• Sábado, 27 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Momento de alerta


Quarta-feira, 20 de abril de 2011 - 16h54

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Como você pode ver, estamos com um mercado sem muita emoção desde início de dezembro do ano passado. O indicador gira entre 102 e 106 reais e não sai dessa área desde então. Daí pergunto. Isso é altista ou baixista? Quero dizer, o mercado não quer subir, certo? Mas também não quer cair... E essa coisa toda está acontecendo com uma arroba acima de 100 reais, coisa que nós só começamos a ver nos preços do boi a partir de outubro do ano passado. O abate de fêmeas ainda não voltou a aumentar. O preço do bezerro também não. O mercado interno está demandando carne. Isso tudo é altista para a arroba. Altista? Vejo o pessoal comentar muito sobre o boi, “ah, tá faltando boi”, o boi vai subir, certo? Em partes. Falta boi porque falta vaca. Tem boi. O que não tem é vaca para completar as escalas. Na falta de vaca, a demanda pelo boi aumenta, e isso cria uma demanda por machos exageradamente alta, o que dá a sensação que “está faltando boi”. Esse tipo de ilusão pode pegar o cidadão no contrapé quando o abate de vacas voltar a aumentar, ele insistir na idéia que está faltando boi e o mercado for contra ele. Especialmente a partir do ano que vem. Para a realidade mais próxima da gente, atualizei aqui os dois objetivos da arroba. Para cima ao redor de 110 reais, para baixo, ao redor de 98 reais. Hoje a arroba está ao redor de 104 reais. Está mais para cima ou mais para baixo a coisa toda, caro leitor? Sob o ponto de vista estritamente técnico a coisa está indefinida. Está no 0 x 0. Mas um detalhe, estamos na safra. Era para o mercado cair. O mercado não caindo é como o time que não faz gol. Se não faz gol, no sentido do mercado deveria cair, leva uma alta na cabeça por aí, quem sabe? É claro que tenho os meus chutes, não sou de ferro, e um deles é essa sensação do mercado firme. As escalas de abate estão curtas, já estamos caminhando para o final das chuvas e nada desses animais aparecerem. O engraçado é que a gente olha para o mercado futuro e enxerga um humor completamente diferente. É como se o mercado futuro estivesse olhando para outro mercado, outra realidade. No mercado futuro, tem boi gordo daqui até o final do ano. Vaca também, por assim dizer. Ao mesmo tempo, o mercado consumidor irá enfraquecer, ou a inflação irá aumentar, ou o consumidor irá gastar todo o seu dinheiro com cartão de celular... Sei lá. Faz muito tempo que deixei de tentar entender o mercado futuro e suas razões. Há muito tempo atrás, passei interpretar esses momentos de desconexão do mercado como oportunidades, não como ameaça à minha opinião, até porque se estivermos errados, sempre existe um bom e velho stoploss para nos tirar do prejuízo. Repare você aqui em baixo, o que estou dizendo. A linha em azul é o mesmo gráfico da página anterior, de novembro até os dias de hoje. Em vermelho temos os contratos futuros. A estabilidade que tivemos até hoje? É meu amigo e minha amiga, o mercado futuro está olhando para trás, e está dizendo que daqui para frente o futuro é igual ao passado. Está dizendo que você pode esperar os próximos seis meses iguais aos últimos seis. Não se preocupe em argumentar que isso nunca ocorreu no boi. Obviamente razões estatísticas não interessam aos participantes do mercado. Estamos ainda na fase de digestão lenta e demorada da carne embalada com notas de 100 da entressafra. Estamos nessa digestão até hoje, se você me perguntar. Simplesmente a coisa ainda está refletindo - e reagindo - ao susto da arroba de 117 reais do ano passado. Mas calma lá. Não é bem assim. O atacado também está numa fase de estabilidade, como podemos observar no próximo gráfico. A linha preta é a arroba do boi, a linha vermelha é o atacado, ambos em SP. Se o atacado não quiser subir, a arroba também não irá. O atacado não cai porque os frigoríficos hoje não estão conseguindo comprar animais mais baratos, e a coisa fica de um modo geral travada ou, como o pessoal do mercado financeiro gosta de dizer: mercado está “de lado”. Bom, como estão as escalas de abate, já que estamos falando de oferta? Estão curtas... Como nunca estiveram nesses últimos anos de safra. Repare neste último gráfico. As escalas de abate em SP estão nessa safra girando ao redor de três dias. O momento é complicado, sim senhor. A coisa está como em uma panela de pressão prestes a explodir. E a meu ver, vai sobrar para o consumidor, pois o frigorífico vai tentar empurrar essa conta para frente daqui a pouco. Vamos ver no que vai dar essa história. Pelo jeito teremos que nos preparar para mais choro, reclamações nos jornais e na TV, botando a carne bovina como vilã novamente. Mas é isso mesmo, a gente briga mais e se desentende mais com quem a gente gosta. Com 37% da preferência no orçamento do consumo de carnes totais, a dona-de-casa tem razão em reclamar. A questão é que ela irá reclamar hoje, em uma arroba acima de 125 reais - que é onde, corrigido pela inflação, chegou os 117 por arroba do boi no ano passado. Tem hora que faz falta uma bola de cristal, viu?
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja