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Scot Consultoria

Diferencial de base


Terça-feira, 13 de outubro de 2009 - 10h35

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


O propósito de meus textos é ajudar os leitores na comercialização de gado. Simples assim. Se nós pudermos contribuir para você vender melhor ou comprar melhor seus animais, tanto no mercado físico, quanto no futuro, já nos damos por satisfeitos. Quando digo “um pouco melhor” aqui, obviamente, estou me referindo a ajudar a comprar um pouco mais barato os bezerros e os bois magros e a vender um pouco mais caro os bois gordos. De todo o universo de coisas que a gente fala nesses textos semanais, tem um pedaço de informação com a qual tenho sido negligente nesses anos e que pretendo corrigir essa falha a partir de hoje. A partir de hoje começarei a falar sobre os diferenciais de base entre os preços da arroba dos estados. O que é diferencial de base? É assim — a arroba em São Paulo hoje vale R$80,00 e no Mato Grosso, região de Cuiabá, ela vale R$72,00. O diferencial de base é R$8,00. Ou, melhor ainda, e é o que vou passar a informar, o diferencial de base é esse desconto de 10%, ou para facilitar: a arroba de Cuiabá vale –10% que a arroba de São Paulo. Vamos nos acostumar a utilizar o valor do diferencial de base no dia-a-dia, caro leitor. Sempre que você perguntar a arroba da sua região, pergunte também a arroba de São Paulo e calcule o diferencial de base de cabeça ou na sua calculadora. Por que essa informação é tão importante? Porque essa diferença de preços entre a arroba de sua região e a arroba de São Paulo não é constante durante o ano. Ela oscila, e essa oscilação pode prejudicar muito o seu negócio, especialmente se você trabalha na bolsa comprando ou vendendo boi gordo para melhorar seus negócios. Se a base variar, ela pode significar a diferença entre o lucro ou o prejuízo, especialmente e primordialmente em confinamentos, onde a margem é estreita em relação à engorda no pasto. Abaixo coloco o gráfico 01 dos últimos anos. A arroba de São Paulo é representado pela linha mais grossa e os outros estados pelas outras linhas. Neste momento não é importante saber quem é quem nessas linhas, mas sim notar que em todo o Brasil a arroba é negociada ABAIXO da arroba de São Paulo. Você olhou para o gráfico? Notou como a arroba do resto do país oscila abaixo da arroba de São Paulo? Beleza. O acompanhamento dessa informação é muito importante, pois nos deixa alerta para abusos na tentativa de alargar muito essa diferença entre os estados. O que quero dizer com isso? Lembram-se quando disse que a diferença de preços entre os estados não é constante? É assim mesmo que funciona, porém, mesmo não sendo constante, essa diferença não é louca — ela segue certos patamares, certos limites de oscilação. Ocorre que em determinados momentos existe uma tentativa de forçar a barra sobre esses diferenciais de base. Por exemplo, vamos supor que em uma região a média do diferencial de base de outubro é –10%, mas daí você liga para o frigorífico para saber os preços e nota que hoje o cara tenta te comprar a –14%. Poxa, aí não dá, né? Só se realmente o mundo estiver acabando ou algum problema de excesso de oferta na sua região para o diferencial se alargar tanto assim. Senão, a melhor alternativa é esperar para a diferença entre os dois voltar a –10%. É assim que funciona a negociação em cima da base. Aliás, os confinadores que lêem este texto deveriam ter isso como regra na hora de negociar junto aos frigoríficos para quem eles fornecem. Se você vende uma grande quantidade de animais confinados é provável que já tenha um preço especial, um preço negociado diferente junto ao frigorífico, que envolve alguma coisa nesse sentido. É bom ficar de olho nessas bases. Agora que a gente tem a noção do que é diferencial de base, deixe-me simplificar a coisa. Vamos mostrar aqui o gráfico 02 abrangendo o Brasil Central e que envolve as arrobas dos estados ao redor de São Paulo e mais alguns estados. É importante dizer aqui que a escolha dos estados para montar esse gráfico fiz com base na tese de doutorado da Fabiana Perobelli, gerente dos produtos agrícolas da BM&FBovespa. A Fabiana é uma das pessoas que mais entendem de mercados futuros agrícolas no Brasil e gentilmente me enviou seu profundo e coerente estudo sobre a pecuária brasileira entitulado: “A Cadeia da Carne Bovina no Brasil: Uma Análise de Poder de Mercado e Teoria da Informação”. Gráfico 02. Diferença de Base Brasil Central vs. Indicador Esalq/BM&F São Paulo - 2004 a 2009 (Brasil Central: Dourados, Campo Grande, Três Lagoas, Rio Verde, Goiânia, Noroeste do Paraná, Cuiabá e Triângulo Mineiro) Pelo que pude entender, nem todos os estados reagem igualmente à oscilação da arroba de São Paulo. Isso tem a ver com distância e peculiaridades regionais, mas o que importa para nós é que EXISTEM estados que compartilham de características de mercados que têm São Paulo como referência. Nos outros estados a relação não é tão forte assim. Neste gráfico coloco somente o time em que o técnico é o estado de São Paulo. Três coisas principais que esse gráfico está mostrando: 1. No Brasil Central a arroba oscilou nos últimos seis anos entre 5% e 12% abaixo de São Paulo; 2. O diferencial de base piora (sai de –5% para –10%, por exemplo) quando tem bastante oferta de boi. Isso normalmente ocorre na safra, porém tem ocorrido na entrada dos bois confinados também; 3. Em 2009 tivemos a pior base dos últimos anos. Mas vamos parar por aqui. Não quero esgotar esse assunto em apenas um texto. Muito pelo contrário. O diferencial de base irá nos acompanhar de agora adiante sempre que for falar em preço de arroba de outros locais que não seja São Paulo. Então, quando for me referir ao preço de Dourados na Movimentação do Mercado, abaixo, vou passar a colocá-lo assim: Dourados R$74,00 (Base –7,5%). Isso quer dizer que o preço de Dourados ficou 7,5% abaixo do preço da arroba de São Paulo naquela semana. “Rogério, porque você não coloca também o diferencial de base em reais?” Porque colocar o diferencial de base em reais pode nos dar a impressão errada de valores, caro leitor. Por exemplo, em 1995 a arroba em São Paulo chegou a valer R$20,00 e a arroba em Dourados valia R$18,00. O diferencial de base entre os dois era de R$2,00, certo? Isso quer dizer que hoje também deveria valer R$2,00 a diferença? Em Dourados a arroba deveria valer R$78,00 porque em São Paulo está valendo R$80,00? Não. A arroba de Dourados a R$18,00 e a de São Paulo a R$20,00 foi um diferencial de base de 10%. Se esse diferencial se mantivesse até hoje, os mesmos R$2,00 de lá atrás hoje valeriam R$8,00 para se manter os mesmos 10%.
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