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Scot Consultoria

Planejamento do processo de ensilagem


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Quinta-feira, 27 de novembro de 2008 - 23h31


Nos sistemas intensivos de produção de bovinos de carne e leite, o uso de volumosos conservados, na forma de silagem, é de fundamental importância quanto aos aspectos relacionados a um manejo racional, na conservação e na sustentabilidade das áreas pastoris perenes da propriedade, e ao uso estratégico da suplementação com concentrado em determinados períodos do ano, visando à maximização de taxas de ganho de peso e/ou de produção de leite dos animais. SILAGEM NA NUTRIÇÃO ANIMAL A utilização de silagem na dieta dos animais representa uma tecnologia que tem contribuído significativamente para incrementos nos índices produtivos e reprodutivos do rebanho bovino e na redução dos custos de produção e operacionais do setor. Aspectos ligados ao setor de produção, de conservação e de manutenção do valor nutritivo da silagem notadamente são ignorados pelos produtores. Para que a produção de silagem em uma propriedade rural seja eficiente e lucrativa, o produtor precisa primeiro conhecer as técnicas corretas de ensilagem, para então fazer um planejamento da área de plantio, o dimensionamento correto do silo, a logística de colheita e o enchimento dos silos. Com relação ao processo de ensilagem propriamente dito, que corresponde à fase de plantio e cultivo da forrageira escolhida, corte, transporte, enchimento e vedação dos silos, os produtores devem tomar alguns cuidados, que serão descritos a seguir, para evitar desperdícios e manter a qualidade nutricional do material. CUIDADOS NO PROCESSO DE ENSILAGEM Organize antecipadamente equipamentos e materiais utilizados na confecção do silo: ensiladeiras, carretas, ferramentas para descarga manual, lonas para fechamento, limpeza do silo ou da área onde será feito. Isso se chama planejamento; Verifique o estado das facas da ensiladeira, se desgastadas, troque-as. Afie-as e faça a regulagem da distância entre os conjuntos de facas de corte antes, e todo dia durante o processo, conseguindo-se com isso um tamanho ideal das partículas durante todo o processo, de 6 a 15 mm, que propiciará uma perfeita compactação e total aproveitamento pelos animais no cocho. Quanto mais seco estiver o material, maior deve ser essa preocupação, já que o corte e a compactação serão mais difíceis. Verificar a compatibilidade entre a máquina utilizada e a potência do trator a ser utilizado. São raras as propriedades que fazem manutenção e controle de uso de máquinas eficientes, principalmente nas pequenas e médias. Também é muito comum a observação de grãos inteiros nas fezes de animais alimentados com silagem de milho e de sorgo, sendo que parte deste problema está ligado ao estágio de maturação dos grãos, mas os ajustes na máquina também são responsáveis por estes tipos de perdas. Portanto, durante a ensilagem destas culturas, a maioria dos grãos deverá sofrer pelo menos uma fragmentação, decorrente da ação mecânica das facas do equipamento; Trabalhe com equipe de operadores de máquinas e mão-de-obra treinada. Realize ao mesmo tempo o corte, transporte e compactação. Considere a alternativa de fazê-las mais rapidamente com mutirões entre vizinhos ou aluguel de máquinas. A associação entre produtores precisa se tornar uma prática mais comum, desmistificando a questão prática do cooperativismo e do preconceito de que pequenos produtores não sabem trabalhar em equipe. A valorização da mão-de-obra é fundamental, já que é comum comprarmos tratores caríssimos, mas investimos muito pouco no treinamento do operador e na sua valorização salarial; Fique atento à “hora certa” de cortar o milho, sorgo ou outras forrageiras (capim e cana-de-açúcar). Para culturas de milho e sorgo, o ponto ideal de colheita é quando a planta possui 30-35% de matéria seca ou 65 a 70% de umidade. Para a cultura do milho, ... este estágio é geralmente atingido quando a linha do leite está entre 1/2 e 2/3 do grão. No entanto, a correlação entre linha de leite e % de MS seca da planta de milho não é muito grande. Existe uma grande variação entre híbridos e anos de plantio e ela serve como uma referência prática. Portanto, a melhor maneira de se determinar o ponto adequado de colheita do milho e sorgo é através da determinação da matéria seca (MS) de umidade, utilizando-se, por exemplo, microondas ou aparelhos de medição de umidade como o Koster. Vale frisar que, posteriormente à escolha da cultura que será utilizada, deve-se planejar a produção pelo escalonamento da semeadura que, deverá ser realizado de acordo com a perspectiva de colheita para não coincidir com dias chuvosos, evitando problemas no manejo; ENCHIMENTO E COMPACTAÇÃO Os processos de enchimento e compactação devem ser feitos de forma a distribuir por todo o silo camadas uniformes de espessura média ao redor de 20 a 30 cm e o tempo de compactação deve ser de 1 a 1,2 vezes o turno de colheita. O tempo de confecção dos silos deve ser o menor possível, minimizando perdas por exposição ao ar, portanto, em se tratando de silos de superfície deve-se optar por vários silos menores ao invés de um maior. Esse manejo facilita a compra de lonas, evitando emendas e minimizando perdas no desabastecimento do silo. Estas camadas devem ser espalhadas de forma a ficarem inclinadas em direção à entrada do silo ou porta. A compactação deverá ser feita através de passagens consecutivas com o trator sobre a massa já distribuída. O objetivo desta compactação é a expulsão do ar, controlando a respiração, a elevação da temperatura, favorecendo a ação das bactérias produtoras de ácido láctico e um rápido abaixamento do pH do material ensilado. FECHAMENTO DO SILO A contribuição mais expressiva da etapa de vedação do silo está em evitar a penetração de ar do ambiente externo para o interior. A vedação consiste em não permitir a entrada de ar e é feita através da cobertura do silo por uma lona, e posterior colocação de uma camada de terra. As lonas pretas, comumente usadas nas fazendas, têm trazido problemas como rasgos, furos em pouco tempo após o silo ter sido fechado, entre outros. Por isso, lonas de dupla face têm dado um melhor resultado. Além disso, têm a vantagem de refletir o calor, o que ajuda a não esquentar o material ensilado. As lonas a serem utilizadas devem ter 200 micras ou mais, para que possam durar mais tempo. Outro ponto importante é cobrir a lona com terra, restos de capins e pneus, pois ajudam a proteger a lona contra os raios solares que podem danificá-la. ... a melhor maneira de se determinar o ponto adequado de colheita do milho e sorgo é através da determinação da matéria seca (MS) ... Outra relevante operação é cercar os silos com cerca de arame e tela para proteger as lonas de possíveis animais que possam furá-la como tatu, galinha, cachorros e o próprio rebanho que pode se soltar e subir sobre os silos. O abaulamento contém cerca de 20% do volume da massa ensilada na seção trapezoidal e auxilia no escoamento de água de superfície precipitada sobre o silo. Outro ponto importante que justifica se fazer o abaulamento é devido ao fato de que alguns dias após o fechamento do silo o material diminui o volume, o que pode levar ao acúmulo de água sobre a lona; ABERTURA DO SILO O dimensionamento errôneo de um silo e o desabastecimento incorreto prejudicam todo o processo de confecção da silagem. A forma como o ar entra no perfil do silo pode aumentar a deterioração, portanto deve-se retirar a silagem de cima para baixo de todo o perfil frontal do silo com a maior fatia diária possível. Ao abrir o silo, em primeiro lugar deve-se observar o aspecto da silagem e se houver presença de porções com mofos, bolores, coloração muito escura e cheiro desagradável, estas devem ser descartadas. Outro cuidado que deve ser criteriosamente observado refere-se à espessura da camada de silagem retirada diariamente e essa não deve ser inferior a 20 cm, pois dessa forma a retirada da silagem caminha mais rápido que a penetração de ar entre as partículas. Um correto dimensionamento dos silos e a adequada escala de produção evitam grande parte das perdas citadas anteriormente, sendo então o planejamento a fonte mais barata para otimizar a produção de silagens em qualquer propriedade. A quantidade de silagem necessária para o ano, levando em conta o número de animais a serem alimentados (jovens, adultos, secos e em lactação); o período do ano em que se queira tratar (número de dias) e a quantidade média de silagem diária em cada lote, devem ter sido discutidos previamente para que não haja falta e nem excesso de silagem produzida. A falta pode implicar em mudanças bruscas nas dietas e perda de produtividade, e o excesso leva ao custo maior de armazenamento. Uma silagem pobremente fermentada poderá levar a uma baixa performance animal, em razão da queda na qualidade e da baixa ingestão. Quando ocorre atuação de microrganismos indesejáveis poderá haver alta concentração de produtos como álcool, ácido acético, ácido butírico e aminas, que afetam a aceitabilidade das silagens pelos animais e, em conseqüência, a ingestão, prejudicando a resposta animal. Na Tabela 1 são apresentadas as principais variáveis que devem ser consideradas na avaliação da qualidade de fermentação de forragens ensiladas e, conseqüentemente, determinam, em parte, o valor alimentício das silagens. Os investimentos financeiros aplicados no processo de planejamento e execução de lavouras para silagem podem ser desperdiçados, caso a ensilagem não seja feita corretamente. Diante do que foi exposto, é de grande relevância ressaltar que o planejamento das atividades dentro da fazenda e a execução cuidadosa do plano estabelecido, evitando-se falhas e equívocos, constituem-se no princípio fundamental para o desencadeamento do processo de gestão de qualidade. A técnica de conservação de forragens na forma de silagem não foge deste raciocínio, pois envolve cultivo, colheita, transporte, armazenamento e distribuição, requerendo investimentos em instalações, máquinas e implementos. Dessa forma, a forragem conservada é de alto custo e risco, devendo ser planejada de modo que a relação custo/receita seja favorável dentro do processo produtivo. ricardo dias signoretti é engenheiro agrônomo, doutor em produção animal, pesquisador científico/ apta colina-sp e consultor da coan consultoria.
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