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Scot Consultoria

Quem precisa ter medo da carne bovina brasileira?


Quarta-feira, 18 de julho de 2007 - 10h02

Com certeza não é o consumidor europeu, pois a carne brasileira é barata, saudável (segura) e de qualidade. Lógico que, a fim de atender algumas exigências mais específicas, é preciso avançar em questões relacionadas, principalmente, à sanidade e à rastreabilidade. Ninguém nega isso. Mas o produto nacional não apresenta, de forma alguma, risco à saúde dos consumidores da Europa. Já o medo por parte dos produtores europeus é compreensível e, até certo ponto, justificável. Afinal, em termos de competitividade, a carne bovina brasileira está “anos luz” à frente da carne da Europa. Um parâmetro: em 2006, de acordo com pesquisa realizada pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), os custos de produção de carne bovina no Reino Unido e na França ficaram, respectivamente, 347% e 163% acima daqueles registrados no Brasil. Isso com base em sistemas de produção intensivos. Isso porque existe um negócio que se chama “aptidão”. Da mesma forma que o Brasil, por exemplo, não tem como competir no mercado de produtos de alta tecnologia com EUA e Japão, a Europa não tem como fazer frente ao Brasil em termos de produção de alimentos. Essa é a realidade. Como se costuma dizer, “cada um na sua”. O Brasil possui abundância de terras, água, luz, temperatura ideal, forrageiras e rebanhos adaptados, mão-de-obra barata e qualificada para a lida no campo, instituições de pesquisa e indústrias de insumos de primeiro mundo, e por aí vai. Nesse sentido, a única saída que os produtores europeus encontram, para proteger seus mercados contra a carne brasileira, é apontar problemas inexistentes e tentar, na base da pressão e da barulheira, levar a um embargo contra o Brasil. Como o parlamento Europeu não tem atendido a reivindicações desse tipo, fica bastante claro que elas refletem apenas o interesse de alguns grupelhos, e não a vontade da grande maioria dos consumidores europeus. Nesse sentido, para reforçar nossa posição, vale a pena reproduzir abaixo uma análise que já havia sido divulgada, há algumas semanas, neste mesmo espaço. (FTR) A União Européia pode mesmo parar de comprar carne bovina do Brasil? Produtores da França e da Irlanda voltaram a solicitar embargo total à carne bovina do Brasil. Parece até que virou moda, quase toda semana é isso. As razões são as de sempre: alegam que o Brasil não atende às exigências do bloco, principalmente aquelas relacionadas à sanidade e à rastreabilidade. O embasamento e a mobilização brasileira em torno de atender, ou não, as reivindicações européias não são o foco dessa análise. A questão que se pretende discutir aqui é se a União Européia pode mesmo se “dar ao luxo” de ficar sem a carne brasileira. De acordo com o último relatório da FAO (órgão das Nações Unidas para questões de agricultura e alimentação), o déficit de carne bovina na União Européia alcançou 500 mil toneladas equivalente carcaça em 2006, ou seja, todo esse montante precisou ser importado. Acompanhe agora, na tabela 1, as estimativas da FAO para a produção, consumo e exportação de carne bovina, do bloco europeu, em 2007. Em síntese, a União Européia precisará importar 600 mil toneladas equivalente carcaça de carne bovina em 2007. Isso equivale, por exemplo, a 50% das exportações totais da Austrália (segundo maior exportador do planeta) ou 100% das exportações da Argentina (que está entre os cinco maiores exportadores mundiais). O déficit europeu de carne bovina, que já era elevado, vai crescer 20% em relação a 2006. Portanto, embargar o principal fornecedor, sem que exista uma razão concreta, ou tecnicamente justificável para tanto, não parece boa idéia. Que outro exportador poderia atender de forma eficiente a demanda européia? O Uruguai está “ocupado” com os Estados Unidos. Austrália e Nova Zelândia precisam atender os asiáticos e sofrem com um ajuste produtivo por conta de problemas climáticos (seca). A Argentina, por sua vez, tem praticado auto-embargo e, por fim, a própria produção européia, de acordo com a FAO, não deverá evoluir a contento. Alguém pode lembrar que os Estados Unidos estão voltando ao mercado. Mas será que os europeus, tão rigorosos e exigentes, irão aceitar a carne norte-americana? Não faz muito tempo que a “vaca louca” andou passeando pelas terras do Tio Sam. Sem contar o uso de hormônios, alimentos derivados de organismos geneticamente modificados, etc. Em síntese, a União Européia pode até levar a cabo as ameaças e banir de vez a carne brasileira de seu território. Mas, para tanto, a população local precisa estar consciente de que terá que comer mais carne branca e pagar uma fortuna pelas migalhas de carne vermelha disponíveis. (FTR)
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