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Scot Consultoria

Injetaram proteína transgênica no meu filho!


Quarta-feira, 3 de maio de 2006 - 12h48

Fernando Reinach* Ocorreu em um dos melhores hospitais de São Paulo. Fazia menos de 24 horas que ele havia nascido quando me apresentaram um papel para assinar autorizando o procedimento. Consultei o médico que me assegurou que era o recomendado. Fazer o quê? Autorizei. A injeção foi indolor e logo depois me entregaram a carteira de vacinação. Fiquei feliz, meu filho havia sido vacinado contra o vírus da hepatite B. Se você acha que isso é uma grande novidade, ainda em fase experimental, está enganado. Neste ano, o Ministério da Saúde adquiriu milhões de doses dessa vacina e agora ela faz parte do programa de imunização do governo brasileiro. Nos próximos anos, praticamente todas as crianças recém-nascidas serão imunizadas com esta vacina "recombinante", um nome mais "delicado" e que sofre menos discriminação que "transgênica", apesar de significar exatamente a mesma coisa. O termo significa que o produto injetado foi produzido por um organismo geneticamente modificado (OGM), assim como o óleo de soja que consumimos, o algodão de muitas das roupas que vestimos ou a insulina que a maioria dos diabéticos recebe todos os dias. Ao contrário da hepatite A, que geralmente não deixa seqüelas, uma infecção pelo vírus da hepatite B é muito mais séria. Ela pode deixar seqüelas crônicas no fígado e uma parte dos pacientes pode desenvolver câncer. Como é difícil produzir grandes quantidades desse vírus, o desenvolvimento de uma vacina eficaz e segura só foi possível devido aos avanços da biotecnologia. A partir do seqüenciamento do genoma do vírus, foi identificado o gene que codifica a proteína capaz de tornar as pessoas imunes ao próprio vírus. Esse gene foi retirado do vírus e transferido para um fungo (semelhante àquele que utilizamos para fazer cerveja). O fungo modificado, por ter em seu genoma um gene originário do vírus, é denominado transgênico. Ele se torna capaz de produzir grandes quantidades da proteína viral. O fungo é cultivado, a proteína purificada e utilizada na produção da vacina. Se neste ano estamos comemorando nossa auto-suficiência em petróleo, nos últimos anos deveríamos ter comemorado nossa auto-suficiência na produção dessa vacina. A vacina recombinante contra o vírus da hepatite B foi desenvolvida no Instituto Butantã com a ajuda de um cientista que emigrou da ex-União Soviética, na década de 90. A adoção em larga escala dessa vacina nos programa de vacinação do governo vai permitir diminuir a incidência da doença e, de quebra, diminuir o número de casos de câncer de fígado. Espero que ela também ajude a diminuir a desinformação que ronda os transgênicos e os OGMs, afinal é um produto comercial, desenvolvido, aprovado e distribuído pelo governo brasileiro. Quando recebi meu filho na saída da maternidade tive a curiosidade de verificar se tinham pendurado nele um "rótulo" com a advertência "pode conter transgênicos", como exigido pelo governo brasileiro para qualquer produto contendo derivados da soja transgênica. Não encontrei. Tampouco vejo a frase "contém transgênico" tatuada nos diabéticos que devem sua sobrevivência exatamente ao fato de receber, todos os dias, uma dose de insulina transgênica. Mais informações em http://www.drauziovarella.com.br/ponto/raw5.asp. Fernando Reinach é biólogo, Professor Titular do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, é Professor Visitante do Department of Cell Biology and Anatomy da Cornell University Medical College e Diretor Executivo da Votorantim Novos Negócios. fernando@reinach.com
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