O avanço técnico na criação e a demanda crescente evidenciam a falta de organização do sistema de produção de carne de ovinos
O município de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, não figura entre os maiores produtores de ovinos no Brasil. Não concentra sequer parcela significativa do rebanho paranaense. Ainda assim, é um retrato da contradição que vive o setor no Brasil. A poucos quilômetros da Cabanha Canan, que abriga dois dos melhores reprodutores e a segunda melhor fêmea da raça Santa Inês do estado, de acordo com o ranking estadual de 2010 da Associação Paranaense de Criadores de Ovinos (Oivinopar), existe um frigorífico que começou a ser construído há mais de um ano, mas que permanece desativado.
A estrutura, que terá capacidade para abater entre 1 mil e 2,5 mil cordeiros por ano, está quase pronta. Para começar a funcionar, falta a câmera fria, obra que exigirá investimento de R$ 23 mil e deve ser concluída até o fim do ano, segundo o secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Turismo de Piraquara, Gilmar Clavisso. Até agora, o complexo agroindustrial onde está o frigorífico já recebeu investimento de R$ 3,5 milhões. Os recursos foram obtidos pela prefeitura através de medidas compensatórias pela construção da barragem Piraquara II.
Para o criador Marcos Canan, da Cabanha Canan, o exemplo de Piraquara reflete uma atividade com potencial subestimado no Brasil. Ele entende que não há investimentos em frigoríficos porque não existe escala e não há produção suficiente porque a demanda é instável.
Mas, para conseguir um lugar ao sol em um mercado tão restrito é preciso eficiência, destaca. Há três anos, Marcos decidiu transformar em negócio a propriedade de lazer familiar de 17 hectares em Piraquara. Hoje, além dos reprodutores, engorda de 50 a 100 cordeiros para abate por ano. Mas quer ir mais longe. “Minha meta é entregar 50 animais por mês, quem sabe girar até mais de mil por ano”, planeja.
Marcos reconhece que a produção e consumo de cordeiro no Brasil é uma questão cultural e de hábito alimentar. Ele acredita, porém, que a atividade tem espaço para crescer e conquistar o paladar do brasileiro, que consome em média 700 gramas de carne de cordeiro por ano, menos da metade que os vizinhos argentinos, com 1,5 quilo per capita, e 56 vezes menos que os neozelandeses, maiores consumidores do mundo, com cerca de 40 quilos por habitante. Ainda assim, o Brasil depende das importações.
Segundo a Associação Paulista de Criadores de Ovinos, para abastecer o mercado interno seriam necessários 8 milhões de cordeiros por ano. Hoje, o Brasil ocupa a singela 18.ª colocação no ranking mundial de criação de ovinos, com um rebanho de cerca de 16 milhões de cabeças. Os animais ficam prontos para abate entre 2 e 4 anos de idade, o que indica que a criação poderia dobrar de tamanho.
No mercado internacional, a carne de ovino vive dias de euforia. Os preços do cordeiro atingiram os índices mais altos dos últimos 37 anos, segundo o índice da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Mas, no Brasil, sem uma cadeia produtiva organizada, o setor fica à margem dessa bonança.
Fonte:
Gazeta do Povo. Por Luana Gomes. 12 de outubro de 2010.
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