O diretor do CMA, Luciano Morgan, fala sobre os avanços da pecuária brasileira, a força da inovação e o papel das pessoas na construção de resultados consistentes.
Foto: Bela Magrela
A evolução do Brasil como produtor de carne tem evidenciado o potencial da pecuária de corte nacional, reduzindo a diferença tecnológica e de gestão em relação aos Estados Unidos. Para trazer uma perspectiva sobre esse avanço, convidamos Luciano Morgan, profissional com ampla experiência nacional e internacional e diretor do Confinamento Monte Alegre (CMA), referência no país. Ele destaca o amadurecimento da pecuária brasileira, impulsionado por inovações tecnológicas e pela gestão estratégica de pessoas, fundamentais para a expansão sustentável dos negócios. Morgan também comenta a importância dos indicadores na formação e retenção de talentos.
Scot Consultoria: Quando olhamos para as diferentes fases da pecuária (cria, recria e engorda), ainda existe um intervalo tecnológico importante na cria, especialmente nas taxas de desmame e prenhez. Já no confinamento, observamos avanços significativos, com estruturas e resultados muitas vezes comparáveis, ou até superiores, aos dos Estados Unidos. Como vocês avaliam o posicionamento do Brasil nesse cenário global da cadeia de carne?
Luciano Morgan: Eu acredito que estamos muito bem-posicionados. A diferença tecnológica e de gestão que existia há 15 anos entre o Brasil e os Estados Unidos diminuiu bastante. Hoje, trabalhamos em um nível igual ou até superior ao dos confinamentos estadunidenses. Claro, há adaptações ao nosso sistema de produção e algumas particularidades, como o perfil dos animais e o uso de tecnologias que são permitidas lá, mas não aqui, como os implantes e os betagonistas. Fora isso, na parte de gestão, controle e equipamentos, estamos no mesmo patamar. Pela diversidade do nosso sistema, o Brasil se destaca em inovação e na disposição para testar novas ideias. Algo que chama muito a atenção no mercado americano é justamente essa característica do brasileiro (pesquisadores, técnicos e gestores) de não esperar demais para colocar algo em prática. Quando queremos testar uma novidade, fazemos isso em pequena escala, mas fazemos. E essa atitude nos coloca à frente em muitos aspectos. Por isso, acredito que o Brasil está muito bem-posicionado no cenário internacional. O próprio mercado mostra isso, com a evolução das exportações e a crescente aceitação da nossa carne lá fora. Vemos projetos sólidos, bem geridos e sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, o que reforça o nosso potencial de crescimento.
Scot Consultoria: Falando um pouco mais sobre a pecuária brasileira, a eficiência biológica é muito citada, mas muitos profissionais ainda a veem apenas como um indicador zootécnico. Como vocês a utilizam na prática dentro da operação e de que forma ela se relaciona com os resultados financeiros?
Luciano Morgan: A eficiência biológica considera a quantidade de quilos de matéria seca que o animal consumiu em relação à quantidade de arrobas produzidas. O confinamento, na prática, é uma fábrica de produção de arrobas. Só conseguimos pagar nossos custos diretos e indiretos se produzirmos a quantidade de arrobas prevista no orçamento. Esse é o ponto inicial. Para atingir essa meta de arrobas, temos outros dois indicadores fundamentais: ganho de peso e rendimento de carcaça. Esses são os pilares da conta. Mas para produzir essas arrobas, precisamos garantir que o animal consuma adequadamente. Em um confinamento comercial, diferente de pesquisa, o que importa é o que eu ofereço ao animal. A conta de eficiência biológica, como o próprio nome diz, mede a eficiência da produção daquela arroba. Mas, para calcular corretamente, não basta apenas olhar o que o animal consumiu, é preciso considerar o que foi ofertado para ele.
Scot Consultoria: A criação de processos influencia diretamente a cultura de uma empresa. Como vocês estruturam esses processos e de que forma os indicadores são utilizados para monitorá-los e aprimorá-los?
Luciano Morgan: Primeiro, nós controlamos os chamados indicadores “meios”. São aqueles que fazem parte do caminho para chegar ao indicador final. Um exemplo de indicador “meio” é a eficiência de fabricação. Se eu não fabrico a dieta com a conformidade adequada, corro o risco de não alcançar o indicador final, que pode ser eficiência biológica, conversão alimentar ou ganho diário de carcaça (GDC), dependendo do grupo racial e do orçamento. Então, está tudo muito amarrado. Controlamos alguns indicadores “meios” na parte de fabricação, na sanidade e em outros processos para, no final, conseguir ficar próximo ou até superar os indicadores finais definidos no orçamento daquele ano fiscal. Se alcançarmos esses indicadores, naturalmente estaremos muito próximos ou acima do orçamento financeiro. Por exemplo, na nutrição, nós olhamos muito o GDC e a eficiência biológica, que estão interligados. Na sanidade, observamos eficiência de ronda, morbidade e mortalidade. Temos também outros indicadores na gestão de pessoas e de processos, sempre garantindo que a operação funcione bem em todas as frentes.
Scot Consultoria: Falando mais sobre gestão e controle, uma das maiores reclamações dos produtores é em relação à gestão de equipes. Como vocês encaram esses desafios? Quais as alternativas para superá-los?
Luciano Morgan: O desafio existe e é uma preocupação constante para nós. Temos um setor de Recursos Humanos (RH) muito ativo na busca por talentos e conseguimos entender bem esse processo. Apesar de sermos uma empresa com um volume grande de abate, na gestão de pessoas conseguimos customizar bastante coisa. Nosso foco é identificar quem pode agregar valor ao negócio como um profissional diferenciado, entender como está a gestão dessas pessoas e o que precisamos fazer para continuar retendo esses talentos e crescer junto com eles. É unânime que o principal desafio para expandir qualquer operação hoje são as pessoas. E isso não vale apenas para o confinamento, mas também para a agricultura e para qualquer indústria. Todo crescimento passa pelas pessoas, os processos passam por elas.
Voltando a falar de indicadores, eles são fundamentais porque nos dão uma visão clara do que está acontecendo. Mas é melhor ter poucos deles, desde que sejam aqueles que realmente “mexem o ponteiro do relógio”. E isso não significa apenas melhorar os resultados financeiros e produtivos, mas também impactar o comportamento da equipe. Às vezes, a pessoa não atinge uma meta não por falta de esforço, mas por falta de direcionamento. Por isso, os indicadores também nos ajudam a reter talentos, mostrando onde podemos apoiar cada um para que alcance seus objetivos.
Em 2026, vamos discutir ainda mais sobre esse e outros assuntos no Encontro de Confinamento e Recriadores, que já tem data marcada, de 7 a 10 de abril em Ribeirão Preto/SP. E, para saber mais sobre indicadores de confinamentos do Brasil, em breve será divulgado o Benchmarking do Confina Brasil 2025. A pesquisa abrange 185 propriedades em 15 estados do país, clique aqui para saber mais.
Zootecnista pela Unesp de Jaboticabal, com especialização em produção de ruminantes e vasta experiência nacional e internacional na pecuária de corte. Atuou por 11 anos na Cargill, passando por cargos como gerente de grandes contas, consultor técnico de confinamento e gerente na Argentina. Foi também gerente nacional de categoria de gado de corte a pasto na DSM – Tortuga, liderando portfólio de produtos e estratégias de marketing. Atualmente, é diretor do Confinamento Monte Alegre (CMA), em Barretos/SP.
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