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As ameaças aos brasiguaios


Quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012 - 09h23

Para o embaixador brasileiro no Paraguai, Eduardo dos Santos, a decisão da Justiça, determinando a desocupação de três propriedades de brasileiros invadidas por grupos paraguaios de sem-terra, é uma indicação de que “a normalidade está próxima” na região da fronteira entre os dois países. A situação ali, porém, continua muito tensa, e a decisão judicial não garante nada. É preciso que o governo paraguaio dê cumprimento efetivo ao que a Justiça local decidiu na sexta-feira passada, e que os invasores - que dizem formar um grupo de mais de 10 mil pessoas - respeitem a decisão. Nada disso está garantido. Em nota longa e ambígua, o presidente Fernando Lugo garantiu que o governo cumprirá a lei, mas deu novos argumentos aos invasores - conhecidos como carperos, pois vivem em “carpas”, tendas cobertas por plástico - ao dizer que “não poucas vezes se concederam imóveis rurais a pessoas favorecidas pelo poder político e econômico”, com prejuízo para a reforma agrária, como alegam os invasores. Em resumo, não se sabe se o governo seguirá a lei ou se tolerará as invasões. As fazendas invadidas ficam em Ñacunday, no departamento (Estado) de Alto Paraná, a 75 quilômetros da fronteira com o Brasil. Para o presidente do Sindicato Rural de Foz do Iguaçu, Paulo Muller, o governo paraguaio tenta justificar o atraso na desocupação, o que pode acirrar os conflitos (há tensão também na cidade de Santa Rosa del Monday, em Alto Paraná). “Há uma insatisfação com a forma como o governo está conduzindo a questão”, disse ao Estado (6/2). Talvez estimulado pela complacência do governo, o líder dos carperos, Victoriano López Crdoso, faz discursos ameaçadores. "Retroceder, jamais. Quem tem que deixar essas terras são os brasileiros", disse no fim de semana, depois de tomar conhecimento da decisão judicial. Apenas concordou em adiar a decisão de expulsar os brasileiros da região com o uso da força. “Vamos esperar mais uma semana, depois avaliamos”, afirmou. Estima-se que de 350 mil a 400 mil brasileiros vivem no Paraguai, com grande concentração na região da fronteira, onde se dedicam principalmente à agricultura. Graças, em grande medida, à presença de brasileiros, o agronegócio teve notável desenvolvimento nos últimos anos, sendo hoje responsável por 80% do PIB paraguaio e pelo rápido crescimento da economia do País (de mais de 15% em 2010). Levadas por esses emigrantes - os “brasiguaios” -, técnicas conhecidas no Brasil, mas até então pouco utilizadas no Paraguai, asseguraram mais produtividade e maior diversificação para a lavoura local. Isso exigiu investimentos e trabalho dos brasileiros. Alguns optaram pela nacionalidade paraguaia, muitos têm filhos paraguaios. Sua presença, porém, tem sido motivo de protestos de grupos de agricultores locais. Conflitos são registrados praticamente desde que os brasileiros começaram a emigrar para o Paraguai, na década de 1960. Nas últimas semanas, os conflitos se intensificaram por causa de uma determinação do presidente Lugo de demarcar terras de fronteira. A justificativa do governo foi a necessidade de examinar se as terras ocupadas por brasileiros eram públicas, o que tornaria ilegal seu uso e sua propriedade por estrangeiros. Foi uma espécie de senha política da qual se valeram os carperos, que convocaram seus companheiros para montar acampamentos em Alto Paraná e se preparar, com foices, facões e outros instrumentos e armas, para expulsar os brasiguaios, que chamam de "invasores". Por motivos ideológicos ou por dificuldades para compreender a dimensão e a gravidade dos problemas, o governo do PT tem agido com tibieza quando interesses brasileiros são ameaçados por governos de tendência esquerdista e nacionalizante na América Latina. Assim agiu em relação a decisões contrárias ao interesse do Brasil tomadas pelo governo de Fernando Lugo e também pelo governo de Evo Morales, na Bolívia. Quando a segurança de brasileiros no exterior está em jogo, como neste caso, uma atitude desse tipo não tem nenhuma justificativa. O governo Dilma precisa agir com firmeza e rapidez. Fonte: O Estado de São Paulo. Opinião. 8 de fevereiro de 2012.
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