Há dois meses, no VI Congresso Brasileiro de Soja (Cuiabá), tracei um cenário otimista, prevendo que, até 2015, o Brasil seria o maior produtor de soja do mundo. À época, a soja americana, plantada há cerca de 30 dias, media pouco mais de palmo de altura. Nada indicava que, como quase nunca antes na história daquele país, uma seca arrasaria o Meio Oeste americano, dizimando lavouras de milho e soja.
De acordo com o USDA, no início de agosto, quase 40% da soja americana estão em situação ruim ou muito ruim, devido à terrível seca que se alastra pelo país. O milho não fica para trás: quase metade da área plantada são lavouras consideradas ruins ou muito ruins.
No momento, não existem previsões oficiais de perda de safra. No dia 10 de agosto, o USDA divulgará sua mais nova estimativa da safra americana. Arrisco antecipar o anúncio: a safra de milho deve ser reduzida em cerca de 15% e a de soja em 10-12%. Com isto, a produção americana de milho perderia 50 milhões de toneladas, coincidentemente o volume anual que os EUA exportam de milho. Alguém precisará abastecer o mundo. Poderia ser o Brasil, se tivéssemos investido tanto em infraestrutura de transporte e armazenagem, quanto o fizemos em tecnologia e produção. Hoje a produção de milho cresce a cada ano, mas o custo de transporte das regiões de fronteira agrícola é tão alto que, apenas nos anos de crise (preço alto), compensa enviar o milho ao porto.
Já na soja, aventuro-me a dizer que a safra americana, pelas condições desta semana, e as previsões de continuidade da seca para os próximos dias, deve se situar abaixo de 80 milhões de toneladas. Perscruto os sites de previsão de clima de longo prazo, e a melhor aposta de momento é o retorno do El Niño para o próximo verão brasileiro, garantindo chuva farta para as regiões produtoras de grãos. Examino as análises de intenção de plantio, e vejo valores variando entre 27 e 28 milhões de hectares. Com média de 27,5Mha, e produtividade de 3.150kg/ha, chegaríamos a 86 milhões de toneladas de soja. Se Deus ajudar o produtor, seremos o maior produtor mundial de soja, como nunca antes na história deste país! E, para ajudar, com o maior preço da história recente da soja e do milho.
Este fato é bom para o ego nacional, pois andávamos sorumbáticos com o pibinho, a marolinha e outras mazelas que nos afligem. O agricultor está fazendo sua parte, que é produzir bem e com sustentabilidade. Mas, este fato não obnubila a nossa responsabilidade com o mundo: produzir sempre mais e melhor.
Mas, não basta produzir: é preciso colocar o produto da colheita na mesa do consumidor. Portanto, o governo precisa fazer a sua parte, investindo em uma infraestrutura de armazenamento e transportes que esteja à altura do país que mais produz soja no mundo. Se não puder fazê-lo, deve criar condições para que a iniciativa privada o faça. Isto inclui construir ferrovias, hidrovias, portos e armazéns que permitam levar insumos à lavoura e trazer a produção até os portos, de forma tranquila e a custos compatíveis com nossos concorrentes. Isto também faz parte da sustentabilidade da soja brasileira.
Fonte: Suinocultura Industrial. Pela Décio Luiz Gazzoni. 9 de agosto de 2012.
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