedge de compra parece, de alguma forma, fazer sentido. Ah, sim... Fui falar destes gráficos e deixe de falar da oportunidade para o pecuarista com um mercado desse tipo. Com esses preços dos contratos futuros para a entressafra o pecuarista consegue comprar na bolsa boi magro para o segundo semestre com um desconto, em média, de 50 reais sobre o preço do boi magro de hoje. Isso, caro leitor, é dificílimo de ocorrer na bolsa, quero dizer, os contratos estarem precificando uma arroba que, mesmo que não esteja a melhor do mundo para o boi gordo, está muito boa para se fazer reposição. Entendeu? Não se preocupe. O que quero dizer é que se você tiver que comprar boi magro no segundo semestre, comprar eles hoje na bolsa (utilizando os contratos da entressafra) te dará um preço de animal uns 50 reais mais barato do que você conseguiria comprar hoje dos recriadores. Todos estes valores estão descontados de inflação. Se a bolsa cair mais ainda, ficará melhor. O que estou dizendo é potencialmente a oportunidade de comprar os animais para a entressafra de 2012 agora, aproveitando a janela da pressão de baixa momentânea que está ocorrendo com os contratos futuros da entressafra que a bolsa está dando, tendo em vista a distorção atual da precificação da entressafra sobre o que ocorreu de fato com os preços históricos. O início desta conversa foi na semana passada. Nada disso que estou dizendo é minha opinião. Estou só dizendo, ou melhor, traduzindo o que os números históricos dos preços da pecuária nos dizem. Opinião seria dizer que a bolsa irá subir ou vai cair. Isso, eu não sei. O pessoal do Twitter é engraçado. Cada dia que os preços caem, as conversas vão minguando e os tweets altistas vão desaparecendo. É o caso clássico do axioma de Wall Street: “Markets make Opinions”? Não sei o porquê. Deveria ser ao contrário, como nos ensinou Benjamin Graham, em seu livro “O Investidor Inteligente”. Cada dia que a arroba cai é mais um pouco de pressão acumulada para fazer ela subir novamente, como uma mola sendo tencionada. Uma hora a mola se solta. É assim que o boi funciona. Pelo menos é assim que nesses últimos 20 anos que acompanho o boi, vi ele funcionar. Cada dia que ela cai é um dia para ficar mais otimista. Ou por outro lado, não me leve muito à sério esta semana, caro leitor. Meu filho nasceu! Por causa disso, então vai ver que posso estar mais otimista que o costume atualmente...
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