• Domingo, 28 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Para liderar uma revolução tecnológica


Quinta-feira, 8 de março de 2007 - 09h51

É cada vez mais comum observarmos tecnologias bem estabelecidas serem substituídas rapidamente. Discos de vinil foram trocados por CDs em poucos anos. Em muitos casos essas revoluções permitem que a liderança tecnológica migre para outro país. É o caso do Japão, que dominou a indústria eletroeletrônica aproveitando uma troca de tecnologia. Com a substituição das válvulas pelos transistores e a subseqüente miniaturização dos componentes, empresas japonesas praticamente destruíram a indústria de rádios e televisores norte-americana. Décadas mais tarde, países como Taiwan enriqueceram com a produção de componentes eletrônicos. O Brasil nunca esteve no epicentro de uma revolução tecnológica, mas isso pode mudar. A decisão de diversos países de substituir parte do petróleo por biocombustíveis pode ser o início de uma dessas mudanças tecnológicas. Caso a tendência se confirme, a tecnologia brasileira de produção de etanol pode colocar o País em posição privilegiada. Desde 1970 o Brasil vem desenvolvendo tecnologias capazes de diminuir o custo de produção do etanol. Em paralelo desenvolvemos os motores a álcool e descobrimos a duras penas como uma frota de veículos dependentes exclusivamente desse combustível colocou os consumidores sob a espada dos usineiros. Aprendida a lição, desenvolvemos os motores flex, que permitem transição gradativa dos combustíveis fósseis para os renováveis através da adição gradativa do álcool à gasolina, estratégia já adotada por todos os países. Hoje somos o único país em que esse pacote tecnológico está implantado e funcionando. É esse pacote que o presidente Bush veio buscar. Mesmo antes de os EUA iniciarem seu programa de etanol, todos sabiam que produzir etanol a partir do amido de milho é caro e inviável em larga escala. Os EUA criaram seu mercado doméstico subsidiando a produção de álcool a partir de amido, agora precisam dar o próximo passo. Nesses últimos anos, diversos estudos demonstraram que no longo prazo a maior parte dos biocombustíveis será produzida nos trópicos, onde muita luz, altas temperaturas e abundância de água favorecem a fotossíntese. E nos trópicos nada bate a cana-de-açúcar. Além do Brasil, provavelmente Caribe, América Central, Ásia e a África serão os principais produtores de etanol, mas para isso vão necessitar da tecnologia brasileira. E aí reside nossa oportunidade de liderar uma revolução tecnológica. No Brasil nem sequer reconhecemos nosso avanço tecnológico. Quando pensamos em álcool, o que vem à mente são senhores de engenho que exploram mão-de-obra barata e não pagam seus empréstimos. Mas isso é só parte da verdade. A sofisticação tecnológica presente nas melhores usinas, tanto no plantio da cana como em seu processamento industrial, é enorme. Tampouco valorizamos o capital humano presente nos milhares de engenheiros e técnicos que dominam e desenvolvem a tecnologia e quase ninguém sabe que possuímos um “Silicon Valley do álcool”, com centenas de pequenas empresas inovadoras em Sertãozinho, no Estado de São Paulo. Foi utilizando vantagens como essas, combinadas com uma estratégia clara, que os chamados Tigres Asiáticos enriqueceram com os semicondutores. Falta uma estratégia que permita ao Brasil liderar a transição tecnológica. Não conheço os planos do governo para garantir nossa propriedade intelectual em nível global nem como vamos garantir os investimentos necessários para sustentar nossa superioridade tecnológica. Parece que as negociações devem girar em torno do imposto de importação de etanol cobrado pelos EUA. Se isso representar o pagamento pelo acesso ao nosso pacote tecnológico, estamos vendendo barato. Se for o pilar de nossa estratégia para liderar uma revolução tecnológica global, é no mínimo insuficiente. Fonte: Estado de São Paulo. Vida&. Por Fernando Reinach. 08 de março de 2007.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja