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Os desafios do líder de um mercado em retração

Os desafios do líder de um mercado em retração


Ampliar as vendas de suco não concentrado para mercados maduros como os Estados Unidos e a União Europeia, explorar melhor os mercados de bebidas mais baratas em países emergentes como China e Índia, incrementar os embarques das frutas in natura, elevar a aposta no desenvolvimento do mercado doméstico de suco concentrado ou não e lembrar aos consumidores mais jovens em todas as fronteiras os benefícios à saúde que os produtos da cadeia podem proporcionar. Essas foram algumas sugestões apresentadas no seminário "Desafios da Citricultura Brasileira", realizado pelo Valor ontem em São Paulo, com a presença de quase 500 representantes de citricultores e indústrias de suco. São saídas e alternativas discutidas em um contexto de contínua queda da demanda global pelo tradicional suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ, em inglês) e que, nos últimos anos, por seu reflexo nos preços da fruta e da commodity, deteriorou as relações entre produtor e empresa. Apresentado logo no início do evento, o estudo "O retrato da Citricultura Brasileira", coordenado por Marcos Fava Neves, professor da FEA/USP e fundador do Markestrat - Centro de Pesquisa e Projetos em Marketing e Estratégia, mostra que o que está em jogo não é pouco. O PIB do setor citrícola alcançou US$ 6,5 bilhões em 2009, o número de empregos diretos e indiretos chega a 230 mil e as exportações totais de suco de laranja deverão alcançar US$ 2 bilhões em 2010, elevando para cerca de US$ 62 bilhões o valor dos embarques desde 1962, quando o país começou a dar as primeiras braçadas no mercado internacional. Mas os desafios também não são. Em um grupo de 40 países que absorve 99% das exportações brasileiras, em um intervalo de seis anos durante o qual a população cresceu 5%, o PIB aumentou 51% e o PIB per capita subiu 43%, o consumo de suco recuou 6%, diz Fava Neves. Com os países desenvolvidos liderando o tombo e os emergentes ainda sem força para compensá-lo. Além disso, só em 2009 o Brasil pagou R$ 518 milhões em tarifas nas exportações de suco, o que mostra que o protecionismo ainda é grande. Tendência de alta de preços internacionais como a atual, portanto, apenas com problemas na oferta, como São Paulo e Flórida, que reúnem os dois maiores parques citrícolas do mundo, nesta ordem, tiveram na safra 2010/11. "No consumo e na distribuição do suco de laranja brasileira nos mercados consumidores, as notícias não são boas. O consumo está em queda e a distribuição é concentrada. Nos dez maiores mercados do suco brasileiro, as cinco maiores redes varejistas dominam mais de 50% das vendas. Em alguns mercados, as marcas próprias representam também mais de 50% das vendas", diz Fava Neves. Antes do varejo, no envase, a concentração também é alta. Nos EUA, quatro dominam 75% do mercado; no Reino Unido, o quarteto dominante representa 84%. Na cadeia produtiva, as envasadoras estão entre as exportadoras e o varejo. Daí porque as grandes indústrias exportadoras radicadas no Brasil - as nacionais Cutrale, Citrosuco e Citrovita, além da francesa Louis Dreyfus - costumam afirmar que a concentração também nesta frente foi inevitável. Citrosuco e Citrovita inclusive negociam uma fusão das operações, em conversas aprovadas pelo Cade com todas as limitações possíveis até o julgamento final. "A citricultura está em uma grande fase de transformação. Essa transformação começou há cerca de sete anos atrás e ainda levará dez ou 15 anos para se consolidar", disse ao Valor José Luis Cutrale, presidente de conselho de administração da empresa fundada por seu pai. Segundo ele, a transformação começa com a modernização dos viveiros, hoje telados por causa de ameaças fitossanitárias, passa pelo plantio, com adensamento e uso de irrigação, e chega à modernização das indústrias, onde sistemas eletrônicos dominam. A partir daí alcança a distribuição e chega à promoção ao consumidor. "As coisas não estão tão ruins. Na próxima década, teremos mais 1 bilhão de habitantes, e eles vão ter que se alimentar. Mas há muito o que fazer", disse Cutrale. Nesse sentido, e com a queda da demanda e as oscilações de preços, a empresa e suas concorrentes participam dos esforços mediados pelo secretário da Agricultura de São Paulo, João Sampaio, para a criação de um novo ambiente de negociações sobre os preços de fornecimento da fruta para a produção da bebida. O novo Consecitrus, como esse ambiente vem sendo chamado em alusão ao Consecana, que reúne canavieiros e usinas, voltará à pauta na semana que vem na secretaria. Há disposição para negociar, mas muitas divergências ainda são colocadas como obstáculo, como o futuro das investigações antitrustre sobre a formação de um suposto cartel entre as grandes indústrias no passado recente. Sampaio insistiu que o Consecitrus não discutirá só preços e que divergências poderão ser tratadas nos fóruns adequados. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), representa as indústrias exportadoras. Pelo lado dos produtores, três entidades atuam no processo: Sociedade Rural Brasileira (SRB), que apoia a criação do Consecitrus, a Federação da Agricultura dos Estado de São Paulo (Faesp), que é favorável, e a Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), que tem críticas e até agora mostrou-se contrária. Fonte: Valor Econômico. Por Fernando Lopes. 21 de outubro de 2010. << Notícia Anterior Próxima Notícia >>
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