Rússia habilita mais de 80 plantas brasileiras de carnes

O governo russo deverá anunciar hoje a permissão para que mais de 80 unidades produtoras de carnes brasileiras exportem à Rússia. As informações foram antecipadas ontem pelo ministro da Agricultura, Neri Geller, ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.

A medida acontece um dia depois de Moscou ter anunciado embargos às importações de alimentos e outros produtos dos EUA e União Europeia numa resposta às sanções econômicas que lhe foram impostas por conta da crise geopolítica na Ucrânia, que se agravou após a derrubada de um avião comercial em julho na fronteira com a Rússia.

Segundo o ministro, técnicos da pasta estão voltando da Rússia onde passaram os últimos dias finalizando as negociações. Ele informou que a maior parte das unidades autorizada irá vender pela primeira vez à Rússia. O ministério ainda não tem o número exato de unidades.

Associações que reúnem os exportadores de carnes, como ABIEC (carne bovina) e ABPA (aves e suínos) informaram, porém, que as unidades agora autorizadas a exportar haviam sido impedidas de embarcar no passado à Rússia por conta de restrições sanitárias impostas por aquele país. Isso ocorreu, por exemplo, por conta da detecção do promotor de crescimento ractopamina em carregamentos de carne bovina do Brasil. O uso do produto é proibido pela Rússia.

Dentre os estabelecimentos que poderão exportar estão 27 de carne bovina, 31 de miúdos bovinos (nesse caso, existem SIFs em comum habilitados para os produtos in natura e miúdos), 25 de aves, quatro de suínos e dois de lácteos. Em outra informação que diverge da fornecida pelas associações, o Ministério da Agricultura disse que por volta de 31 estabelecimentos autorizados são de miúdos, tanto de bovinos quanto de suínos.

Ainda que as negociações entre os dois governos já estivessem em curso, está claro que o embate entre Rússia, Estados Unidos e União Europeia acelerou a autorização para que as unidades de carnes brasileiras exportem.

"Felizmente conseguimos que a Rússia liberasse 82 plantas nossas de aves, suínos e bovinos", afirmou Geller ao Valor.

O ministro ainda acrescentou que o Palácio do Planalto se envolveu nos últimos meses para que a Rússia autorizasse novas plantas e cessasse restrições à carne brasileira. Ele conta que tratou do assunto com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, recentemente.

"No fim de maio, me reuni com o secretário de defesa agropecuária da Rússia, em Paris, e ali senti que as conversas tinham avançado", acrescentou Geller. "Mas depois da vinda do presidente Vladimir Putin ao Brasil, pautamos a presidenta Dilma [Rousseff] sobre o assunto e agora conseguimos".

O presidente da ABIEC, Antônio Camardelli, disse que as negociações com a Rússia evoluíram durante o encontro dos BRICS. Ele afirmou que o governo conseguiu dar garantias ao governo russo de que os problemas técnicos apontados pela Rússia no passado foram solucionados.

Ele afirmou que a necessidade de carne bovina por parte dos importadores da Rússia também contribuiu para que as unidades fossem autorizadas a exportar. Camardelli acrescentou que ainda é difícil estimar qual pode ser o incremento nas exportações brasileiras de carne bovina à Rússia.

O presidente da ABPA, Francisco Turra, disse, em evento da associação ontem, que o setor de suínos não tem, no momento, capacidade disponível para ampliar significativamente as vendas à Rússia. A situação é diferente para o frango, segmento em que há capacidade ociosa para atender toda a cota russa destinada aos EUA (150,0 mil toneladas de carne de frango por ano). À noite, após o término encontro, mostrou-se ainda mais otimista. "É uma das melhores notícias do ano", afirmou. Ele disse que os embarques de carne de frango para a Rússia somam cerca de 60,0 mil toneladas hoje. Há alguns anos, antes de a Rússia elevar sua produção doméstica, o volume chegou a cerca de 300,0 mil toneladas.

Fonte: Valor Econômico. 8 de agosto de 2014.