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Scot Consultoria

Radar sanitário para setembro


Quinta-feira, 31 de agosto de 2023 - 08h39

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


 


Preparo para estação de monta: vacinação contra leptospirose

Para as fazendas que iniciam a estação de monta em outubro (grande parte do Brasil-Central Pecuário: planícies de SC, PR, todos estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, RO, AC e sul do AM, PA, MA e PI, centro e sul da BA), recomenda-se vacinar duas vezes as reprodutoras contra leptospirose: um mês antes da estação de monta e no dia anterior ao início desta.


A leptospirose pode provocar mortalidade embrionária, o aborto entre o 5º e 8º mês de gestação e o surgimento de bezerros fracos. Cerca de 90,0% dos casos são transmitidos pela própria urina da vaca infectada com a bactéria (Leptospira sp.) que contamina aguadas e pastagem, 5,0% por transmissão venérea pelo touro e 5,0% por ratos. A leptospirose ocorre em todo território nacional, entretanto é mais frequente nos rebanhos do Centro-Oeste, com destaque ao Pantanal, Norte e regiões baixas do estado do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. 


Vermifugação estratégica no RS e no planalto catarinense

Diferente do Brasil-Central em que a vermifugação estratégica em bovinos desmamados até 2 anos de idade é feita em maio (05), agosto (08) e novembro (11), no estado do Rio Grande do Sul e no planalto catarinense, em que as condições climáticas são diferentes, a vermifugação é feita em março (03), junho (06), setembro (09) e novembro (11). Segundo recomendações de especialistas gaúchos, a vermifugação pode ser feita em setembro com anti-helmínticos a base de fembendazole ou moxidectina.


Focos e surtos de doenças Brasil afora

Surto de babesiose no Ceará


Um surto de babesiose está ainda acometendo muitos bovinos, principalmente adultos com mais de 10 meses de idade, na região de Quixeramobim e de Jaguaribara, no Ceará. A babesiose é uma doença causada por um protozoário (Babesia bigemina), que é transmitido pelo carrapato comum (Rhipicephalus microplus). Tal protozoário se multiplica nas células vermelhas do sangue, causando seu rompimento dentro dos vasos sanguíneos, o que provoca a eliminação de uma urina achocolatada ou cor de vinho do Porto (figura 1), podendo levar a morte em casos graves. Os bovinos doentes têm febre, anemia, desânimo, perda de apetite, cor amarelada da parte branca do olho (figura 2), deitam-se e podem morrer.


Esse grande número de casos no CE, é decorrente de uma alta infestação de carrapatos desde abril deste ano até o momento. Como a infestação de carrapatos, nessa região, fica tradicionalmente bem diminuída a partir de julho, quando acaba o período chuvoso, até o próximo ano (geralmente até o final de março), a falta de contato com este parasita gera uma menor produção de anticorpo contra a B. bigemina, tornando os bovinos adultos mais propensos a terem a doença. Acontece que no primeiro semestre de 2023, nos municípios citados acima, foi muito chuvoso, tendo uma pluviosidade acima de 850mm (mais do que média anual de 700mm), o que facilitou a sobrevivência das formas jovens do carrapato nas pastagens.


Foi citado que algumas dessas propriedades trataram os bovinos com carrapaticidas, mas sem sucesso devido à grande resistência dos carrapatos aos medicamentos empregados. A Embrapa Gado de Leite faz teste gratuito com seus carrapatos para saber qual é o carrapaticida mais eficiente para seu rebanho. Para saber mais detalhes escreva para (marcia.prata@embrapa.br e cnpgl.carrapato@embrapa.br). Posso garantir que os resultados obtidos por esse teste laboratorial de eficiência dos vários carrapaticidas “funciona e é pra lá de bom!”


Figura 1.
Urina de bovino com babesiose.



Fonte: Enrico L. Ortolani


Figura 2.
Olho amarelado em bovino com babesiose. 



Fonte: Enrico L. Ortolani


Intoxicação por barbatimão no Mato Grosso


Vários bovinos adultos morreram por alta ingestão de favas de “barbatimão” (Stryphnodendron obovatum) (figura 3) numa grande propriedade no município de Curralinho, na divisa dos estados do MT e de GO. O quadro é crônico. Os bovinos vão aos poucos emagrecendo, se tornando mais apáticos, diminuem seu apetite, alguns tem salivação espumosa, pode ter inchaço debaixo da ganacha (região submandibular), diminuem a ruminação e as fezes aos poucos vão ficando secas, bem escuras, mal-cheirosas e eliminadas em menor quantidade. Na fase final do quadro, os bovinos quando bamboleiam as cadeiras, semelhante a um quadro de raiva paralítica, ficam muito desidratados e morrem. É comum o aborto em vacas prenhes no decorrer do terço final de gestação.


A intoxicação é causada pela alta ingestão das favas de barbatimão, que caem no solo no começo da estação de seca, coincidindo com a diminuição da oferta de capim. Alguns bovinos se tornam viciados e passam a comer de forma incontrolada tais favas que contêm saponinas e taninos e, em excesso, são cáusticos para os intestinos fazendo com que o órgão fique danificado e perca sangue.  


Esse tipo de barbatimão é uma árvore nativa do cerrado, com copa arredondada, podendo crescer até 6m de altura. Ela é encontrada em vastas áreas do MT, MS, Triângulo Mineiro e noroeste de SP. Na referida propriedade existia uma grande quantidade de barbatimão, sendo que na necropsia foi encontrada no bucho (rúmen) grande quantidade de sementes, e as alterações fecais consideradas indicativas da doença. As queimadas não matam a planta, mas, segundo a Embrapa, o anelamento (descascamento da planta em grande área do tronco), faz com que a planta morra. O combate a essa árvore é vital para encerrar a mortandade.


Figura 3.
Foto da árvore, ramo e fava de barbatimão.



Fonte: Carlos H. Tokarnia


Figura 4.
Vaca magra na propriedade citada. No fundo, a esquerda, árvore de barbatimão.



Fonte: Enrico L. Ortolani


Figura 5.
Conteúdo ruminal, abomasal e intestinal de cor escura, odor fétido e relativamente seco.



Fonte: Enrico L. Ortolani


Figura 6.
Vaca morta pela ingestão de barbatimão.



Fonte: Enrico L. Ortolani


Figura 7.
Abertura da semente de uma fava de barbatimão.



Fonte: Enrico L. Ortolani


Cisticercose bovina em fazendas do MS e de SP


Segundo informações recebidas e checadas, casos de cisticercose bovina foram detectados em bovinos abatidos de duas grandes fazendas no MS e em SP. No MS, o problema foi descrito num confinamento de um produtor que compra um pouco mais da metade dos bovinos que engorda. Cerca de 500 carcaças de bovinos, no decorrer de 2023, tiveram que ser tratadas no frigorífico após o achado de até sete cisticercos vivos ou calcificados/carcaça. Para esse tratamento, os frigoríficos descontaram do cliente um certo valor (veja a próxima matéria). Coincidentemente, todos os bovinos que apresentaram o problema foram comprados de recriadores de diferentes regiões do MS.  Segundo os técnicos que atendem este confinamento as condições higiênicas-sanitárias são das melhores, com o tratamento completo da água ofertada e produção de alimentos dentro dos protocolos de assepsia. Agora os técnicos do MS estão checando as fazendas que venderam os bois magros, pois em muitos casos eles bebem água em fontes contaminadas, tendo também os alimentos ofertados com presença de fezes humanas, muitas delas contendo ovos de Taenia saginata, que dão origem à cisticercose bovina. 


Na região de São José do Rio Preto-SP, o problema foi de menor monta, mas que culminou com a detecção de 2,0% dos bovinos abatidos com cisticercose. Depois de uma investigação, apurou-se que um dos funcionários da propriedade estava com teníase, eliminando ovos pelas fezes, que contaminaram um canavial, que servia de volumoso para a boiada do confinamento. A permanência destes ovos em locais sombreados (canavial) é bem longa e podem aí permanecer vivos e ativos por mais de 10 meses. Especula-se que na colheita da cana, com uso de máquina, possa ter vindo junto alguns ovos que contaminaram o alimento e resultaram na sua detecção no frigorífico. O caso em questão está sendo combatido com um devido esclarecimento a todos os colaboradores para não defecar no meio ambiente, assim como pelo tratamento do funcionário com o vermífugo a base de praziquantel, que mata a tênia no homem!


Figura 8.
Cisticerco vivo (1cm) no musculo da bochecha (Masséter). 



Fonte: Bruno S. de Moura


Figura 9.
Foto cisticerco calcificado (1cm) no músculo da bochecha (Masséter).



Fonte: Bruno S. de Moura


Frigoríficos do MS taxam desigualmente por tratamento de cisticercose

Segundo informações que recebi de pecuaristas e de técnicos, vários grandes e representativos frigoríficos do MS têm taxado de forma desigual o tratamento das carcaças de bovinos com presença de cisticercos.


Segundo a legislação vigente, o encontro de um ou mais (até sete) cisticercos vivos ou calcificados, após a retirada manual destes, as carcaças devem ser tratadas pelo frio (colocação em câmara especial, na temperatura de -10ºC por 10 dias) ou pelo calor para a destruição dos referidos cisticercos. Por uma questão técnica, operacional e econômica por parte dos frigoríficos, a esmagadora maioria destes têm optado pelo tratamento pelo frio. Mas na realidade esses frigoríficos têm descontado do pecuarista 30,0% do valor da carcaça para tratamento de cisticercos calcificados (mortos), subindo para 50,0% caso sejam encontrados cisticercos vivos. Acontece que nas duas condições o tratamento térmico é o mesmo, não justificando essa diferença de cobrança. Abrimos aqui, nesta coluna, um espaço para que os frigoríficos, ou quem os represente, e os dirigentes do RIISPOA-MAPA possam fazer seus esclarecimentos. Como dizia aquele antigo humorista: “Perguntar não ofende!”.    


Caso humano de mormo no RN, após contato com égua contaminada

Segundo informações sigilosas, mas confiáveis e técnicas, ainda não confirmadas oficialmente pelo SESAP-RN (Secretaria Estadual de Saúde Pública), isolou-se de um paciente humano a bactéria Burkholderia mallei, causadora de mormo em equídeos (cavalos, burros, mulas e jumentos) e que ocasionalmente pode causar doença em seres humanos. A pessoa infectada é um criador de equinos numa cidade do interior do RN. Segundo o que foi apurado, o criador recebeu uma égua para ser coberta por seu garanhão. Alguns dias após o contato com a égua, aparentemente sem sintomas de mormo, o fazendeiro começou a ter um quadro de febre, fortes dores de cabeça e no corpo. Procurou o hospital local que o encaminhou para um hospital de grande porte na capital do estado. Após informar que teve contato com um equino, além da evolução da doença, os médicos suspeitaram de mormo, iniciando o tratamento para essa enfermidade. O quadro clínico se agravou inicialmente, mas aos poucos cedeu e a pessoa melhorou bastante e já retornou a sua residência, embora ainda não esteja andando.


Segundo a literatura, existem quatro diferentes quadros clínicos de mormo em pessoas: a pulmonar, a generalizada, a que forma abscessos pelo corpo e os quadros crônicos. Nos dois primeiros a morte acontece em 80,0% dos pacientes, enquanto nos dois últimos ao redor de 50,0%. Um trabalho recente (2022), publicado na Revista Brasileira de Doenças Infecciosas, já identificou pela primeira vez essa zoonose em seres humanos no Brasil, com o isolamento da bactéria causadora, num garoto sergipano de 11 anos, que cuidava de cavalos, e que após uma longa internação conseguiu se livrar da enfermidade. 


Segundo dados da fonte consultada, isolou-se da égua potiguar a mesma bactéria, sendo recomendado seu sacrifício. Dados oficiais indicam que só neste ano já foram confirmados 20 casos de mormo em equídeos no RN, sendo interditado 13 fazendas com casos positivos, para evitar a disseminação da doença. Com exceção do Acre, Tocantins e Roraima, o mormo já foi diagnosticado em todos os estados brasileiros, estando muito alastrado nos estados nordestinos.


Equídeos com mormo podem ter febre, abatimento, tosse, eliminação de catarro ou pus pelas narinas e pelos olhos, presença de feridas pelo corpo, formação de abscessos, íngua e muita dificuldade para respirar. Os animais com quadro crônico emagrecem e pode morrer. Para conter a doença, que aos poucos se espalha pelo Brasil, o MAPA recomenda o sacrifício dos animais positivos, a interdição das fazendas com casos comprovados, e resultado de exame laboratorial negativo para permitir o transporte de equídeos. Sugere-se também que todo cavalo comprado seja isolado (quarentena) por um tempo da tropa, para que no caso de exibir a doença não a transmita para outros animais. Evite manipular animais suspeitos da doença. Como diz o ditado popular: “Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém!”     


Figura 10.
Sintomas clínicos em cavalos com mormo



Fonte: Gustavo N. Diehl


Focos e surtos recentes de raiva bovina, pelo Brasil afora

MG – Delfim Moreira; Morada Nova de Minas; Dores do Indaiá; Luz e Muzambinho;


SP – Juquitiba e Miracatu;


RS - Santa Maria; Dois Irmãos das Missões; Gravataí e São Francisco de Assis;


ATÉ O MÊS DE OUTUBRO!


*Caro colega veterinário, caso tenha informações recentes de focos ou surtos de doenças em bovinos de corte nos envie a informação, pelo e-mail: ortolani@usp.br



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