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Scot Consultoria

Filosofando sobre a arroba


Terça-feira, 14 de dezembro de 2010 - 15h39

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Vamos dar uma olhada no diferencial de base, pois ele se encontra atualmente em um ponto que eu diria bem extremo. Observe ele aqui abaixo. Em 2010 o desconto está girando, agora, no pior momento do ano, entre –13% e –14%. Agora observe 2009. Observe como durante 2009 a base foi se estreitando (ou seja, subindo). Em 2010 ela foi se alargando (ou seja, caindo). É o mesmo mercado, é o mesmo produto. Dois comportamentos completamente diferentes. O que a gente tira disso? Isso significa alguma coisa para os preços, nos indica alguma direção? Na realidade, não indica direção dos preços. Indica apenas que fora de São Paulo, nos estados que compõem o Brasil Central Pecuário, a oferta de boi está maior hoje que estava ano passado. Por outro lado, a média de longo prazo do diferencial de base é de –10%. A média é essa linha suave que transpassa a linha vermelha do diferencial de base. Ao se distanciar muito da média, como agora, no passado isso significou que os preços de fora de São Paulo caíram muito em relação ao preço paulista e, no seu devido tempo, eles voltaram a se estreitar. Isso significa que, se a arroba de São Paulo permanecer mais ou menos estável, é possível que nos preços atuais os frigoríficos tenham dificuldades em comprar animais e tenham que pagar um pouco acima do que está agora. Mas isso é só um indicativo, ok? Não quer dizer que vai acontecer, pois o movimento do diferencial de base não é uma coisa que você possa ter certeza absoluta de entender. Mas para o que a gente quer saber, está bom. Seguindo em frente, abaixo é um gráfico que nunca coloquei aqui. Esses dias atrás comentei que estava estudando a pecuária com rigor estatístico, então esse gráfico aí faz parte dessa nova etapa de estudos. Isso daí merece uma explicação, mas peço desculpas se vou entrar em um mundo de conceitos técnicos demais. Mas é bom para quem se interessar, pois mostra como tem horas que você tem que aprofundar filosoficamente em um mercado para poder entendê-lo melhor. Depois de horas e horas e horas de tentativa e erro, cheguei a um indicador que me deu uma visão um pouco mais condizente com que esperaria de um indicador para o boi. Porque inventei isso daí? Na realidade foi fruto da necessidade particular. O mercado de boi tem algumas particularidades que o diferencia de outros mercados. Para começar, o cenário geral. O boi é extremamente atrelado à inflação. A arroba praticamente só faz subir no longo prazo, exatamente porque a moeda se desvaloriza no longo prazo. Então, em termos nominais, o boi tem um viés de alta. Só por isso já se torna complicado o uso de indicadores tradicionais, pois eles pressupõem um mercado que oscila, especialmente quando você trabalha com gráficos semanais ou mensais. Uma segunda razão é que no boi temos momentos, especialmente no stress de safra e entressafra, em que há um rompante, um impulso arrebatador que faz o mercado subir ou cair com muita rapidez. Sempre me intrigou essa natureza do boi, mas isso está ligado intimamente ao modo em que o pecuarista enxerga o ato de vender seus bois gordos. O ato de vender os bois gordos está ligado à reposição, como falamos no texto da semana passada, mas também, no curto prazo, está ligado ao custo de carregamento da produção de um mês para o outro. Ou seja, quanto custa não vender os bois agora e deixar para vender mês que vem? Isso é determinado especialmente pelo clima, que determina o capim, e o clima determina a época do ano em que esses movimentos de venda desenfreada, como na safra, e retenção ou falta de animais (o que naquele ano estiver ocorrendo), como na entressafra. Os indicadores tradicionais não possuem um ajuste fino para serem sensíveis a esse tipo de oscilação. Ou seja, quando o indicador sinaliza a mudança, o mercado provavelmente já andou por uma ou duas semanas. Isso para mim era insuficiente. Daí desenvolvi esse indicador. Ele consegue captar o que os outros não conseguem, essa mudança brusca de humor do mercado. Você conseguindo captar isso, você consegue: 1) vender melhor seus animais quando os preços estão subindo e você não sabe quando será o topo e; 2) evita a venda ou segura os animais na fazenda quando o rompante de queda levou os preços a valores distorcidamente baixos para aquele momento. No resto do tempo, ou seja, fora dos extremos, nos outros 90% de oscilação do mercado, os indicadores tradicionais dão conta do recado. Bom, deixa de papo. Repare no gráfico novamente. Veja que no final de novembro ele mostrou uma queda vigorosa da arroba, extrema, que olhando para o passado mostrou-se uma queda além do que seria justo acontecer. O mercado se distorceu para baixo. Daí a orientação do gráfico para o mercado físico seria “pare de vender boi gordo e espere”. A orientação para o mercado futuro seria “compre bolsa”. Naquele momento o indicador estava ao redor de 103 reais e o contrato de dezembro ao redor de 98 reais. Se o indicador estava me dizendo que nos 103 reais o físico estava distorcido para baixo e passível de alta, e olhando para o contrato de dezembro a 98 reais, o cidadão enxerga que o contrato de dezembro estava mais distorcido ainda que o indicador. Merecia a compra. E foi isso que aconteceu. O contrato de dezembro subiu de 98 para 103 reais atualmente. Legal, não é? Fiz um teste retroativo desse indicador em todos os contratos futuros desde 1994 até hoje para ver a sua veracidade. A taxa de sucesso no que ele informa é impressionante. Mas está aí. Como disse, esse indicador funciona muito bem nos extremos. Acredito que no curto prazo desses últimos dias é mais ou menos isso que está acontecendo com o boi. Ele caiu demais no físico e agora está se recuperando um pouco. Se ele voltar para a média do oscilador, marcado por essa linha suave em vermelho, o objetivo dessa alta atual seria ao redor de 109 reais para o indicador à vista em São Paulo. Isso daria uma arroba ao redor de 106 reais livre do funrural. Tem que subir 5 reais, então, pois hoje a arroba está 101 reais, livre do imposto. Acho que para essa semana está bom a gente parar por aqui. Depois de tanto filosofar sobre o mercado do boi até a minha cabeça deu um nó.
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