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Scot Consultoria

Boi não voa, e nem a vaca!


Quarta-feira, 18 de julho de 2007 - 10h01

Sorte deles! Azar de quem precisa! Nada a ver com o propósito do site da Scot Consultoria, mas o acidente aéreo de ontem exige um desabafo. Talvez esse texto nem passe pelo rigoroso crivo técnico de quem analisa nossas notícias, mesmo assim me sinto bem em escrever. Solidarizo-me emotivamente com as famílias de todas as vítimas do acidente de ontem no aeroporto de Congonhas. Coloco-me no lugar dos, pelo menos, 180 mortos (números divulgados até o momento). Pessoas comuns, que iam para reuniões de negócios em São Paulo, voltavam de um cansativo dia de trabalho de Porto Alegre – e olha que aeroporto tem sido bom em manter as pessoas cansadas, ou ainda, esperavam ansiosos para chegar em Salvador para as tão merecidas férias. Tragédia, das grandes. A imprensa fala do maior acidente aéreo brasileiro. Baseiam-se na fria estatística. No número de mortos! Mas cada um daqueles que estavam lá tinham uma história, um sonho, um plano. Como sempre acontece, enquanto desciam, pensavam na esteira de bagagem, se perderiam a conexão e como seria o dia: o re-encontro com a pessoa amada, o desafio profissional e o relaxamento no curto período de férias. Relaxamento... Me faz lembrar das palavras de uma Ministra de Estado, ex-prefeita de São Paulo e política das mais influentes do País: Relaxa e Goza! Infeliz frase. Deveria ser relaxe e reze, pois ninguém faz nada por você, pela sua segurança, pelo seu bem estar. No polêmico filme “O Clube da Luta”, o personagem perturbado de Edward Norton denomina como “amigos descartáveis” aquelas pessoas que se sentam ao nosso lado em aviões. Não sei porque lembrei disso. Mas nestes tempos de crise nos aeroportos a gente acaba fazendo muitos “amigos descartáveis”, daqueles que nunca mais veremos. Formam-se rodas reclamando da conexão perdida, da fila do check-in, do péssimo atendimento, da lotação na lanchonete, etc. Nunca foi tão fácil fazer “amigos descartáveis”. E quantos destes se foram ontem...? E nas últimas semanas o comentário que eu mais escutei de diversos passageiros e, confesso, até eu mesmo desabafei: -“Vão esperar acontecer outra tragédia para resolver esse caos que dominou a aviação civil.” Taí a tragédia. E o noticiário confirmou as profecias dos desesperados passageiros: Lula convoca diversos ministros para formar um comitê de crise, ou sei lá que nome darão (na verdade, nome não significa nada). Demoraram um ano para perceber que há uma crise. Qual o problema? Ranhura que não foi feita na pista, fadiga dos pilotos vivendo sob estresse, pouco tempo para manutenção, aeroportos super-lotados, excesso de pousos e decolagens...? Não interessa! O fato é que poderia ser evitado. E estamos dependendo de um governo que não sabe de nada, não viu nada, que manda relaxar e gozar, que diz que não há problema aéreo, que é culpa do estonteante crescimento da economia, etc. E a melhor de todas...”a melhor maneira de se evitar um acidente é o avião não decolar”, frase proferida por um dos responsáveis pela aviação civil no Brasil. Não lembro quem disse, mas não me cobrem perfeição nas citações. Eu realmente não me importo com fanfarrões, incompetentes, despreparados e incapazes de qualquer sensibilidade com a população que governam. São frases que entram e saem sem importância conjuntural, mas acabamos lembrando delas nestes momentos. As vítimas do acidente são vítimas do descaso, vítimas da política de pouca ação e muito discurso. Tragédia é o resultado matemático da união da incompetência com o poder. Alguém paga essa conta. Ressalto minha solidariedade. Ainda mais quando lembro que apenas em 2007, membros da enxuta equipe da Scot Consultoria pegaram em cinco ocasiões essa mesma linha, a do vôo JJ3054. No fatídico vôo de ontem, estavam pessoas como nós: profissionais ou jovens, com suas histórias pessoais, apenas querendo ganhar e aproveitar a vida. Em nome da Scot Consultoria, apresento nossas condolências a todas as famílias das vítimas. Esperamos realmente um pouco mais de seriedade a partir de agora. Com segurança não se brinca, com segurança não se discursa, segurança exige ação, rápida, imediata e eficaz. (MPN)
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