O problema está no “sentimento de baixa”

Vamos aos fundamentos. Há boa oferta de gado no mercado? – Não, de forma alguma. As escalas dos frigoríficos avançaram, ao longo das últimas semanas, graças (principalmente) ao aumento da ociosidade, contando com a ajuda do “resto” de animais de confinamento, do gado próprio e do boi a termo. Veja a questão da redução dos abates. Levantamento recente da Scot Consultoria apurou, junto a oito das maiores indústrias frigoríficas do país, uma taxa de ociosidade média de 51% entre outubro e novembro. Isso significa uma redução de demanda de quase 2 milhões de cabeças. Se considerarmos que uma ociosidade em torno de 25% é normal, ainda assim ocorreu uma redução “estratégica” de demanda da ordem de 1 milhão de cabeças, em apenas 2 meses. A margem das indústrias piorou muito ao longo das últimas semanas? – Não, no mercado doméstico não. Ontem o equivalente físico (carcaça com osso) no atacado paulista fechou em R$81,92/@, uma defasagem de 7% em relação ao boi gordo, negociado a R$88,00/@. A defasagem média do ano está em 12%, ou seja, hoje a situação da indústria está melhor, comparando preço com preço, do que na média de 2008. Veja na figura 1. No mercado externo argumenta-se que vários compradores estão forçando recuos de até 20% para os preços da carne bovina. Mas ao mesmo tempo, o câmbio saiu de algo entre R$1,70 a R$1,75 para R$2,25 a R$2,30 por US$1,00. Ao final, convertendo para moeda nacional, as cotações praticamente não saíram do lugar. Esses são os fundamentos, mas eles não estão valendo nada. O mercado do boi gordo está frouxo, meio que contaminado por um sentimento de baixa, um excesso de pessimismo, que se espalha por vários setores da economia. E quando os fundamentos deixam de valer, ficamos todos a mercê do imprevisível. Para quem busca trabalhar com planejamento, não há nada pior que isso. (FTR)
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