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Scot Consultoria

Euforia e receios


por Otaliz

Terça-feira, 28 de agosto de 2007 - 08h32

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


Os produtores leiteiros da região Noroeste do Rio Grande do Sul estão eufóricos. Nunca os valores recebidos por litro de leite estiveram tão elevados. De fato, o aumento das exportações de lácteos, aliado a queda da produção em outras regiões, acirrou de forma acentuada a disputa entre as empresas compradoras. Há poucos meses os preços recebidos pelos produtores variavam entre R$0,36 e R$0,45 por litro. Atualmente, o preço médio está entre R$0,65 a R$0,70, sendo que há produtores recebendo R$0,85 e, segundo alguns relatos, até mais. Ressalte-se que as quatro grandes empresas de laticínios que estão se instalando nesta região ainda não entraram em operação e, portanto, não estão aquecendo o mercado comprador. A perspectiva de atuação dessas novas empresas está gerando fantasias na imaginação de muitos produtores e temores na de outros. Imaginam os primeiros que a entrada dessas novas empresas no mercado comprador vai elevar ainda mais os preços pagos aos produtores. Ledo engano! Essas grandes empresas estarão voltadas fundamentalmente para o mercado externo e, para participar desse mercado, terão que apresentar preços competitivos. São as características climáticas e a qualidade do solo desta região que permitem a produção de pastagens de boa qualidade, bem como de grãos, tanto no inverno como no verão, possibilitando a produção de leite com baixos custos, que estão despertando o interesse dessas grandes indústrias. Dentro desta perspectiva, os produtores mais eficientes em termos de produtividade, qualidade do leite e escala de produção é que serão objetos de disputa dessas empresas. E aqui surgem os primeiros temores de alguns produtores, sindicatos e analistas do mercado de leite desta região. Como irão se inserir nesse novo mercado as pequenas propriedades de exploração familiar? Outra questão: a tendência, segundo alguns alarmistas, é que a exploração leiteira migre para as médias e grandes propriedades, abaladas pelas constantes frustrações das safras de soja, até então considerada o carro-chefe da economia primária desta região. Não acredito nessa tendência. Neste Estado a exploração leiteira sempre foi uma atividade típica das pequenas propriedades. Tanto é verdade que as nossas bacias leiteiras, em sua totalidade, estão localizadas nas regiões coloniais, onde há o predomínio absoluto de unidades de produção de exploração familiar com tamanho médio de 20 ha. Raras são as propriedades com maior extensão de terras que se dedicam à exploração leiteira. E isto tem uma lógica – a atividade leiteira, por suas características, exige um trabalho intensivo e ininterrupto ao longo do ano, além de demandar cuidados especiais, uma forte interação entre as pessoas e os rebanhos e um espírito comunitário que possibilite o rateio de investimentos entre grupos de produtores. Estes procedimentos estão profundamente arraigados à rotina das famílias coloniais. Por outro lado, exigir que esses procedimentos sejam exercidos com o mesmo desprendimento e dedicação por mão de obra contratada não é tarefa fácil. Por isso tenho convicção de que a atividade leiteira que irá dar suporte às grandes empresas que estão chegando continuará tendo nas pequenas propriedades de exploração familiar o seu eixo maior. Mas... Mas será necessário um intenso e acelerado trabalho no sentido de profissionalizar esses pequenos proprietários. Tecnologia temos de sobra, mas o velho problema é que desde há muito tempo existe um enorme hiato entre os órgãos de pesquisa e as empresas ligadas à extensão rural e à assistência técnica. Incorporar a tecnologia existente na rotina das pequenas empresas rurais e gerar novas pesquisas que realmente atendam as verdadeiras demandas desse meio constitui-se hoje num enorme desafio. Mas também por aí estão chegando boas notícias para esta região. Voltaremos a este tema na próxima edição.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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