Tumulto no Mercado Futuro

O mercado do boi gordo já vinha em um ambiente de pressão negativa sobre as cotações devido à posição confortável da maioria das indústrias e ao bom fluxo de oferta de animais de confinamento nas últimas semanas, porém, no dia 01/09 a situação se agravou devido a uma sequência de notícias negativas para o setor.

A primeira delas foi a de que estariam sendo analisados amostras do cérebro de 2 animais abatidos em Minas Gerais e Mato Grosso para verificação da possibilidade de serem novamente casos atípicos de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), a exemplo do que aconteceu com um animal em Mato Grosso em maio de 2019. Mesmo sem qualquer confirmação sobre essa “notícia”, o simples ruído gerado pela situação foi suficiente para trazer uma verdadeira avalanche de vendas no mercado futuro derrubando as cotações em mais de R$ 15/@ em toda a curva de preços.

Com relação à esse episódio, é importante ressaltar que até a divulgação oficial do resultado dos exames, não se pode afirmar ao certo o diagnóstico e nem as suas implicações para o mercado. Dado a idade dos animais envolvidos, a maior probabilidade é que mesmo que os testes sejam positivos para EEB, esse seja um caso atípico, ou seja, um caso de degeneração cerebral ocorrido naturalmente em animais mais velhos e não relacionado ao consumo de produtos de origem animal e, nesse caso, o Brasil não teria seu status sanitário alterado. As explicações sobre o chamado “achado priônico” seriam repassadas aos países importadores e as exportações seguiriam sem maiores consequências. Caso o caso seja considerado como EEB típica, ai a situação seria mais grave e mesmo essa remota possibilidade tem gerado a preocupação refletida na queda dos preços.

Além desse fator, outra fonte de preocupação tem sido a “greve branca” dos responsáveis pelo SIF em algumas indústrias, que estariam emitindo os certificados de exportação em ritmo mais lento do que o normal, gerando acúmulo de produtos prontos para despacho nas câmaras frias, o que estava impedindo a manutenção do fluxo de abates no ritmo normal. Essa situação não é generalizada, porém nas plantas afetadas chegou a haver cancelamento de embarques agendados, contribuindo para o clima de preocupação já vigente no mercado.

Até sair a definição final dos testes realizados nos laboratórios internacionais e até termos a normalização das operações do SIF das plantas afetadas, o mercado futuro de boi gordo continuará operando num ambiente de alta volatilidade, com fortes oscilações intradiárias testando os nervos de quem atua nesse segmento.

O noticiário não tem sido bom para o setor, porém é preciso muito cuidado com sensacionalismo e com a forma como as informações são repassadas. Analisar o cenário com calma e sobretudo com objetividade é a melhor solução para a tomada de decisão mais acertada. O segundo semestre tem sido difícil para os produtores, com custos em alta, secas, geadas e incêndios, apesar de tudo, com certeza vamos superar mais essa dificuldade, apesar das turbulências do curto prazo.

TABELA 1. Mercado futuro do boi gordo na B3 - R$/@, à vista.

Fonte: Cepea/Esalq - B3