Ao contrário do que o setor esperava, a redução das vendas de fertilizantes se acentuou após o primeiro trimestre de 2009 e o segmento de defensivos agrícolas, que até o final do último ano parecia imune à crise, também sucumbiu. Se em 2008 foram os altos preços que limitavam as vendas do setor, este ano os baixos preços praticados no mercado de insumos não estão sendo suficientes para reverter a situação gerada pela expansão das sementes transgênicas no Brasil, a redução de área e a renovação de parte das lavouras em diversas regiões no mundo que tem inibido o uso e, consequentemente, a compra desses produtos.
A Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) prevê um decréscimo de até 15% nas vendas de defensivos agrícolas no País em relação ao ano passado, quando o volume comercializado somou US$7,12 bilhões. Sendo assim, a redução das margens das empresas desse segmento pode superar a marca de R$1 bilhão em 2009, caso não haja uma reação nas vendas no segundo semestre. “A estagnação do setor sucroalcooleiro e o menor crescimento do algodão nos trazem essa projeção. A expectativa agora é o milho safrinha, que teve resultados melhores do que o esperado”, afirmou José Otavio Menten, direto executivo da Andef.
Na Argentina, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, a Câmara de Sanidade Agropecuária e Fertilizantes divulgou previsão de queda da ordem de US$500 milhões nas vendas de defensivos no País neste ano, recuando de US$1,75 bilhão do ano passado para US$1,25 bilhão. De acordo com o órgão, 84% da retração se deve ao baixo preço do glifosato, o defensivo mais usado pelo setor agrícola.
Cenário parecido é enfrentado pelas indústrias de fertilizantes. Nos primeiros quatro meses do ano, as vendas do insumo recuaram 26,5% ante o mesmo quadrimestre de 2008. O número registrado no mês de abril aponta para uma tendência de retração ainda maior. A queda de 35,5% no volume de fertilizantes entregues ao consumidor final representa uma redução de quase 600 mil toneladas só nesse mês. No ano, o volume entregue recuou de 7,12 milhões de toneladas, para 5,23 milhões.
No Brasil, os fosfatados lideram a redução dos preços dos fertilizantes. De acordo com levantamento da Scot Consultoria, em maio, o superfosfato simples está sendo vendido, em média, a R$610,00 por tonelada, mas alguns negócios chegam a ser fechados por até R$450,00 por tonelada. “Os atuais preços estão quase 50% mais baixos que no mesmo período do ano passado. Vale lembrar que a matéria-prima utilizada na fabricação dos fosfatados continua em baixa. Além disso, a fraca demanda entre abril e maio refletiu na estabilidade dos preços nos dois últimos meses”, avalia Rafael Ribeiro de Lima Filho, analista da Scot. Segundo ele, a tendência é que a partir de julho, quando começa a crescer a procura para o plantio da safra 2009/2010, os preços subam. Mas devem permanecer em níveis de preço inferiores ao observado em 2008.
O aumento do plantio de sementes transgênicas também contribui para a queda das vendas, já que reduzem a necessidade do uso de defensivos de modo geral. Para Marcelo Menossi, Ph.D. em Genética Molecular e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o mercado de defensivos passará por mudanças e terá que modificar sua atuação. “Se não houver sensibilidade do mercado em entender que o produtor está menos capitalizado, irá perder clientes”, disse. Segundo Menossi, hoje muitas empresas estão correndo para desenvolver novas tecnologias e haverá uma disponibilidade cada vez maior de produtos, o que além de beneficiar o produtor pela diminuição dos preços por meio da concorrência, reduz o risco de pragas se tornarem resistentes aos defensivos.
Fonte: DCI. Agronegócios. Por Priscila Machado. 27 de maio de 2009.