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Economia e agronegócio – Entrevista com José Roberto Mendonça de Barros


Segunda-feira, 31 de outubro de 2005 - 12h37

Fonte: O Estado de São Paulo Seguem trechos da entrevista que o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, concedeu à jornalista Sonia Racy, do Estado de São Paulo. Ao que tudo indica, o governo está se preparando para crescer mais em 2006, ano de eleição. Vai conseguir? Acho que 2006 vai ter sim crescimento maior que 2005, mas acima de tudo pela redução de juros. A demanda doméstica vai crescer. Mesmo assim, continuo achando que não dá para dizer que esse crescimento é sustentável: o nível de investimentos está muito baixo. O câmbio não é um problema? Estamos voltando a ser um país caro por causa da queda do câmbio e do aumento dos custos. Esse câmbio, no entanto, veio para ficar. O que poderia mudar isso? Primeiro, um problema lá fora, um estresse no mercado americano. Só que aí estaríamos trocando um problema por outro. Segundo, um estresse político internamente. Uma disputa entre PFL e PSDB com a coligação do PT não assusta mais os mercados. Terceiro, o BC poderia comprar toneladas de dólares. Isso não vai acontecer. A queda dos juros vai promover a valorização do dólar, mas de maneira muito lenta. O saldo da balança comercial pode cair. Aí o fluxo positivo da conta corrente vai tender a zero e voltar a ser negativo, o que mudaria um pouco a cotação. Mas também esse seria um processo lento, porque os preços lá fora estão muito bons, o saldo comercial continua subindo. Então, o dólar barato veio para ficar pelo menos dois anos, a não ser que ocorra uma grave crise externa. O que o câmbio está mostrando são nossas dificuldades. Com um dólar a R$ 3,00, pago qualquer frete. À medida que o dólar vai desvalorizando, fica claro onde é que não somos competitivos. De maneira geral, posso dizer que é da porteira para fora: tributação, custos administrativos, custos de frete, falta de infra-estrutura. A iniciativa privada melhorou, existem hoje mais exportadores e de forma muito mais profissional. Faltam investimentos e melhoras na área de tributação e custos. O câmbio não pode esconder todas as ineficiências. O problema é de infra-estrutura, tributação e custo administrativo. Qual a chance de que aquilo que depende do governo melhore? Sou muito cético. Esse governo mostrou à sociedade sua incapacidade de promover políticas setoriais. Essa brincadeira de desmontar agências reguladoras já está mostrando o estrago. A situação é crítica, deplorável. Se fizeram alguma coisa, foi no setor elétrico, mas acho que esse modelo está aumentando o risco de novo apagão. O problema da infra-estrutura está longe de estar resolvido, temos o problema complicadíssimo de excesso de tributação, carga fiscal aumentando, peso fiscal muito grande e qualidade de serviço pequena. Deram garantia absoluta de que não iam aumentar a carga tributária. Mas ela aumentou no ano passado e vai aumentar este ano. Estamos caminhando para 37% do PIB na arrecadação, com recorde sobre recorde. Não se pode atribuir isso a uma maior eficiência arrecadatória. Isso atrapalha o investimento, a construção civil está de joelhos. O senhor é a favor de um maior ajuste fiscal? Depende de como será feito. Uma decisão de cortar verbas para a defesa sanitária colocou em risco as exportações de carne, um negócio de US$3 bilhões. Isto é, cortaram a verba do cafezinho e com isso poderemos perder bilhões. O senhor concorda com o ministro Roberto Rodrigues de que este é o pior momento da agricultura brasileira nas últimas décadas? Digo seguramente que sim. Temos uma crise de renda, o custo de logística explodiu e, mais recentemente, veio toda essa questão ligada à febre aftosa. E os instrumentos para combatê-la estão se mostrando inadequados.
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