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Scot Consultoria

Uma boa dica


Terça-feira, 14 de dezembro de 2010 - 15h59

Zootecnista pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira. Mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de Jaboticabal. Consultor e analista da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos, insumos, avaliação e perícia. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral. Editor-chefe da Carta Leite, da Carta Grãos e do Relatório do Mercado de Leite, publicações da Scot Consultoria.


Colaboraram Alcides Torres, Gustavo Aguiar e Marco Túlio Habib O volume de dinheiro destinado ao financiamento do agronegócio, através do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), é crescente. Os montantes para a agricultura empresarial e a agricultura familiar, passaram de R$32 bilhões em 2003/2004 para os atuais R$116 bilhões (temporada 2010/2011). Um crescimento de mais de 250% em sete anos (figura 1). O que chama a atenção é que uma parcela desse crédito, que pode ser utilizado tanto para o custeio como para investimentos, não é utilizada. Ou seja, ao término do prazo para a concessão do crédito, uma parte considerável do dinheiro disponível não é contratada, e não poderá ser utilizada em ocasiões ou planos futuros. Mas por quê isso acontece? O produtor ou pecuarista brasileiro está capitalizado o suficiente para bancar a atividade e os investimentos sem a ajuda ou financiamento do governo? Pelo contrário, a procura por linhas de financiamento é grande, no entanto, a burocracia e a demora para a aprovação e liberação do crédito impedem ou dificultam o acesso ao dinheiro. Em muitos casos é mais fácil e rápido buscar um financiamento ou custeio da atividade juntos às tradings, no caso, da agricultura, ainda que os custos sejam maiores do que os verificados nas linhas do governo. As tradings são empresas responsáveis pela comercialização das commodities agrícolas. No geral, atuam também como financiadoras da produção, através da concessão de crédito aos produtores para o custeio da produção (aquisição de sementes, adubos, defensivos agrícolas, etc.). Nas últimas safras, o financiamento através dessas multinacionais e/ou revendas de produtores agropecuários respondeu por mais de 70% do montante liberado para o setor agrícola. Em 2009, em função da crise mundial que repercutiu diretamente no faturamento do setor agrícola (menor demanda e preços agrícolas menores) o financiamento pelas tradings e revendas caiu para algo em torno de 50% do financiamento agrícola no país. Segundo dados da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) os juros cobrados pelas tradings variam de 15% a 25% a.a. conforme a operação. No Plano Agrícola e Pecuário – PAP 2010/2011 - os juros para custeio e comercialização da produção são de 6,75% a.a. É comum uma trading de grãos atuar também no mercado de insumos através de uma marca ou possuir parceria com alguma empresa do setor. Neste caso, é possível que a compra do insumo seja feita ou indexada diretamente em sacas do produto a ser colhido, em um esquema de troca. No fechamento do pedido, o produtor “troca” grãos por insumos. A garantia do recebimento dos grãos se dá por meio de emissão, pelo produtor, da CPR (cédula de produto rural). O produtor “trava” seu custo em sacas de grãos, transferindo o risco, pelo lado da receita, para a revenda. A revenda por sua vez vende insumos ao produtor por meio das “trocas” de grãos que ainda não foram plantados, ou seja, antes do plantio. O recebimento será realizado na colheita. O prazo para pagamento/recebimento é de, aproximadamente, 180 dias. Os juros somente passam a ser computados a partir da entrega dos produtos ao produtor rural, ou seja, no ato da emissão da nota fiscal de venda por parte da revenda. A desvantagem nesse tipo de operação é que na maioria das vezes o produtor é obrigado a utilizar os produtos da marca da empresa financiadora, sem a possibilidade de optar pelo produto de seu interesse ou o mais barato. Em contrapartida as tradings garantem o recebimento dos grãos. Na tabela abaixo está um resumo das principais características do financiamento através do PAP e pelas revendas agropecuárias e tradings. ALGUNS EXEMPLOS Na última temporada, portanto estamos nos referindo ao PAP 2009/2010, foram disponibilizados aproximadamente R$66,2 bilhões para o custeio e comercialização agrícola e pecuária. Desse total, foram emprestados R$64,8 bilhões ou aproximadamente 98% do volume disponível (figura 2). Até aí tudo bem. Os valores para custeio e comercialização estão dentro do normal, considerando que esta “sobra” é bem maior quando analisamos as linhas de financiamento para investimentos. Por exemplo, no PAP 2009/2010 foram disponibilizados para as linhas Moderfrota, Moderagro, Moderinfra, Produsa, Propflora, Prodecoop, Moderfrota Proger e Procap–Agro R$10 bilhões. A demanda, no entanto, não chegou a 40%. Foram emprestados apenas R$3,6 bilhões. Veja a tabela 1. Será que a crise em 2008 espantou os investimentos em 2009/2010? Parece que não. Analisando os anos anteriores a situação é semelhante. Tomando como exemplo a Linha Moderfrota, destinada ao financiamento de tratores agrícolas e implementos associados, colheitadeiras e equipamentos para preparo do solo, na média, o volume contratado nos últimos anos foi de 48%. Veja a figura 3. FINAL Os investimentos, em qualquer atividade que seja, é um fator de grande importância no sucesso e resultado do negócio. É o que garante o crescimento da produtividade e índices produtivos melhores. Na agricultura e pecuária, onde as margens para o produtor e pecuarista são cada vez menores, a utilização de tecnologia é essencial para manutenção ou ampliação da receita, já que o preço das commodities tendem a diminuir ao longo dos anos. Dessa forma, garantir que o crédito chegue de fato a quem precisa é muito importante. Menos burocracia e agilidade nos processos parece ser uma boa dica.
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