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Scot Consultoria

O desserviço do dr. Watson


Quinta-feira, 25 de outubro de 2007 - 10h41

Fernando Reinach* Faz duas semanas, James Watson, o cientista que descobriu a estrutura química da molécula do DNA, declarou acreditar que as perspectivas de progresso na África não eram animadoras, uma vez que as políticas de desenvolvimento assumiam que os africanos eram tão inteligentes como “nós”, o que não seria verdade. É difícil imaginar declaração mais racista. Mas o maior desserviço desse tipo de declaração é que reforça, exatamente pela repulsa, o pensamento oposto, de que todos os seres humanos são idênticos. Qualquer um é capaz de perceber que as pessoas têm altura, peso, pele, nariz diferentes. Falam línguas diferentes, foram educadas em culturas distintas e viveram diferentes experiências. A idéia de que as pessoas são iguais surgiu como reação à discriminação racial e à escravidão e foi reforçada pelos princípios do direito, que determinam que todos são iguais perante a lei. O problema é que essa idéia de homogeneidade simplista dificulta a aceitação da enorme diversidade que existe dentro de qualquer população humana e torna ainda mais difícil aceitar o lado enriquecedor dessa diversidade. Parece paradoxal, mas a crença na igualdade absoluta é uma das armas que permitem classificar pessoas como “normais” ou “anormais”. Se as pessoas são diferentes, é obvio que, para tarefas específicas, algumas são superiores a outras. Pessoas de pernas longas são superiores às de pernas curtas no processo de pular poças d’água, mas nossa diversidade permite que as de pernas longas pulem primeiro a poça e depois estendam a mão para ajudar as de pernas curtas. Já as de pernas curtas são superiores no que se refere a viagens aéreas, em que sofrem menos. O problema surge quando se discute capacidade mental ou inteligência. No futuro, quando existirem medidas confiáveis de performance mental, vamos descobrir que as pessoas são diferentes nos diversos aspectos do funcionamento cerebral. O que temos de aprender a aceitar é que essa diversidade existe e é bem-vinda. Ainda bem que há pessoas capazes de um sofisticado pensamento matemático enquanto outras são capazes de escrever música e poesia. *Biólogo - fernando@reinach.com Fonte: O Estado de São Paulo. Vida&. 25 de outubro de 2007.
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