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Scot Consultoria

Crise financeira mundial... e aí?


Segunda-feira, 13 de agosto de 2007 - 10h04

Nos últimos dias as Bolsas do mundo todo despencaram. O câmbio, em contrapartida, reagiu. No Brasil, por exemplo, a cotação do dólar comercial passou de R$1,897 para R$1,951 em duas semanas, alta de 2,8%. Na última edição da revista Época, em matéria assinada por Alexa Salomão, foi publicada uma síntese, na verdade um passo-a-passo, para entender o que está acontecendo. Mais ou menos assim: 1. A abundância de recursos no mercado nos últimos anos deu forte impulso ao setor imobiliário nos EUA. As empresas que financiam a compra de imóveis aumentaram o volume de empréstimos concedidos; 2. Com dinheiro sobrando, os empréstimos passaram a ser feitos com menor rigor nas regras e nas taxas; 3. A inadimplência cresceu. Isso prejudicou financeiras de imóveis, especialmente as que fizeram operações mais arriscadas; 4. Suspeita-se que bancos e fundos tenham emprestado dinheiro a essas empresas. Eles também ficaram sem receber; 5. Alguns bancos têm se recusado a emprestar mais dinheiro a grandes fundos de investimento. Por isso, esses fundos não têm conseguido dinheiro para novas aplicações e até para honrar compromissos anteriores; 6. Para evitar quebrar, os fundos com perdas – como o do banco BNP Paribas – proíbem seus cotistas de sacar dinheiro. Isso tem aumentado o pânico no mercado. Vale destacar que, quando existe pânico no mercado, os investidores fogem de investimentos de maior risco, como títulos de dívida de países “emergentes”. O dólar vai embora, e o câmbio sobe. Além do mais, como ninguém sabe direito quantos e quais fundos ou bancos estão devendo, também é difícil saber se a crise é passageira ou se veio para ficar. O que esperar? Primeiro é preciso considerar que o Brasil está mais preparado para enfrentar crises, graças ao bom nível de reservas internacionais, à quitação das dívidas com o FMI, ao aquecimento do mercado doméstico, etc. Mas não está imune a elas. Se for algo passageiro, ou seja, se a economia norte-americana realmente se desacelerar num ritmo que vem sendo chamado de “pouso suave”, sem que a crise contamine seriamente o resto do mundo, tudo bem. Essa ligeira desvalorização do real pode até dar uma mão aos exportadores nacionais. Alguns setores, como aqueles ligados à cadeia coureiro-calçadista, amargaram uma forte perda de competitividade em função, dentre outras coisas, da queda da taxa de câmbio. Mas se houver recessão mundial, aí o problema se avoluma. Não adianta o câmbio reagir se o mundo parar de comprar. Com a economia mundial crescendo acima de 4,5% ao ano, as exportações de commodities, notadamente alimentos, evoluíram significativamente. Bom para países com bases sólidas no agronegócio, como é o caso do Brasil. Aliás, esse cenário favorável em termos de demanda, que sustentou um aumento dos preços internacionais, amenizou os efeitos da valorização do real. Mas se a economia mundial desacelerar, as exportações tendem a diminuir. A fuga de capitais, por conta da crise financeira, e o recuo das vendas externas favoreceriam a desvalorização da moeda nacional, que leva à retração do poder de compra da população local. Aí seria o pior dos mundos: mercados frouxos dentro e fora do Brasil. Voltamos à cadeia coureiro-calçadista para um exemplo. A reação do dólar, por um lado, favorece os exportadores de couro. Porém, a crise do setor imobiliário norte-americano levou à retração da demanda por couro acabado por parte do setor moveleiro daquele país. Esse couro é importado, dentre outros, do Brasil e da China. Já o couro acabado chinês é produzido, principalmente, a partir de wet blue brasileiro. Portanto, direta ou indiretamente, os curtumes do Brasil já sentem os impactos da crise nos Estados Unidos. É cedo para traçar algum prognóstico confiável sobre os desdobramentos da crise do setor imobiliário dos Estados Unidos, que já acomete o mercado financeiro mundial. De toda a forma, vale a pena ficar de olho. (FTR)
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