• Quinta-feira, 28 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Pecuária de corte busca reverter a crise


Segunda-feira, 29 de outubro de 2007 - 13h01

O preço do boi gordo, assim como o de todas as commodities, tem recuado ao longo dos anos quando se corrige as cotações pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna). Neste ano, de janeiro a outubro, a cotação da arroba do boi gordo ficou 65% abaixo dos valores médios pagos entre os anos de 1971 a 1990. Em outras palavras, quando se considera a inflação pelo IGP-DI, o valor do boi gordo era 2,5 vezes maior que o atual. Observe, na figura 1, a evolução dos preços do boi gordo nos últimos 36 anos. Ou seria melhor dizer involução? Acredita-se que o final do gráfico ilustre o início do ciclo de alta de preços, que parece ter iniciado a partir deste ano. Os custos de produção, por sua vez, têm aumentado acima da inflação medida pelo IGP-DI. A Scot Consultoria monitora um índice de custos de produção em propriedades pecuárias, desde 1994. Trata-se de um índice de inflação pecuária, cujo objetivo é registrar o comportamento dos custos de produção. São 13 anos de monitoramento, de agosto de 1994 a outubro de 2007. A metodologia para calcular o índice é simples. Através da participação de cada item do custo de produção, e pela evolução de suas cotações ao longo dos anos, calcula-se o impacto mensal nos custos de produção. Observe, na figura 2, a evolução dos custos de produção na pecuária de corte com baixo aporte de tecnologia e com aporte crescente de tecnologia, comparando com a evolução do IGP-DI. Enquanto a pecuária de corte, com aplicação de tecnologia, sofreu influência maior dos fertilizantes e demais insumos, a pecuária de corte de baixa tecnologia sofre maior impacto da mão-de-obra e do diesel, recursos que acabam por impactar em maiores proporções a sua composição dos custos de produção. O gráfico sugere que se o produtor gastava R$10,00 para produzir uma arroba em 1994, hoje ele gasta R$52,00/@ na pecuária de alta tecnologia e R$55,00/@ na baixa tecnologia. Por isso os resultados pioraram. A análise anual realizada pela Scot Consultoria, comparando resultados de aplicações financeiras e diversas opções de investimentos agropecuários, confirma a sensação de queda nos resultados da produção pecuária. Observe na figura 3, a evolução da rentabilidade entre os anos de 1999 e 2006. Os resultados obtidos foram baseados em fazendas de ciclo completo que vêm aplicando tecnologia, e com áreas entre 2,5 mil a 5 mil hectares de pastagens. A rentabilidade é a comparação porcentual entre o lucro operacional e os ativos da empresa, ou seja, o valor de mercado atual do capital investido na atividade. Em 2006, a rentabilidade da pecuária com adoção de tecnologia foi 75% inferior à média observada nos primeiros anos do estudo. Voltando à figura 1, se o boi valia 2,5 vezes mais há 25 anos, para manter a mesma renda por unidade de área o pecuarista precisa trabalhar com produtividade, no mínimo, equivalente a essa perda de valor. Evidentemente cada caso deve ser analisado com base em critérios técnicos e econômicos. Para reverter a situação, o produtor tem que utilizar tecnologia, visando aumento da escala de produção por área. A tendência é que a rentabilidade se reduza ao longo dos anos, salvo períodos esporádicos favoráveis. E o produtor tem melhorado. Levantamento da Scot Consultoria, com base em informações do IBGE e da Embrapa, identificou, no mesmo período, aumento próximo de 30% no desfrute do rebanho. Desfrute é a quantidade de animais vendidos ao ano em relação ao total do rebanho. Todos os índices zootécnicos têm melhorado nas fazendas brasileiras. Os animais são abatidos, em média, com 40 meses de idade. Boas fazendas têm conseguido abaixar essa média para 30 a 32 meses. As melhores empresas chegam a abater com 25 a 28 meses de idade. Para tanto o animal tem que ganhar, em média, entre 400 a 600 gramas de peso vivo por dia ao longo de seu período de engorda. A melhoria é visível, embora ainda se relute em corrigir solo e fertilizar pastagens. E então, vale à pena aplicar tecnologia nas pastagens? A resposta é sim! Estudos da Scot Consultoria comparando índices técnicos de diferentes propriedades evidenciam que empresas com maior agregação de tecnologia tendem a operar com resultados econômicos melhores. Observe, na tabela 1, o caso de uma empresa de 12 mil hectares de pastagens em duas situações diferentes: uma com produção de 103 kg de peso vivo por hectare por ano e outra com produção 380 kg de peso vivo por hectare por ano. Na análise considerou-se preços médios em torno de R$50,00/@ entre a venda de machos e fêmeas. A situação de baixa tecnologia é real, levantada a partir da análise de uma empresa de 12,2 mil hectares em produção, cujo lucro é de R$50,00/ha. Para se chegar à situação desejada, foram adotados índices técnicos reais de outra empresa, aplicando ao caso analisado. Trata-se do estabelecimento de metas técnicas e economicamente factíveis. Evidentemente, passar de uma situação para a outra demanda tempo e recursos. No caso, o investimento mínimo necessário seria de R$8,0 milhões, como mostra a diferença entre o capital investido na empresa em cada uma das situações. Ainda assim, a demanda financeira para aumentar o nível tecnológico não altera a realidade de que é viável melhorar a empresa e aumentar a produtividade. Os resultados desmistificam também a crença de que adubar pastagens e melhorar a nutrição dos animais seja inviável. Com os custos crescentes e margens cada vez mais reduzidas, o produtor rural precisa estabelecer metas para ganho em escala. Mesmo que os planos sejam para prazos longuíssimos, não podem deixar de ser traçados. Atualmente, a parceria com a agricultura, seja cana-de-açúcar, eucalipto ou grãos, é uma ótima oportunidade de proporcionar saltos tecnológicos na atividade pecuária.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja