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Scot Consultoria

Manejo sanitário para dezembro


Segunda-feira, 28 de novembro de 2022 - 16h00

Médico-veterinário pela Universidade de São Paulo. É professor titular do departamento de clínica médica pela FMVZ-USP, especializado em Clínica de Ruminantes (ortolani@usp.br).


Foto: Bela Magrela


Em dezembro, poucas atividades aparentemente são feitas nas fazendas de boa parte do Brasil, ideal para fazer um balanço geral sanitário do que ocorreu no ano.


Vacinação contra clostridioses em bezerras

No mês passado, em que foram vacinadas as bezerras contra brucelose, sugeri adiar a vacinação contra clostridioses para este mês, visto que um recente estudo brasileiro indica que não se deve vacinar ao mesmo tempo contra brucelose e clostridioses, pois isto faz com que a produção de anticorpos e proteção contra as clostridioses diminua para valer, colocando em risco os animais.


Assim, chegou a hora agora de vacinar as fêmeas contra as clostridioses, lembrando que os bovinos, a partir de quatro meses, devem receber duas vacinações com espaço de um mês.


Nota importante: as vacinas brasileiras contra as várias clostridioses retiraram do produto a proteção contra o carbúnculo hemático (uma outra clostridiose). Assim, as regiões que têm risco dessa última doença, em especial o Sul do Rio Grande do Sul, devem fazer uma vacinação extra com vacinas exclusivas (laboratórios Venco e Labovet) que contenham bacterinas contra o Bacillus anthracis, causador desta doença.


Descarrapatização estratégica no RS e no planalto de SC

Segundo orientações da Embrapa, sugere-se a descarrapatização estratégica do gado bovino, nessas áreas citadas, para diminuir a futura infestação de carrapatos nas próximas estações do ano, que são mais problemáticas. Para decidir sobre que produtos utilizar, peça orientação ao seu veterinário de confiança, pois os carrapatos têm adquirido resistência contra múltiplos tipos de carrapaticidas. Para aumentar o índice de eficácia e escolher o carrapaticida ideal para sua propriedade faça o teste do biocarrapaticidograma. Além do Instituto Veterinário Desidério Finamor, também no Rio Grande do Sul, esse teste pode ser feito no Laboratório de Parasitologia da UNIPAMPA, contato através de WhatsApp +55999648232, ou pelo e-mail: parasitounipampa@gmail.com, ou pelo @parasitounipampa (Instagram).


Vermifugação estratégica contra fasciola hepática, no RS e nas regiões baixas de SC

Segundo orientação da Embrapa, nas regiões alagadiças e que contenham o caramujo que transmite as “larvas” de Fasciola hepatica (baratinha do fígado) do RS e de SC, sugere-se a vermifugação estratégica do rebanho contra este parasita, que causa grande perda de peso e anemia aos bovinos. Para tal, recomenda-se o uso, sempre consultando seu veterinário de plantão, as seguintes bases de fasciolocidas: tricabendazole, nitroxinil, clorsulon ou closantel.


Balanço geral sanitário do ano

Sugiro que, em dezembro, seja feito um balanço geral da saúde no seu rebanho, por meio do cálculo de um simples índice, desde que tenha o registro de todos os nascimentos e mortes no ano. Primeiro, quantifique o número global de bovinos de 1º de dezembro de 2021 a 1º de dezembro de 2022, presente nas seguintes categorias: A) bezerros até desmama; B) da desmama até dois anos; C) de dois a três anos; D) de três a 10; E) mais de 10 anos. Multiplique por 100 o número de mortes e o resultado deve ser dividido pelo número total de bovinos, dentro da mesma categoria. Com isso você obterá o número percentual de mortalidade no ano, para cada faixa de idade. Faça isso também com o total de seu rebanho criado no espaço de 12 meses.


A média de mortalidade geral nos rebanhos brasileiros é de 6% e nas categorias A) 8,5%; B) 3,5%; C) 2,5%; D) 1,0%; E) 3,5%. Países com pecuária de corte mais desenvolvida (EUA e Austrália) têm uma mortalidade média geral de 3,2% e nas categorias A) de 4,5% a 5%; B) 1,3%; C) 1,0%; D) 1,1%; E) 2,0%. Com seus dados calculados, analise com seu veterinário os gargalos sanitários que levaram a morte dos bovinos, nas diversas categorias, e trabalhem em conjunto para mudar o manejo sanitário da fazenda, a fim de atingir metas mais próximas dos países desenvolvidos. Boa sorte na empreitada!


Registro de doenças e parasitoses recentes

Foco de anaplasmose em bezerros recém-nascidos

Foi descrito, em três bezerros Brangus, com três a quatro dias de idade, criados em Presidente Prudente (SP), quadro severo de anaplasmose, com aparecimento de febre, apatia, anemia e posterior morte. Como não havia tempo suficiente desses bezerros contraírem a bactéria por infestação natural de carrapatos, acredita-se que eles tenham se contaminado pela passagem do agente pela placenta, no terço final de gestação. O gado Brangus tem muito mais facilidade (5x maior) de “pegar” carrapatos que o gado zebuíno puro (Nelore e Guzerá). A prevenção do problema foi por meio do controle dos carrapatos no decorrer da gestação das vacas e com quimioprofilaxia dos bezerros recém-nascidos, para eliminar “na raiz” a bactéria causadora da doença.


Figura 1.
Bezerro recém-nascido com anaplasmose.

Fonte: Enrico Ortolani


Surto de coccidiose em bezerros mineiros

Foram acompanhados dois surtos de coccidiose em bezerros com idade entre 35 e 55 dias. O primeiro em Sacramento (MG), num rebanho Nelore, e o segundo em Prata (MG), em meio-sangue Nelore-Angus. No primeiro, 20 dos 51 bezerros tiveram o problema, com a morte de dois deles; enquanto, no segundo, 30 dos 72 bezerros, apresentaram o quadro, com quatro mortes. Os bezerros tiveram desinteria (diarreia com presença de sangue vivo nas fezes), apatia, desidratação, menor ingestão de leite e perda de peso. Em ambas as propriedades, observou-se a presença de recentes chuvas pesadas, que causaram o surgimento de grandes poças d’água estagnada na pastagem em que estava a bezerrada. É possível que tenha ocorrido contaminação com fezes nessas poças e que os bezerros tenham contraído a infecção ingerindo essa água. O tratamento medicamentoso adequado e a retirada do lote para uma pastagem melhor drenada resolveram o problema.


Figura 2.
Bezerro com coccidiose.

Fonte: Enrico Ortolani


Mosca-dos-chifres infestam rebanhos das bordas da Amazônia e da região Sudeste

Todo ano é igual nessas regiões. A partir de meados de setembro começa o período de chuvas, que só aumentam em quantidade, atingindo seu pico em janeiro ou fevereiro, dependendo da região. Com isso cresce bastante a presença de mosca-dos-chifres (Haematobia irritans), que se multiplicam mais e numa velocidade maior quando a pluviosidade for entre 100 e 300 milímetros por mês. Para se ter uma ideia, se um ano inteiro só tivesse período seco, existiriam apenas 10 gerações de moscas, mas se em todos os meses chovesse de forma ideal (100-300 mm), existiriam 40 gerações e o número total de mosca seria sete vezes superior. Uma loucura!


Pois, com a chegada das chuvas explodiram a quantidade de mosca-dos-chifres nas bordas leste da região amazônica (Santa Fé do Araguaia-TO, Araguaína-TO e Buriticupu-MA) e em Sorocaba-SP, Presidente Prudente-SP e Ibiá-MG. Quando a população num bezerro for superior a 100 moscas, já começa a ter um menor ganho de peso. Com 300, o bovino deixa de ganhar 100 gramas por dia; vacas com mais de 120 moscas reduzem a fertilidade em 5%. O grande problema é como controlar a população das moscas, pois grande parte dos produtos “pour on” e os brincos mosquicidas têm perdido gradualmente sua eficiência. Novos métodos mais naturais de controle necessitam ser melhor estudados em nosso meio.


Figura 3.
Bovino muito atacado por mosca-dos-chifres.

Fonte: Enrico Ortolani


Mosca-dos-estábulos ataca gado “sequestrado” em Goiás

Um outro surto de mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) foi detectado em Rio Verde (GO) em cerca de 150 novilhas vazias, a maioria meio-sangue Nelore-Angus que estavam “sequestradas” num piquete e que recebiam no cocho feno de capim tamani e palhada de milho à vontade. Com a chegada das chuvas em outubro (150 mm), a temperatura média ideal (25º C) e o acúmulo de feno caído dos cochos e de fezes no local aumentaram tremendamente a multiplicação e a infestação de moscas no gado. Isso levou à irritação das novilhas e queda brusca de ganho de peso (figura 4). A mosca coloca seus ovos em material orgânico bastante umedecido, que neste caso era o feno de capim e palhada de milho.


Figura 4.
Novilha atacada por mosca-dos-estábulos.

Fonte: Lídia M. de Aquino


O controle dessa infestação não é tão fácil como se pensa. Mas recomenda-se a remoção semanal das fezes e restos alimentares contaminados do piquete, inclusive do volumoso debaixo dos cochos, e empilhamento com cobertura completa com lona plástica por 40 dias, podendo ser utilizado em seguida como adubo.


Além disso, também é recomendado a colocação, pela manhã ou entardecer, de várias armadilhas azul ou pretas contendo inseticida ou cola entomológica, 20 metros entre si, próximo ao piquete (figura 5).


Figura 5.
Armadilhas mosquicidas.

Fonte: Enrico Ortolani


A raiva continua a campear pelo Brasil


A raiva bovina continua a matar os bovinos brasileiros. Desta vez, identificado recentemente em seis estados, num deles num surto de maior proporção (Guarabira-PB; veja os comentários a seguir). Como comentado recomenda-se vacinar todo o rebanho que está em um raio de 13 km do foco de raiva identificado.


A seguir está a lista dos municípios que reportaram casos, nos seis estados:


Amazonas: Autazes e Careiro;


Mato Grosso: Nobres e Paranaíta (INDEA-MT);


Minas Gerais: São Gonçalo do Abaeté; Muzambinho; Santana dos Montes; Bueno Brandão; Passos, Carmo de Minas e Itutinga (IMA);


Paraíba: Alagoa Grande e um surto em Guarabira, com nove mortes, todos em animais de menos de 1 ano de idade. Acredita-se que pelo fato da vacinação da raiva neste estado ser anual, só são protegidos bovinos mais velhos já vacinados. Assim, recomenda-se a vacinação dos bezerros já com três meses de idade, revacinando-os um mês mais tarde;


Rio Grande do Sul: Santiago;


São Paulo: Quintana, Pompeia, São Miguel Arcanjo e Cunha. Neste último município, embora a captura de morcego tenha sido feita recentemente de forma exaustiva, morreram vários bovinos de rebanhos não vacinados (CDA-SP).


Figura 6.
Bovino com raiva.

Fonte: Enrico Ortolani


Referências bibliográficas


Coordenadoria de Defesa Animal e Vegetal, CDA-SP


Instituto de Defesa Agropecuária, INDEA-MT


Instituto Mineiro de Agropecuária, IMA



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