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Queda de braço na lavoura: quem ganha e quem perde espaço?


Segunda-feira, 3 de março de 2008 - 10h00

Preços históricos nas commodities mais uma vez: grãos com maiores altas nas últimas décadas (notadamente trigo, milho e soja), arroba do boi firme nas principais praças do país, e o petróleo batendo recorde, chegando a ser negociado a US$103,05/barril na NYMEX (Bolsa Mercantil de Nova Iorque), preço nunca antes alcançado. E a cana, alguém se lembra dela? De 2005 a meados de 2007 a cana vinha despontando como a lavoura mais promissora do agronegócio brasileiro. Temas como energia limpa, combustíveis renováveis, nova matriz energética, entre outros, sempre se relacionavam a essa cultura. Em 2007, o cenário externo mudou. A tão requisitada busca por energia limpa não se deu através da cana, mas sim do milho. Os Estados Unidos, maiores consumidores de energia do mundo, optaram pelo uso do cereal ao invés da cana, já que esta teria que ser importada, mesmo a custos maiores. Cenários semelhantes resultaram em diferentes conseqüências para as áreas de lavoura. A semelhança consiste no aumento de culturas de produção de energia renovável, sendo a cana-de-açúcar no Brasil e o milho nos EUA. A diferença está nos reflexos para as outras lavouras. Da safra 2004/05 até a 2007/08, o aumento da utilização do milho destinado para a produção de etanol foi de 134%. A maior demanda por etanol desde a publicação, em 2005, pelo EPA (Departamento do meio Ambiente dos EUA) da obrigatoriedade do seu uso, a partir de 2008, através da mistura na gasolina, causou um aumento de 15% da sua área plantada, tomando espaço antes destinado a outras culturas. A soja, por exemplo, recuou os mesmos 15% de sua área total. O álcool brasileiro provocou a mesma mudança no panorama nacional – houve uma “invasão” da cana em terras tradicionalmente conhecidas pela produção pecuária ou de grãos. A única diferença consiste no seu impacto nos estoques mundiais, onde a safra americana de milho representa cerca de 44% da produção mundial. Ou seja, um aumento na demanda por etanol de 44% do milho utilizado mundialmente tem um impacto muito maior do que a “invasão” sucroalcooleira tupiniquim. Sendo assim, a maior demanda por energia, aliada ao aquecimento da maioria das economias emergentes, fez com que os estoques mundiais de grãos diminuíssem, ou seja, diminui a oferta, aumenta o preço. No caso da cana isso não ocorreu, aumentou-se a produção, mas o tão esperado crescimento da demanda não ocorreu no mercado interno. No Brasil, os reajustes da arroba do boi refletindo escassez de produto disponível ao mercado, aliado às altas internacionais dos grãos, frearam a expansão sucroalcooleira. O valor do ATR (Açúcar Total Recuperável, preço base para o pagamento da cana) já diminuiu 40% desde março de 2006, quando atingiu o pico das cotações desde abril de 2000. A cana segue na contramão dos principais commodities agrícolas, de acordo com o gráfico 1. Resta esperar se o recorde do petróleo não afetará o preço da nossa gasolina, ou se os EUA decidirão por importar nosso álcool – razões bem consistentes para o retorno da expansão da cana sobre as demais culturas. (CMR e JA)
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