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Scot Consultoria

Operação “Ouro Branco”: reflexos na mídia e no mercado


Terça-feira, 23 de outubro de 2007 - 10h28

Notícia de ontem: Polícia Federal prendeu 26 pessoas ligadas à duas cooperativas mineiras, acusadas de adulterar leite. Adulteração grosseira com soda cáustica e água oxigenada. Péssimo para imagem do setor. É a pecuária leiteira novamente na alça de mira da mídia. Quando não é o preço é um comportamento pior, é o desrespeito ao consumidor, o descaso com a segurança alimentar e, principalmente, um ataque contra o próprio setor. Um tiro na perna de quem trabalha sério, de quem produz e tenta sobreviver num mercado digno, em que basta alguns indignos com suas atitudes levianas e criminosas para atrapalhar todo o esforço conjunto de uma infinidade de empresas sérias. Exagero? Nem um pouco. O telefone ontem, dia 22, tocou até tarde. Eram produtores e leitores dos informativos da Scot Consultoria indignados com a repercussão da mídia. Um telejornal, com jornalistas de “credibilidade” avançou o sinal. Segundo a leitura deles, a fraude começa no campo. Pobre produtor, mais pobre ainda o cérebro desinformado e escasso de massa cinzenta do jornalista que chegou a esta conclusão. Outro telejornal, o de maior audiência, ateve-se aos fatos, cobrindo apenas a prisão dos fraudadores e de suas empresas envolvidas. No entanto, como as cooperativas envolvidas atuam no mercado “spot” – leite comercializado entre as indústrias – os jornalistas buscaram a todo custo incluir a Nestlé e Parmalat, que compram no mercado “spot”, no esquema de fraude do leite. Um chute na imagem destas empresas, que nada tem a ver com o caso. O mercado “spot” é baseado em leite cru; as fraudes ocorreram no leite longa vida, segundo notícias divulgadas pela polícia federal. Se existem notas comprovando que Nestlé, Parmalat e outras indústrias compraram leite destas empresas, ótimo. Significa que fazem tudo por dentro do pano, que pagam impostos. E, se de alguma maneira, outras empresas do setor tivessem comprado leite cru adulterado de ambas as cooperativas acusadas, elas seriam vítimas da fraude e não coadjuvantes; pois com certeza pagaram pelo preço do leite. A mídia precisa se responsabilizar pela notícia que veicula, se informar melhor e evitar levantar insinuações irresponsáveis, como a feita ontem ao final do referido telejornal de maior audiência. Quanto será que custou para uma empresa séria ter sua idoneidade questionada nos meios públicos? Como sempre temos dito na Scot Consultoria: é a notícia com o objetivo do furo e não com o objetivo de informar. As cooperativas, em geral, também tiveram suas imagens abaladas. Por isso que se pode dizer que alguns indignos “arrebentam” com o trabalho sério de todo o setor. Perde a imagem do leite, pois o consumidor acaba desconfiando do produto. Tantas cooperativas se reestruturando, buscando se unir, modernizar, investir, o que é ótimo para o setor, e agora vem um baque destes. Casos de sucesso no cooperativismo, altamente competitivo, pagando produtores por qualidade do leite, abrindo mercado internacional, operando com responsabilidade em toda cadeia produtiva, não podem ser colocados no mesmo balaio, porque uma ou outra empresa cooperativa agiram errado. Neste caso, a culpada não é a mídia, mas sim o irresponsável que busca competir por meios escusos num mercado nobre como é o da produção de leite e derivados. O mercado, por si só acaba perdendo. Além da desconfiança do consumidor, quanto será que este “aumento no volume” de leite via fraude não contribui para os baixos preços dos produtos no mercado? É a volta do antiguíssimo “balde de leite na chuva” para aumentar o volume. Atitude do século dezenove no sofisticado mercado do século vinte e um. Merece cadeia mesmo, e por muito tempo. O que pode sair de bom de todo o fato? Bom, o assunto, conhecido há muito tempo, era um tabu a ser discutido publicamente. Evidente, pois ninguém do setor quer danificar a imagem do leite. Todos perdem. Agora o esterco seco, para não dizer outra coisa, foi para o ventilador. A tendência, como já ameaça a polícia federal e a procuradoria, é caçar mais fraudadores. Produtores, técnicos, indústrias e cooperativas que trabalham sério, e outros atuantes do setor, tendem a contribuir denunciando empresas que fraudam. Claro, todos pagarão o custo alto do caso e de sua repercussão no mercado. Empresas que fraudam deverão pensar duas vezes antes de fazê-lo, pois agora o mercado ficará atento e já se fala em novos métodos para descobrir fraudes. Algum cético poderá dizer: “Que nada, é Brasil, vai acabar em pizza e logo tudo volta a acontecer”. Sim, existe este risco, mas é provável que as empresas sérias comportem-se como fiscais, pois tem interesses econômicos em evitar que as fraudes se mantenham ou se repitam. Diz o ditado antigo que é preciso quebrar os ovos para fazer omelete. Os ovos foram quebrados, agora cabe ao setor decidir se faz o omelete ou se joga os ovos fora. (MPN)
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