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Scot Consultoria

Existe preço justo para a arroba?


Terça-feira, 8 de setembro de 2009 - 16h15

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Tenho lido comentários mais ou menos assim. "A concentração do mercado faz derrubar os preços da arroba." Normalmente esses comentários aparecem nas fases de baixa e, é claro, a reclamação vem dos produtores após terem visto a arroba caindo –19,9% do pico a R$94,41 (jun-08) até os R$75,61 da última sexta-feira (04/09). A ironia é que na fase de alta não se ouvia reclamação desses mesmos produtores, quando a arroba subiu +95,7% de 2006 a R$48,25 até atingir o pico lá em 2008 a R$94,41. Mas não quero ser preconceituoso. Não, não. Assim como uma parte dos leitores, quem lhes humildemente escreve esses textos também tira integralmente o seu “pão de cada dia” da engorda de boi. Não penso que haja mercado eficiente na formação de preços. Quem acredita que os preços hoje estejam ruins é porque acredita que exista um preço justo para a arroba. Obviamente, isso é uma ilusão. Não existe um preço justo, correto para a arroba, assim como não existe um preço de custo unificado entre os produtores. Os preços estão baixos, concordo, mas muita gente ainda ganha dinheiro nesses níveis de preços. É nesse ponto que erram os que reclamam dos preços atuais da arroba. Os preços das commodities são formados na margem, isto é, normalmente o preço é o bastante para cobrir os custos da produção e um pequeno lucro para o produtor mais eficiente (eficiente = que produz mais barato). E, caso ocorra alguma situação de stress de oferta, uma alta temporária dos preços maior que isso. A precificação de commodity não é pensada para fazer o produtor ganhar na unidade, mas sim no volume. A ironia é que esse é o principal problema da produção agrícola - não há ganho de escala. Os custos fixos e variáveis aumentam proporcionalmente ao volume, e não o contrário de outras commodities. É uma pena. Não concorda comigo? Só para lembrar, algumas vezes o produtor esquece que ele também derrubaria os preços de sua matéria-prima se ele tivesse oportunidade. Por exemplo, se existir uma oferta abundante de touros, o criador forçará ainda mais a queda; se houver oferta abundante de bezerros, o recriador/invernista barganhará para comprar mais barato. Então, por que quando há uma oferta abundante de bois gordos (ou uma demanda abaixo da oferta existente, o que dá na mesma) o frigorífico, concentrado ou não, paga mais pela arroba? Quando você vai comprar sua calça jeans, você dá uma gorjeta de R$100,00 para o vendedor porque ele foi legal? É óbvio que não — você irá forçá-lo a cortar na carne para te dar desconto, diminuindo a margem de lucro dele. Mas você ficou feliz por ter comprando mais barato, não é? Então, por que a regra de oferta x demanda pode funcionar com o resto do mercado, mas não no mercado de boi? Por que um frigorífico pagaria mais pela arroba se ele tem oferta abundante de gado? Não sejamos hipócritas, caro leitor. Eu acreditava em Papai Noel até os dois anos de idade. Hoje não acredito mais. Até o outro argumento de que a concentração amortece a alta é meio capenga. É só pegar o exemplo da soja atualmente (gráfico 1). Quem domina o mercado de soja? Cargill, Bunge, ADM, Louis Dreyfus, Glencore, só para citar alguns. Mesmo assim, os preços atuais da commodity estão mais altos que os picos históricos. Não quero defender nenhum dos lados, pois obviamente não sou o dono da verdade. Só acredito que a noção de oferta x demanda é mais profunda e sutil do que as pessoas pensam e, por descuido (na realidade queria dizer agenda), acaba sendo utilizada nas horas que "interessam" e educadamente descartada nas horas que incomodam. Acorde, caro leitor! Não deixe que o pensamento de outras pessoas interfira no seu próprio raciocínio. Mudando de assunto. Observe o gráfico 2. Hoje a arroba vale R$75,61. Em maio do ano que vem vale R$77,20. A arroba para a safra está valendo mais do que a arroba de hoje. Isso significa uma coisa: é hora de parar de vender boi. Enquanto permanecer essa situação, se você tiver bois de 16@ a 18@ é preferível segurá-los no pasto e abater em maio de 2010 do que agora. É hora de parar as vendas, caro leitor. Parar de vender, segurar o gado até que esses preços atuais subam e fiquem mais “caros”. Observe as tabelas 1 (arroba agora em setembro) e 2 (arroba em novembro) e veja os possíveis cenários de preços para você ficar atento na hora de vender o gado.
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