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Scot Consultoria

Uma vaca incapaz de enlouquecer


Sexta-feira, 16 de março de 2007 - 09h38

A doença da vaca louca (bovine spongiform encephalopathy) matou mais de 180 mil vacas e forçou o sacrifício de parte do rebanho bovino da Inglaterra. Os quase 400 mil animais infectados que entraram na dieta dos ingleses são os prováveis responsáveis pela morte das 150 pessoas que desde 1980 contraíram a forma humana da doença. Em 2003, o aparecimento de uma única vaca com a doença nos EUA levou diversos países a proibirem a importação de carne americana. Agora cientistas dos EUA construíram vacas geneticamente modificadas nas quais é impossível que a doença se desenvolva. A doença da vaca louca é infecciosa, mas não é transmitida por vírus ou bactéria. Na verdade não é transmitida por um ser vivo, mas sim por uma proteína chamada prion protein (PrP). Essa proteína é codificada por um gene que existe tanto nos bovinos como nos seres humanos e existe no cérebro de todos nós. A doença ocorre quando algumas das moléculas de PrP se enovelam de maneira errada (proteínas têm a forma de longos fios que se enrolam espontaneamente). Essas proteínas mal enoveladas induzem outras cópias da PrP a também se enovelarem de maneira errada provocando uma reação em cadeia. Na medida em que este fenômeno se espalha, provoca a degeneração do cérebro e a loucura nas vacas. A doença se espalha quando um animal ingere a proteína mal enovelada. Na Inglaterra, a doença se espalhou entre os bovinos porque era costume adicionar restos de animais (osso moído e cérebro) à ração. No Brasil, como a maioria do rebanho só come pasto a doença ainda não apareceu. Quando uma pessoa come carne de uma vaca infectada ocorre um fenômeno semelhante. Stanley Prusiner ganhou o Prêmio Nobel em 1997 por ter descoberto o mecanismo de funcionamento dos prions. Reação neutralizada É fácil entender que um animal que não produza a proteína PrP é incapaz de contrair a doença. Mesmo se ingerir um pouco de PrP mal enovelada, a reação em cadeia não ocorre por falta de PrP. Mas se retirarmos do genoma de um animal o gene que codifica a PrP o animal ainda sobrevive e é normal? Um grupo de cientistas resolveu “fabricar” vacas sem o gene da PrP para testar a idéia. Primeiro isolaram células-tronco de vacas holandesas e inseriram nelas um fragmento de DNA bem no meio do gene PrP, destruindo sua capacidade de produzir a proteína PrP. Depois utilizaram as células para construir embriões que foram implantadas em vacas. No final obtiveram 12 bezerros que foram estudados por quase dois anos. Como esperado, os bezerros não têm PrP no corpo. Além disso, todos os exames realizados até agora indicam que os bezerros são absolutamente normais, apesar de não terem a proteína PrP. Alguns dos animais geneticamente modificados foram sacrificados e utilizando extratos de seus cérebros foi comprovado que a reação em cadeia de enovelamento das PrPs não ocorre. Isso demonstra que essas vacas são incapazes de desenvolver a doença e portanto de transmiti-la para humanos. É possível que no futuro toda carne bovina consumida por nós seja produzida por essas vacas transgênicas, as primeiras incapazes de ficar loucas. Mais informações em Production of cattle lacking prion protein, Nature Biotechnology, volume 25, página 132, de 2007. Fonte: O Estado de São Paulo. Vida&. Por Fernando Reinach. 15 de março de 2007.
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