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Scot Consultoria

Mandioca na farinha de trigo... ou no cérebro??


Terça-feira, 21 de março de 2006 - 12h42

Projeto de Lei, enviado à Câmara dos Deputados em 2001, do atual presidente da casa - deputado Aldo Rebelo - prevê a obrigatoriedade de adição de 10% de mandioca em todos os produtos a base de farinha de trigo. E mais, produtos com farinha pura não podem passar também dos 10% do total consumido em cada empresa. Notícia velha, com fôlego renovado, que acabou criando celeuma entre os profissionais da panificação, da produção de massas e dos restaurantes. Protestam, exaltados, com relação ao comprometimento da qualidade do alimento que produzirão. Embora estejam baseados em bons argumentos culinários, a questão não é essa. A questão é a obrigatoriedade no projeto proposto pelo deputado Aldo Rebelo. No mundo atual, o deputado propõe alienar-se a toda e qualquer preferência do consumidor, liberdade de produção industrial, liberdade de criação de linhas de produtos, entre outras, para obrigar as empresas a consumirem um produto, simplesmente pela elaboração de uma lei. Não precisa ser gênio para perceber o que acontecerá logo em seguida, pois ninguém obriga o mercado consumidor a nada. Bem, talvez cortando todos os cabos de comunicação, acesso a jornais, energia elétrica, aí sim, numa sociedade próxima à da idade média, seja possível enfiar algo goela a baixo do consumidor. O resultado esperado, no mínimo, será a perda de clientes da cadeia do trigo. A Associação Brasileira da Indústria do Trigo prevê ainda aumento de custos finais dos pãezinhos e não queda, como espera o autor do projeto. O Brasil, país competitivo na produção de qualquer alimento, será excluído do mercado internacional, desperdiçando oportunidades por não ter o produto que o consumidor quer. Até mesmo para os produtores de mandioca essa legislação é ruim. Não há nenhum caso, na história da agricultura brasileira, de um produto cuja cadeia tenha saído fortalecida depois de um período de reserva de mercado. O que o deputado propõe é reserva de mercado. A obrigatoriedade tende inclusive a criar uma revolta do consumidor com relação à farinha de mandioca. Logo o projeto cairia por pressão da sociedade – isso é mais que evidente – e a mandioca sairia com a imagem manchada. A mandioca é um produto fantástico. Sua utilização depende apenas de pesquisa, divulgação e marketing; o que permitiria ganhos reais de profissionalismo em sua cadeia. Existem projetos maravilhosos em torno da mandioca. Por quê não explorá-los? Por quê manchar a sua imagem obrigando a usá-la onde o consumidor provavelmente não aceitaria? Se fosse preferência do consumidor, é evidente que as empresas já a utilizariam por livre e espontânea vontade. O deputado não precisa ser especialista em marketing, mas antes de propor besteiras, que procure opiniões de especialistas. Observe bem que especialistas não são burocratas idealistas que se baseiam em teorias do século XIX para emitir suas opiniões professorais. Não há espaço, hoje, para falar em obrigatoriedades deste tipo. É tão insano quanto abrir uma fábrica de gramofones. Outro dia, no coquetel descontraído de um seminário organizado pela Scot Consultoria, um empresário português passou a ser, evidentemente, o alvo de todas as piadas dos presentes. Risada vai, risada vem, alguém perguntou para o português: “Puxa, nós amolamos tanto vocês. Vocês não fazem nenhuma piada sobre brasileiros?” Resposta do português: “E precisa?” (MPN)
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