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Scot Consultoria

Menos carne no prato dos americanos


Quinta-feira, 22 de dezembro de 2011 - 09h28

A combinação milho e soja caros e seca severa neste ano está reduzindo a quantidade de carne bovina no prato dos americanos. E quem quer manter o consumo tem que pagar mais por isso. A menor oferta de gado bovino para abate - decorrente do preço alto dos grãos para a ração e da seca que afetou pastagens nos EUA - deve reduzir a disponibilidade per capita de carne no próximo ano no país, prevê o professor Chris Hurt, do Departamento de Economia Agrícola da Universidade de Purdue, no Estado de Indiana. O consumo de cada americano deve cair para 24,5 quilos em 2012. Esse volume é o menor desde o início dos anos 50, quando estava na casa dos 23 quilos, conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Nos últimos cinco anos, a disponibilidade média de carne por americano foi de 28,58 quilos. Segundo o especialista, a principal razão para a oferta menor de gado bovino foi a alta nos preços dos grãos. Nos EUA, a maior parte do gado é criada sob confinamento e alimentada com milho e farelo de soja. "A forte alta dos grãos depois de 2007 causou grandes prejuízos na indústria de carne bovina dos EUA e levou a uma liquidação de matrizes. Como resultado, houve a redução da produção nos últimos quatro anos. Por isso vimos preços recordes [para a carne] no varejo este ano e veremos em 2012 também", prevê Hurt. Neste ano, segundo o USDA, o quilo da carne no varejo está em US$10,63. Em 2006, ainda no período das "vacas gordas", estava em US$8,75 por quilo. "No próximo ano, deve ser 7% a 8% mais alto", prevê. A alta do milho, cujos preços triplicaram no mercado internacional desde 2007, contribuiu sobremaneira para esse cenário. Segundo Hurt, a valorização do cereal pode ser explicada pela maior demanda por grãos para biocombustíveis - nos EUA, o etanol é feito à base de milho. O aumento da renda em países emergentes, como a China, também elevou o consumo do grão e de soja nos últimos anos, sustentando os preços. Mas os grãos não são os únicos vilões. A forte seca que atingiu o sul e o centro das Grandes Planícies dos EUA nos últimos dois anos também ajudou a reduzir o rebanho bovino do país. "Isso contribuiu para uma redução contínua na oferta. Vimos o número de vacas nos menores níveis em 50 anos", observa. O rebanho americano para abate, que era de 33,15 milhões de cabeças em 2007, caiu para 31,4 milhões de cabeças, segundo o levantamento mais recente. "Esses números vão cair de novo em 2012. Nossa próxima leitura, em janeiro, vai mostrar isso porque o número de abate de vacas vem crescendo (...) principalmente por causa da seca". Ele explica que a escassez de chuvas afetou a produção de forragens e pastagens para o gado em alguns Estados americanos, como o Texas, que tem o maior rebanho do país e enfrentou a pior seca em 100 anos. Diante disso muitos pecuaristas optaram por enviar parte dos animais mais jovens para engorda em outras regiões ao norte, onde há mais oferta de forragem. Outros acabaram mandando para o abate vacas que ainda teriam vida produtiva. O especialista afirma que a seca ainda é uma grande preocupação para a pecuária. Reflexo do fenômeno climático La Niña, a escassez de chuvas deve persistir, preveem meteorologistas "No momento, o que se pode dizer é a que a seca continuará em 2012", observa. Para piorar o quadro apertado de oferta de carne bovina nos EUA, as exportações americanas do produto também estão crescendo. "Estamos produzindo menos e uma parte maior dessa produção está indo para outros países. Isso é uma mudança para o consumidor americano que, sempre teve abundância de comida a preços baixos", comenta. No fim de 2003, os EUA registraram um caso da doença da vaca louca (BSE, na sigla em inglês) em seu rebanho, o que gerou uma debandada de importadores. Até então, o país exportava cerca de 9% de sua produção. No ano de 2004, os EUA venderam só 2% ao exterior. Segundo Hurt, os embarques devem voltar a "níveis recordes, de cerca de 10% da produção". A razão é a maior demanda em países emergentes, o dólar fraco que estimula a exportação e a reabertura de mercados que ficaram fechados por um tempo à carne dos EUA depois do caso de BSE. A projeção para o próximo ano é de estabilidade nas exportações americanas de carne, mas Hurt acredita em mais crescimento dos embarques no futuro, já que "o mercado americano é muito maduro, isto é, um mercado de crescimento muito baixo. As oportunidades reais estão no mercado externo, onde há países em forte crescimento", diz. O professor de Purdue é pessimista quanto à velocidade da recuperação da oferta de gado nos EUA, e de carne, em consequência. "Os últimos cinco anos foram muito difíceis para os pecuaristas. Muitos reduziram seus rebanhos, outros deixaram a atividade. Para conseguir dar a volta por cima é necessário um período de boa rentabilidade", avalia. Tudo vai depender, afirma ele, do comportamento dos preços dos grãos para a ração animal e da melhoria do clima. Se a seca arrefecer em um ano, acrescenta ele, a produção de pastagens e forragens também será favorecida, permitindo a retenção de novilhas no início de 2013. A partir daí, explica, são mais três anos para que a oferta de carne comece a aumentar. "É um ciclo longo. Isso significa que os preços mais altos para o gado e para a carne tendem, na verdade, a vir quando os novilhos estiverem retidos, entre 2013 e 2014 (...). Preços mais altos ainda estão por vir". Esse cenário de mudança na estrutura de custos da produção de carne bovina elimina alguns consumidores do mercado, afirma Hurt. "Você não terá esses consumidores de volta a menos que os preços da carne caiam", sentencia. Fonte: Valor Online. Por Alda do Amaral Rocha. 22 de dezembro de 2011.
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