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Novo presidente da Aprosoja defende renegociação de dívidas do produtor


Sexta-feira, 20 de maio de 2016 - 05h30

A recém-encerrada colheita da safra 2015/16 de soja bateu novo recorde, mas não sem impor arranhões a alguns produtores, e feridas mais profundas a outros. Um emaranhado de problemas climáticos e de crédito tolheu ganhos e agravou o endividamento de parte do setor ­ ainda que o dólar em alta tenha compensado os preços internacionais mais baixos da commodity. O fato é que são crescentes os temores com o próximo ciclo 2016/17, e é nesse contexto que Marcos da Rosa, agricultor de Canarana-MT, assume hoje a presidência da Aprosoja Brasil, associação que representa doze mil produtores e é uma das mais influentes do agronegócio nacional.


"O produtor está sem condições de fazer a nova safra, ficou totalmente descapitalizado. A grande decisão desse momento é não inibirmos o produtor a produzir na próxima safra, e precisamos do governo", diz Rosa, gaúcho de Passo Fundo e formado em agronomia.


O custo médio para um hectare de soja ressalta ele, ficou em 42 sacas nesta temporada, mas houve rendimentos bem abaixo disso, devido à escassez de chuvas em importantes regiões de cultivo, de Mato Grosso à mais jovem fronteira do "Matopiba" (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). E a chance de preços mais elevados em 2016/17, diante de uma oferta global possivelmente mais apertada, alivia pouco a situação do produtor já que os custos tendem a crescer na mesma proporção, afirma.


A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o país vai encerrar 2015/16 com uma colheita de 96,90 milhões de toneladas de soja, mas as projeções iniciais superavam 100,00 milhões. Há obstáculos climáticos inclusive na safrinha de milho, que os produtores plantam após colher a soja. "Mesmo quem plantou na janela ideal teve problema de falta de chuvas. Mato Grosso já vendeu 65,0% do milho safrinha que deve colher e não vai ter todo o volume pra entregar", adverte Rosa.


A forte oscilação da moeda americana ante o real a partir do segundo semestre de 2015 também prejudicou o setor. "Aqueles endividados em dólar, a dívida quase triplicou", lembra o dirigente, que defendeu a necessidade de intervenção federal. "Precisamos do governo para a prorrogação do pagamento de empréstimos feitos com recursos do crédito oficial, porque muitos não conseguirão saldar dívidas pela baixa produtividade. E estamos sentindo que o governo está entendendo o problema".


Rosa ressalta que parte dos bancos já tem prorrogado as dívidas de custeio por cinco anos, baseados nas regras do Manual do Crédito Rural (MCR), do Banco Central. Também há uma movimentação das tradings para os casos de quem não conseguiu todo o volume de soja prometido, trocando contratos para o próximo ano, ou "entregando o que tem". "Isso já foi um alívio. Agora, o que temos que procurar resolver com o novo ministro é sobre aqueles que não conseguirem as renegociações".


O presidente da Aprosoja mostra entusiasmo com Blairo Maggi (PP-­MT), que sucedeu a senadora Kátia Abreu (PMDB­-TO) no comando da Agricultura. Para ele, Blairo tem "outra visão, foi governador, é produtor, tem empresas no agronegócio, sabe onde estão os erros cometidos no passado e como se conserta".


Sobre a logística, pedra no sapato do setor há anos, Rosa ressalta o importante avanço dos investimentos na saída pelo Norte do país. Também vê com bons olhos a reorganização do mapa das tradings, com o ganho de força de empresas nacionais de originação e um rearranjo das estrangeiras, com uma maior aproximação dos chineses. "Mais concorrência é sempre melhor", diz. 


Nem a dependência dos chineses, que importam quase 80,0% da soja produzida no país, é encarada negativamente. "Os chineses foram entrando e viabilizando nossa vida de produtor de soja. A Ásia em geral está se tornando grande consumidora e não conseguirá produzir lá dentro. Então, vejo como uma coisa positiva", conclui. O mandato de Rosa na Aprosoja Brasil é de dois anos.


Fonte: Valor. 19 de maio de 2016



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