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Scot Consultoria

Mercado baixista demais


Segunda-feira, 19 de julho de 2010 - 17h22

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


A carne bovina é, em média, a maior parcela no orçamento da dona de casa, como mostra esta imagem abaixo. A cada R$100,00 gastos com carnes, a carne bovina fica com quase R$37,00. Os dados são do IBGE. Para mim isso mostra duas coisas. A primeira é que a carne bovina é a carne número um em preferência nacional, disparada em primeiro lugar. A segunda é que olhando os gastos desse jeito a gente entende a razão da dona de casa ter preferido o frango ao invés da bovina. O impacto no orçamento com uma redução do consumo de carne vermelha é enorme. Seguindo em frente, temos o preço da arroba e as escalas de abate abaixo. Coloquei as informações até ano passado para nos dar uma perspectiva mais ampla do que poderemos enfrentar para frente esse ano. Essa noção é importante. De agora até o fim do ano temos a entrada concentrada de animais a termo e animais confinados. Essas duas situações, uma de modelo de comercialização (termo) e outra de modelo de produção (confinamento) meio que trabalham juntas. Você falando de uma quase que fala da outra também. Mas esse ano isso não é tão assim mais não. Esse ano muita gente “descobriu o Brasil” — passou a ver no semiconfinamento uma opção mais em conta que o confinamento. O semi é um sistema mais conservador, mais barato. Uma parcela de quem estará fazendo ele esse ano é de quem obteve resultados negativos ano passado com o confinamento. Então, não é uma modalidade para a gente deixar passar batida atualmente nesse cenário. Reparando no 3º gráfico abaixo, as escalas de abate em 2010 estão parecidas com 2009. Veremos os preços. E falando sobre os preços, vamos dar uma olhada na previsão do mercado futuro para os próximos meses. Repare que o mercado está esperando que a arroba praticamente não oscile de preços de agora até maio do ano que vem. Ah, por favor, sair de R$83,00/@ para R$85,00/@ não é oscilação. Agora vamos colocar mais uma camada nessa análise. Observe a expectativa do mercado futuro acima. Agora observe a expectativa do mercado futuro abaixo. Abaixo temos os preços futuros na sexta-feira, dia 17 de julho de 2009. Reparou como o mercado estava bem mais altista ano passado do que está esse ano? Ano passado a alta esperada era 6% entre agora e o pico da entressafra. Esse ano a alta esperada é de 2% até o pico. É o que venho dizendo há meses. O mercado está em uma crescente baixista, está a cada dia ficando mais baixista e isso está sendo representado literalmente e financeiramente, por assim dizer, nos preços futuros da arroba. Agora, é importante aqui fazer um paralelo porque há razão do mercado estar altista ano passado. Meados de julho, lá como aqui, foi mais ou menos o pico da arroba no mercado físico. Isso é importante, caro leitor, preste atenção. O mercado físico no decorrer de 2009, na realidade, nunca chegou perto de uma arroba a R$87,39/@ para novembro/09, por exemplo. O máximo que chegou em novembro/09 foi R$76,00/@. O mercado errou em praticamente R$10,00 a precificação da arroba. E errou para cima. O mercado estava otimista. Esse ano, gato escaldado tem medo de água fria? É o que parece. Ninguém está apostando em alta. Nada. Não há nenhum comentário altista. Todo mundo está unido em uma só voz cantando — o mercado é estável para baixa. Ou seja, esse ano estamos passando pelo “8” da gíria “8 ou 80”. Não posso dizer se concordo ou não com isso. Afinal, outubro para mim já é curto prazo, e os leitores mais velhos sabem que não comento nada sobre o curto prazo. Não comento porque não sou bom o suficiente para sentir o cheiro da oscilação assim tão de perto. Meu olhar é sempre um pouco mais longo, mais distante. E distante a gente cai novamente naqueles gráficos que coloquei semana passada sobre reversão à média. Vamos nos ater somente ao gráfico da arroba do boi hoje. Tecnicamente o mercado é altista. Tivemos dois objetivos de baixa completados e a arroba depois disso voltou a subir. Estamos tendo topos cada vez mais altos e picos idem. Não sei não, para mim esse mercado tomou seu tempo necessário para cair. Caiu, fez o seu “dever de casa” ao retirar a expectativa de alta da arroba; desfez estoques e quebrou empresas pelo caminho; consumiu o excesso de animais, especialmente fêmeas, pelo caminho. Acho que ele é agora como um paciente que ficou muito tempo na UTI. Melhorou, passou para uma unidade mais leve de acompanhamento, passou para um quarto para receber as visitas e está com uma cor melhor no rosto agora. Engordou. O seu ânimo melhorou. O médico ficou satisfeito com o resultado do tratamento e está a ponto de liberá-lo do hospital, se você entende o que quero dizer. Mas muita gente que sofreu com ele, chorou quando ele foi para a UTI ainda mantém aquela imagem horrível, dele mal para caramba na cabeça e dizem para si mesmos: “Esquece. Esse daí não sai mais do hospital.” E nunca mais telefonaram para saber notícias do estado de sua recuperação. Então, caro leitor, não. Não compartilho com o sentimento de baixa geral do mercado. Simplesmente não consigo enxergar tanta baixa se até mesmo o preço do frango resolveu subir também. Mas vamos acompanhar a evolução da coisa toda. Como disse, curto-prazo não é muito minha praia. Estou otimista. Não é necessariamente otimista com julho ou agosto ou outubro, caro leitor. Estou otimista com a evolução das coisas, com o desenrolar dos fundamentos da pecuária. O passeio até agora tem sido bom, se você entende o que quero dizer. Estou otimista desde dezembro de 2009 e o mercado está mostrando que minha humilde leitura do cenário geral — ou seja, a dinâmica do ciclo pecuário e leitura técnica dos preços até agora não está tão errada não. Agora deixa eu bater na madeira porque é só a gente falar uma bobagem dessas, é só a gente demonstrar uma pequena alegria para o mercado vir e nos provar errado... mais uma vez. Espero que a alegria desse pobre aqui não dure pouco.
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