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Scot Consultoria

Milho transgênico está perdendo resistência contra pragas


Quarta-feira, 31 de agosto de 2011 - 09h37

Plantas de milho da companhia norte-americana Monsanto, modificadas geneticamente para impedir a ação destrutiva de um tipo de broca, estão sendo atacadas por esses coleópteros em algumas plantações no estado de Iowa, Estados Unidos. Esta é primeira vez que uma das principais pragas que acometem o milho desenvolveu resistência a uma plantação geneticamente modificada. As plantas de milho da Monsanto são amplamente cultivadas. A Monsanto é líder mundial na produção de sementes geneticamente modificadas, como milho, soja e algodão. Foi pioneira em criar sementes resistentes a insetos e lavouras imunes a herbicidas. A descoberta trouxe preocupações sobre a forma como alguns produtores estão utilizando as culturas geneticamente modificadas e como isso poderia gerar os superinsetos. As sementes transgênicas tem maior produtividade e também são alternativas ao uso de herbicidas, que são tóxicos ao meio ambiente e aos trabalhadores das lavouras. Aaron Gassmann, entomologista da Iowa State University (ISU), descobriu, em quatro plantações de milho no nordeste do estado de Iowa, que a western corn rootworm (conhecida como broca do milho no Brasil) evoluiu e passou a resistir ao pesticida que a planta de milho alterada pela Monsanto produz. Isso poderia fazer com que alguns produtores começassem a utilizar sementes à prova de insetos fabricadas pelos concorrentes da Monsanto e retornassem a pulverizar inseticidas nas plantações. Estes são casos isolados e não está claro em qual ponto este problema vai chegar. Mas é um aviso de que as práticas de gerenciamento precisam ser mudadas, declara o Dr. Aaron Gassmann numa entrevista. Os resultados encontrados aumentam a disputa entre companhias de biotenologia para localizar a próxima geração de genes que pode proteger as plantas dos insetos. Cientistas da companhia americana Monsanto e da suiça Syngenta já estão pesquisando como utilizar um avanço da medicina chamado interferência de RNA, para, entre outras coisas, fazer com que o consumo do pé de milho seja letal aos insetos. Se funcionar, um inseto que se alimente da planta vai ingerir o código genético que desligará seus genes essenciais. A Monsanto alega que suas linhas de sementes de milho resistentes a broca têm funcionado conforme o esperado em mais de 99% das áreas plantadas que utilizam essa tecnologia e que é anda cedo para saber qual o significado do estudo da ISU para os produtores. A descoberta chega em meio a um debate sobre se as culturas geneticamente modificadas, que são cultivadas em grande parte do cinturão agrícola americano, estão mudando negativamente as formas como os produtores trabalham. As culturas à prova de inseto e resistentes a herbicidas tornam o cultivo tão mais simples que muitos produtores acabam violando um princípio básico do gerenciamento de pragas, que é plantar ano após ano o mesmo tipo de planta o que favorece a adaptação das pragas. Antes que as plantas de milho alteradas chegassem ao mercado, produtores do meio oeste tentavam controlar pragas, como a broca, rotacionando a cultura anualmente entre soja e milho. Desta forma, a prole de insetos que consomem milho pereceriam quando fosse o turno da soja e vice-versa. Pode-se dizer que a seleção natural, juntamente com a forma de manejo da lavoura, são os principais responsáveis por essa resistência das pragas ao milho transgênico. Os produtores, ao observarem a perda de eficiência do milho da Monsanto, poderiam recorrer às sementes da concorrência, o que seria negativo, do ponto de vista comercial, para a Monsanto. E seria negativo ao meio ambiente e aos trabalhadores do campo se houvesse o retorno em massa ao uso de herbicidas. A Monsanto já está no centro desta discussão por causa de seu sucesso desde os anos 90, com sementes que se desenvolvem em culturas que sobrevivem à exposição ao glifosato, um herbicida conhecido por sua habilidade de combater quase qualquer planta. Ficou conveniente utilizar apenas glifosato como herbicida. Desta forma, produtores pararam de usar outros herbicidas para conter as ervas daninhas. Como resultado, dizem muitos cientistas, daninhas imunes ao glifosato se espalharam por milhões de hectares em mais de 20 estados nas regiões sul e no meio oeste norte-americano. A Monsanto se tornou, em 2003, a primeira companhia a vender semente de milho geneticamente modificado resistente a broca. A semente contém um gene de um microorganismo comum do solo, chamado Bacillus thurigiensis, ou Bt, que teve vários de seus genes utilizados pela biotecnologia para produzir proteínas inseticidas. Um dos genes que a Monsanto desenvolveu produz uma proteína cristalina chamada Cry3Bb1. Ela danifica o intestino da diabrótica, mas é inofensivo aos mamíferos, aves e para maioria dos insetos benéficos. Empresas concorrentes, que utilizam outros genes do Bt para atacar a broca, estimam que aproximadamente 1/3 do milho cultivado nos Estados Unidos carrega o gene Cry3Bb1 da Monsanto. Caso fique provado que as plantações de milho transgênicas da Monsanto estejam perdendo de fato a eficiência contra a broca, verificam-se algumas questões preocupantes imediatas: a própria broca, que, resistente, voltará a ser uma praga devastadora, colocando um terço das plantações do maior produtor mundial de milho em sério risco; por conta disso, poderá haver o retorno à utilização de herbicidas, para a Monsanto, o risco imediato seria uma possível queda no preço de suas ações. A Monsanto diz que em 2010 obteve uma receita de 4,26 bilhões de dolares com a venda de sementes de milho e biotecnologia, aproximdamente 40% de sua receita total. Como forma de comparação, a receita que o Brasil obteve, em 2010, com a exportação de carne bovina, foi de 4,6 bilhões de dólares. Verifica-se a grandeza da companhia, onde apenas parte de sua receita quase atinge a receita total do maior exportador de carne bovina do mundo. Alguns produtores começaram a plantar milho anualmente na mesma área, sem rotacionar. O incentivo financeiro para plantar milho aumentou nos anos recentes, em parte devido ao explosivo consumo de milho pela indústria de etanol, o que elevou o preço pago ao produtor, tornando esta cultura atrativa financeiramente. Por outro lado, observa-se um aumento expressivo no preço do milho de forma geral, explicado em parte pela demanda do produto pela indústria do biodiesel. Como a oferta foi reduzida, o preço de rações a base de milho subiu e, consequentemente, elevou o custo da produção animal, como confinamento bovino, suinocultura e avicultura. Existe também a discussão sobre até que ponto seria aceitável a destinação das terras para o plantio de milho para a produção de etanol em detrimento do plantio de alimentos para a população. De acordo com Dr. Gassmann, as plantações do estado de Iowa em que ele encontrou broca resistente à toxina Cry3Bb1, tem produzido milho continuamente por, no mínimo, três anos. Ele coletou, em 2009, brocas de quatro plantações de milho em que as plantas apresentavam danos extensos. As larvas foram alimentadas com o milho alterado geneticamente pela Monsanto. A taxa de sobrevivência deste grupo foi três vezes maior que a do grupo controle, que consumiu o mesmo milho. O Dr. Gassmann descobriu que a toxina da Monsanto tem maior impacto letal nas larvas das plantações do Iowa do que nos insetos adultos. As brocas adultas ainda são altamente susceptíveis a uma planta de milho resistente à broca de um concorrente da Monsanto e que utiliza uma toxina diferente, chamada Cry34/35ab1. Cientistas em outros estados produtores de milho também estão procurando por sinais de que o milho alterado da Monsanto esteja perdendo sua eficiência. Os entomologistas da University of Illinois também estão estudando brocas coletadas de plantações de milho alterado que estavam extensamente danificadas. O governo requer que produtores que cultivam milho alterado sigam algumas ações para prevenir que as brocas desenvolvam resistência. Produtores devem criar um refúgio para a broca, plantando milho não modificado em parte da plantação. Recomenda-se um refúgio de até 20% da área da plantação e esta técnica é para que se reduzam as chances de que dois insetos resistentes à toxina cruzem e passem essa característica a sua prole. Entomologistas da University of Illinois dizem que a confirmação de broca resistente à toxina no estado de Iowa poderia forçar a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA, sigla em inglês) a revisar suas políticas de permissão de refúgios para os insetos, que atualmente é de 5% da área de uma plantação alterada geneticamente. Paralelamente, companhias de biotecnologia começaram a vender sementes de milho com duas toxinas diferentes para eliminar a broca. Parte do que atraiu os produtores de milho para a nova linha de milho da Monsanto, a SmartStax, é que os permite plantar uma menor área de refúgio. Mas uma das duas toxinas anti-broca nesta variedade é justamente a Cry3Bb1, que é o objeto de estudo da ISU. A Agência Americana de Protecao Ambiental disse que ainda é cedo para comentar as implicações da pesquisa da ISU. Alguns executivos que já trabalharam na Monsanto possuem cargos no governo americano, como a Suprema Corte, o FDA (agência que regula medicamentos e alimentos) e também na Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA). Fonte: Jornal The Wall Street. Por Scott Kilman. 29 de agosto de 2011.
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