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Scot Consultoria

Peso de abate, resultados e relação de troca


Quinta-feira, 9 de setembro de 2010 - 17h46

Engenheiro agrônomo


Recentemente a equipe da Bigma Consultoria foi questionada sobre as análises de relação de troca entre bezerros e bovinos abatidos com 16,5@. Segundo o produtor, cliente da Bigma, um animal de 16,5@ estaria ainda magro ou renderia pouco em termos de carcaça. Sendo assim, pela sua observação, as análises de relação de troca acabariam por subestimar os resultados para os compradores de bezerros e terminadores de boi gordo. Faz sentido! De fato, com base em seu questionamento, uma rápida olhada nos abates de diversas fazendas acompanhadas pela Bigma permitiu concluir que é uma raridade ver animais machos sendo abatidos abaixo das 17@. Na verdade, não encontramos animais abatidos com menos de 17@ numa análise de cinco anos com dados das diversas fazendas componentes de nosso banco de dados. O menor peso encontrado foi o de um lote de semi-confinamento abatido com 17,2@ em 2006. É fato que clientes de uma empresa privada - ou mesmo de várias empresas - não podem ser usados como referência para concluir que haja uma tendência de mercado. Portanto buscamos embasar os dados pela pesquisa trimestral do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nessa pesquisa, o IBGE publica o balanço dos animais abatidos e os pesos totais das carcaças registrados nos estabelecimentos fiscalizados. Observe, na figura 1, a evolução mensal do peso médio de abate de machos no período de 1997 a 2010. Note que o gráfico começa com o peso médio de um boi gordo em torno das 16,5@, peso este que vem aumentando consistentemente ao longo dos anos. Atualmente, o peso médio do boi gordo abatido se mantém acima das 17,75@. O último registro de peso médio abaixo das 17@ foi em outubro de 2005. Mesmo assim, a média ficou em 16,97@ por carcaça. De janeiro a março de 2010 – últimos dados divulgados pelo IBGE – a carcaça média pesou 17,97@, 1,18% a mais do que as 17,76@ registradas no mesmo período de 2009. Portanto, não restam dúvidas de que o peso de abate está aumentando gradualmente. O boi gordo está sendo abatido, na média nacional, em torno das 18@, o que equivale a 1,5 arroba acima do peso tradicionalmente usado nas comparações. É preciso considerar que o momento do abate não é definido apenas pela balança. Há uma análise visual com relação ao acabamento, condição corporal e gordura do animal. Por isso, em termos práticos, os animais vêm sendo abatidos cada vez mais pesados. Mesmo atingindo o peso de balança, o pecuarista percebe que há mais “espaço” para colocar massa. E assim é feito na prática. Ainda assim, vale ressaltar que essa observação não altera as conclusões econômicas realizadas com base na troca do boi gordo de 16,5@. Para analisar indicadores, é preciso estabelecer critérios. Por isso, seja 16,5@ ou 18@, o comportamento analisado sobre a capacidade de compra do produtor será o mesmo. O número pode diferir, mas a comparação permanecerá a mesma. Nessas análises, o que importa é a comparação. Porém, no dia a dia das fazendas o pecuarista precisa levar em consideração a realidade de sua relação de troca. Só assim adotará decisões adequadas com relação aos momentos favoráveis ou desfavoráveis de compra de bezerros. Na figura 2 foi realizada uma comparação entre a relação de troca com base nas 16,5@ e outra com base no peso médio de abate, segundo o IBGE. O peso médio dos meses seguintes a março de 2010 foi estimado aplicando-se o acréscimo de 1,18% sobre o mesmo período de 2009. Observe os resultados. Pelo comportamento ilustrado na figura, confirma-se que não há diferença alguma em termos de tendências e conclusões econômicas para efeitos de análise. Mas as diferenças administrativas dentro de uma propriedade rural são grandes. Em setembro de 2010, por exemplo, estamos considerando uma troca de 2,20 pela metodologia tradicional, contra uma troca de 2,42 pelo critério baseado no peso da carcaça, pesquisado pelo IBGE. Voltando ao caso daquele produtor que incentivou a realização desta análise, o peso médio de abate em sua propriedade é acima de 21@ para animais que passam pelo confinamento. Portanto, são 3 arrobas a mais do que as 18@, segundo os dados do IBGE. Note que o peso mínimo de abate dos animais confinados é 27% acima das 16,5@ usadas como padrão para um boi gordo. Ao ler isso, é provável que venha na cabeça de muita gente aquelas fazendas com bois de quatro a cinco anos, com porte de touros. Mas não é bem assim. O caso em questão é de uma empresa que adota estratégias de suplementação, confinamento e mantém um completo programa sanitário na propriedade. Lotes de 21,5@ em 2010 foram abatidos com 26 meses de idade, passando por pastejo intensivo, suplementação e confinamento. Não foram raras as ocasiões em que este produtor foi criticado pelo peso de seus animais ao abate. Claro que essas críticas não vieram dos frigoríficos, a não ser no caso de compradores que imaginaram se tratar de animais muito erados, e nem de quem conhecia a fazenda. Essa observação toda vai ainda de encontro com uma ideia que tem sido difundida pela Nutron Alimentos. Em diversas palestras e artigos, os técnicos da Nutron analisam a viabilidade de identificar pontos ótimos econômicos para o abate de animais confinados. Dependendo dos animais, tais pontos podem ser com pesos mais leve, em torno das 17@, ou mais pesados acima das 20@. O raciocínio é relativamente simples. Se a relação de troca vem piorando ao comprador, é natural que seja interessante vender bois mais pesados. Na grande maioria dos casos, os bezerros são negociados na “perna” (sem pesagem), enquanto o boi é negociado no peso morto, na balança. Além da questão da relação de troca, os animais zebus bem nutridos crescem mais que os europeus, abrindo possibilidade de colocar mais peso em uma só carcaça. E, por fim, há tecnologia disponível, e economicamente eficaz, para levar este animal a uma carcaça mais pesada. Se é possível e viável, porque não fazer? Voltando mais uma vez ao exemplo do produtor, dentro da média de 2010, houve lotes de nelores inteiros abatidos com 23@, rendimento de carcaça de 55% e ganho médio de 1,8 kg/dia em um confinamento de 70 dias. No caso deste produtor, o custo médio da diária do confinamento ficou em torno de R$5,56 por cabeça, incluindo a dieta e os custos operacionais. Os custos são referentes aos resultados finais, incluindo o consumo dos ingredientes, desperdícios e as não conformidades que ocorrem em todas as empresas. Portanto, não se trata de orçamento ou custo previsto antes do confinamento. É o que de fato ocorreu. A pesagem é feita no dia da entrada, data a partir de quando inicia a contagem do número de dias confinados. Não se desconta o período de adaptação. O ganho de peso médio foi de 1,55kg/dia, e os animais foram abatidos com 20,98@ e 53,5% no rendimento de carcaça. Os bois são pesados pela manhã, antes da primeira distribuição da dieta, e não se aplica o jejum antes da pesagem, o que subestima o rendimento de carcaça. Enfim, nestas condições o custo de produção da arroba no cocho foi de R$73,27. Considerando as arrobas carregadas, ou produzidas anteriormente a pasto, o custo final da arroba produzida foi de R$64,30. Lembramos que se trata de uma empresa com adoção de tecnologia e, consequentemente, com margens líquidas mais reduzidas. Para efeito de comparação, realizamos uma simples simulação. Consideramos os mesmos custos de produção, ganho de peso e dias de confinamento. Variamos apenas o rendimento da carcaça e observamos os seus efeitos nos custos da arroba engordada no cocho. Observe os resultados na figura 3. Sendo assim, o raciocínio que tem sido difundido pela Nutron, e gradualmente por outros técnicos, é consistente. Há uma boa margem para se trabalhar no aumento do peso da carcaça e em sua qualidade. A cada alteração de um ponto porcentual no rendimento de carcaça, houve uma queda média de R$6,30/@ no custo da arroba produzida. Existem explicações nutricionais comparando índices e custos de deposição de músculos e gordura a partir de determinado peso. Não entraremos nos méritos por aqui, mas o fato é que é tecnicamente possível e economicamente viável. Em outras palavras, é interessante aplicar tais conceitos. Os produtores mais atentos já percebam os benefícios dessa prática. Mesmo que em muitos casos não meçam, ou não justifiquem suas ações de maneira técnica, aplicam corretamente o conceito de margem de contribuição. Ou seja, a geração de caixa melhora, na maior parte dos casos, quando se leva o animal até um peso de carcaça superior. Essa prática proporciona maior incremento de recursos na fazenda. Evidentemente que há particularidades mercadológicas que podem favorecer ou desfavorecer a ação. Apesar de ter usado o exemplo de um produtor, as informações das fazendas acompanhadas pela Bigma Consultoria permitem concluir que essa metodologia tem sido adotada pela maior parte dos produtores. Voltando ao conceito da relação de troca, é importante lembrar que os bezerros produzidos pelos criadores deverão acompanhar a tendência do mercado. Se a regra é aumentar o peso final de abate, o bezerro precisará atender a essa exigência. Com isso, a seleção pela força de mercado vai também aumentando o preço do bezerro e pressionando a relação de troca. A resposta tanto na cria, como na recria e engorda, sempre será de ordem tecnológica. No caso aqui discutido, as tecnologias referidas foram as estratégias de nutrição para maximizar o potencial genético de produção de carcaça. Além de ser interessante do ponto de vista econômico, altera a noção de relação de troca em cada propriedade.
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