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Scot Consultoria

Maior desmate pode estar mais ao Norte


Segunda-feira, 28 de janeiro de 2008 - 10h28

Enquanto o foco do desmate recai sobre o Estado de Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, há indicativos de que a retirada ilegal de florestas esteja crescendo mais ao Norte do País, nova fronteira da pecuária. A ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) estima que os focos de desmate no Pará, por exemplo, sejam o dobro dos 591 identificados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre agosto e dezembro de 2007. "A pecuária continua sendo o motor desse tipo de prática no bioma amazônico e achamos que, se houve aumento, ele ocorreu no Pará, Estado onde os satélites têm dificuldade de visibilidade por conta do número elevado de nuvens", avalia Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior do Imazon. A ONG estima que apenas um terço da pecuária presente na Amazônia seja tecnificada, exportadora e dentro da legalidade. "A atividade nessa região cresce 7% ao ano. O rebanho atual se aproxima de 75 milhões de cabeças nos nove Estados da Amazônia Legal", diz. Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, explica que, de fato, a área de pastagem no Brasil foi migrando por Norte, "empurrada", pela agricultura de grãos, com maior rentabilidade. O conflito sobre quem é o responsável pela iniciativa de desmate, se a atividade madeireira ou a pecuária é controversa. "A necessidade de abrir essa área com menor custo pode favorecer esse tipo de ‘parceria’ entre madeireiro e pecuarista", diz Rosa. Mas é evidente que é para o Norte que está se deslocando a oferta de bovinos. "Os grandes grupos frigoríficos estão instalados ou se instalando lá. No Pará, por exemplo, o Bertin tem quatro unidades, e o Minerva está construindo uma. Em Rondônia, onde há quatro anos não havia nenhum grande frigorífico, atualmente tem unidades do Friboi, do Marfrig, do Independência e do Minerva", exemplifica Rosa. O cenário é motivo de preocupação entre os líderes da atividade pecuária do Brasil. Sebastião Guedes, presidente do Conselho Nacional de Pecuária, diz que possivelmente o setor terá de criar uma certificação ambiental de propriedades pecuárias, assim como já está sendo feito com a soja, sob o risco de a situação evoluir para embargos não-tarifários na exportação. "Vamos pagar um preço caro se prosseguirmos com essa ocupação ilegal. A pecuária não precisa disso, tem como crescer somente com melhora de produtividade", diz Guedes. Ele não acredita que a ida dos frigoríficos tenha motivado o aumento do desmate. "A produção lá já existia. O que faltava era capacidade instalada de abate", diz. "A pecuária vai ter que encontrar modelo mais sustentável na região amazônica. Terá de aproveitar as características da região para fazer integração com florestas", aponta o consultor da Scot. Alguns frigoríficos - sobretudo os de capital aberto e os que buscam financiamento em instituições internacionais - estão mais criteriosos com aquisição de matéria-prima. "Essa preocupação vai aumentar cada vez mais. A adequação terá de ocorrer", avalia Rosa. Histórico Levantamento do Imazon identificou que, desde 1975, em torno de 730 mil quilômetros quadrados foram desmatados (entre os biomas cerrado e amazônico) nos Estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Amapá, Maranhão e Tocantins). A dimensão equivale às áreas dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Desse total, segundo Veríssimo, 78% foram ocupados pela pecuária. Ele estima que 10% estejam cultivados com soja e os 12% restantes, com outros grãos. "Uma área do tamanho dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo está abandonada porque, depois de cinco ou seis anos de ocupação, a terra se empobrece para pasto", detalha Veríssimo. E aí, completa ele, o pecuarista migra para outra área. Sistema O sistema de detecção de desmatamento via satélite é uma ferramenta importante para as secretarias de meio ambiente que fiscalizam, mas não podem ser usadas diretamente como fonte de informação real do que está de fato ocorrendo, segundo o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luiz Henrique Daldegan. Checagem in loco dos 113 pontos de desmatamento identificados pelo sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre abril e setembro concluiu que 80,5% eram erros de imagem. Fonte: Gazeta Mercantil. Caderno C. Por Fabiana Batista. 28 de janeiro de 2008.
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