Foto: Bela Magrela
Com mais de 50 anos de história, a Agropecuária Maragogipe é pioneira em inovação e tem se destacado pela excelência no setor agropecuário. Em uma conversa com o diretor de operações, Lucas Marques, a Scot Consultoria perguntou sobre os marcos, as estratégias que garantem resultados consistentes e as inovações implementadas ao longo dos anos. Lucas também compartilhou sua visão sobre as transformações que o setor precisa enfrentar para continuar crescendo.
O zootecnista será um dos palestrantes no Encontro de Confinamento e Recriadores, da Scot Consultoria, que acontecerá entre 8 e 11 de abril, em Ribeirão Preto–SP e Barretos–SP, compartilhando o que a agropecuária tem feito para alcançar uma recria eficiente e o porquê de se investir nesse objetivo.
Scot Consultoria: Lucas, a Agropecuária Maragogipe tem mais de 50 anos de história e é uma das pioneiras no setor. Você pode nos contar um pouco sobre essa trajetória e os principais marcos ao longo dos anos?
Lucas Marques: A história da Agropecuária Maragogipe sempre foi marcada por grande crescimento e inovação. Desde a sua aquisição em 1973, quando no mesmo ano, nosso diretor presidente, Wilson Brochmann, assumiu a operação das fazendas. Desde então, grandes marcos foram sendo alcançados. Em 1979, tivemos o primeiro registro de inseminação artificial realizada no Mato Grosso do Sul, com o nascimento do primeiro bezerro em 1980.
Pensar que, ainda hoje, em 2025, temos mais de 50,0% de fêmeas cobertas por boi de boiada é algo inadmissível. Acreditamos que a grande virada de chave aconteceu em 2000, quando aderimos ao então “Conexão Delta G”, hoje a reconhecida DeltaGen. São 25 anos de melhoramento genético, e o grande “segredo” é a matriz, célebre frase do senhor Wilson, com a qual concordo. Pois o avanço ou incremento genético via touros ou sêmen é democrático e está disponível no mercado para todos os produtores, desde que tecnicamente bem orientados na escolha e na intensidade da utilização de material genético superior, o que agregará valor ao seu rebanho.
Scot Consultoria: Em relação às inovações tecnológicas disponíveis no mercado, quais ferramentas têm sido fundamentais na Agropecuária Maragogipe para tornar a recria mais eficiente e rentável?
Lucas Marques: Nós acreditamos que é preciso fazer o “arroz com feijão” bem-feito. Não que as tecnologias que estão no mercado sejam dispensáveis, pois não são, mas fazer um processo bem-feito, com critério e mensuração, nos dá oportunidades de medir e corrigir rotas. Para se chegar a resultados como estes, são vários fatores e tecnologias aplicadas e envolvidas ao longo do processo, sendo o comprometimento de uma boa equipe de vários setores e uma gestão eficiente, fundamentais.
A qualidade genética, sem dúvida, esta? entre os fatores de maior impacto neste processo. A forte pressão de seleção nas matrizes Nelore Maragogipe, participantes do programa de melhoramento DeltaGen, exercida ao longo dos anos, tem grande impacto também na qualidade genética das matrizes de reposição do cruzamento, que, por sua vez, se reflete na qualidade dos produtos de cruzamento, nas características de desempenho e qualidade de carcaça, e nos resultados de abate.
Scot Consultoria: Com foco na fase de cria, quais estratégias são essenciais para preparar os bezerros para uma recria eficiente e reduzir o tempo de engorda?
Lucas Marques: Como citado anteriormente, a matriz tem um papel fundamental na recria mais eficiente. Por exemplo, 100,0% das nossas matrizes são classificadas por Decas, o que nos permite destinar as melhores matrizes para melhoramento e as menos eficientes para o cruzamento. Com isso, cada bovino carrega um peso de índice, que é uma média ponderada de todas as características geridas pelo programa DeltaGen.
O que observamos ao longo do tempo, é que cada ponto de melhoria no índice final de uma matriz tem a capacidade de incrementar 3,0kg por ponto de índice no desmame. Isso representa um incremento de 1,5 arrobas e redução de 64 dias no período de recria, desde o início do nosso melhoramento genético, sem contar os incrementos provenientes de melhorias na nutrição, pastagem e manejo. Ou seja, tudo isso impacta em um menor custo de produção, maior giro e maior rentabilidade em uma fase muito importante do nosso processo.
Scot Consultoria: A Maragogipe tem feito um trabalho muito interessante com a terminação precoce do rebanho. A genética tem impacto direto nessa estratégia? Como o processo de recria intensiva no cocho e o confinamento têm contribuído para esse objetivo?
Lucas Marques: O DeltaGen é fundamental na formação e evolução dessa base de matrizes nelore, pois a participação no programa submeteu as matrizes Maragogipe a uma avaliação genética conjunta e conectada a outros rebanhos, seguindo parâmetros e critérios bem definidos, cumprindo rigorosas exigências técnicas em todo o processo, gerando informações seguras e confiáveis para características bioeconômicas, essenciais para a seleção e evolução desta base de matrizes.
Além da fertilidade e habilidade materna, que são primordiais para uma matriz, é importante ter um bom RMat (retorno maternal), que nada mais é que um índice que agrega basicamente três características: precocidade sexual (parição precoce) + permanência no rebanho reconcebendo (ultrapassando o período crítico das primeiras crias) + produtividade (produzir um bezerro não só pesado, mas com boa composição de peso CPM), isso tudo com menor custo de manutenção.
Ao longo dos anos fomos percebendo que nossa matriz “menos” eficiente, que não aderiu o grupo de melhoramento, poderia seguir um outro caminho, é fazer uma cria e recria em conjunto, para que eu possa desmamar um bezerro diretamente para o cocho. Mas isso só foi possível através de anos de seleção, onde mesmo as matrizes menos eficientes, são capazes de entregar um bezerro de cruzamento muito superior à média que encontramos no Brasil. Esse processo de cria e recria intensiva em conjunto tem nos ajudado muito no giro do negócio, onde praticamente uma vaca consegue entregar não só um bezerro por ano, mas sim um bezerro por ano no gancho. Isso é a supremacia do nosso negócio.
O que observamos na fase final dessa produção é que todo esse processo de melhoramento tem nos ajudado muito dentro do cocho. Desde 2016, estamos acompanhando o desempenho de bovinos dentro do cocho, que passaram por algum processo de melhoramento, e bovinos “comerciais”, e de fato existe uma grande oportunidade dentro desse negócio. Observamos uma melhor eficiência de 10,0% a 15,0% em bovinos que passaram por esse processo. Isso nos ajuda, inclusive, a saber o quanto mais podemos pagar pelo quilo do bezerro.
Scot Consultoria: Quais são os ganhos proporcionados pelo encurtamento do ciclo produtivo e quais são os principais desafios que vocês enfrentam para alcançar esses resultados?
Lucas Marques: Os principais ganhos no encurtamento que temos são simplesmente fazer com que nosso negócio gire mais rápido. À medida que intensificamos, os desafios aumentam, mas as oportunidades de obtermos mais lucro girando nosso estoque na mesma área, também aumentam. É o exemplo que já citei: hoje, uma vaca, para ser boa dentro do nosso sistema de cruzamento industrial, não precisa só dar um bezerro bom por ano; ela precisa me dar um boi ou novilha, bons no gancho, em 13 a 14 meses.
Outro fator desafiador é a equipe. Ter uma equipe de alta performance dentro do agronegócio é um grande desafio, mas hoje podemos dizer que estamos bem servidos, e o fruto desse grande resultado vem deles, que não medem esforços para entregar cada vez mais resultados. Por isso, a importância de um bom planejamento e de metas, que nos direcionam para o caminho do sucesso.
Scot Consultoria: Na sua opinião, o que o pecuarista precisa estar disposto a mudar no sistema para garantir uma recria realmente eficiente? Existem pontos de resistência na adoção de estratégias mais intensivas?
Lucas Marques: Em linhas gerais, vejo ainda muito questionamento por parte dos pecuaristas, dizendo que a pecuária não é rentável e que a agricultura é melhor. Na minha opinião, se ficarmos restritos a modelos antigos e não tivermos quebras de paradigmas, sempre teremos os mesmos resultados. Mudar o sistema é um caminho muito rentável quando bem-feito, sabendo aonde você pode chegar e como pode chegar. É aí que entra o grande desafio: um bom planejamento, mensurações e correções de rotas. A grande resistência está em experimentar novos modelos. Hoje, quando falamos que, na nossa cria de cruzamento industrial, desmamamos machos de 12 arrobas na média da safra, muitos duvidam. Mas isso não foi ao acaso, existe consistência, melhoramento, estudo e, acima de tudo, resultado, para que, em 13 ou 14 meses uma vaca me deixe um boi gordo no gancho. Isso muito nos orgulha, pois é a síntese de um trabalho muito bem-feito, planejado e mensurado.
Scot Consultoria: Você estará conosco no Encontro de Confinamento e Recriadores, que ocorrerá de 8 a 11 de abril, trazendo uma reflexão sobre os impactos de uma recria eficiente. O que os produtores podem esperar do evento e como os temas abordados poderão ajudá-los?
Lucas Marques: Iremos aproveitar o momento para mostrar um pouco da nossa realidade, mostrar que é possível fazer uma recria eficiente desde o seu início, que nada mais é do que o planejamento do nascimento do bezerro. Não existe recria boa, sem vaca boa!
Mesmo as pessoas que compram a recria e não fazem o processo da cria podem, de alguma maneira, incentivar os criadores a melhorarem ou até mesmo pagar melhor pelo quilo de um gado de qualidade. No final do dia, uma recria eficiente nos dá uma oportunidade de rentabilizar melhor o nosso ativo, garantindo melhor margem e crescimento do nosso negócio.
Clique aqui para saber mais sobre o Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria.
Zootecnista formado pela UNESP com especialização em produção de ruminantes pela ESALQ-USP e diretor de operações de pecuária e agricultura na Agropecuária Maragogipe
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