Médica-veterinária, analista de Marketing da Scot Consultoria e coordenadora da expedição Confina Brasil
Foto: Bela Magrela
Scot Consultoria: Finalizada a quinta edição do Confina Brasil, o que mais chamou atenção da equipe em relação ao perfil das fazendas visitadas? Qual foi a conclusão do levantamento em relação a intenção de confinamento para esse ano de 2024?
Julia Zenatti: O que mais se destacou foi a crescente profissionalização da atividade, todo ano conhecemos confinamentos que demonstram excelência tanto na gestão operacional quanto na gestão de equipes e estratégias produtivas. Também percebemos uma expansão no uso do confinamento como ferramenta multifuncional, indo além da terminação e sendo aplicado em estratégias como o sequestro de bezerros e na preparação de bovinos para reprodução.
Quanto à intenção de confinamento, houve um crescimento de 17,9% em relação ao ano anterior entre as propriedades mapeadas pela expedição. No cenário nacional, a projeção da Scot Consultoria aponta um aumento de 6,5% no total de bovinos confinados para abate em 2024, com 7,37 milhões de cabeças.
Scot Consultoria: Em relação ao manejo nutricional, quais insumos foram destacados como os mais utilizados? Como ficaram os custos da dieta para o confinador em 2024? A conta, para o confinador, fechou neste ano?
Julia Zenatti: O milho continua sendo o principal insumo energético, citado por 60,5% dos confinamentos mapeados, seguido pelo sorgo, com 19,5% de participação nas dietas. No volumoso, 92,0% dos confinamentos utilizam silagem, sendo que a maior parte produz o insumo dentro da propriedade, destacando o uso de diferentes silagens de milho e de capim. Entre os proteicos, os coprodutos do etanol de milho, como DDG e DDGS, cresceram em participação, presente como principal fonte de proteína em 31,7% das dietas, enquanto caroço e torta de algodão também estiveram muito presentes e contribuíram para a redução de custos em muitos casos.
O custo médio da dieta ficou em R$11,28 por cabeça/dia, uma redução de 10,0% frente a 2023, reflexo da queda nos preços dos principais insumos. Ainda assim, o maior impacto no bolso do produtor foi o custo de reposição, com o preço médio de 2024 também inferior frente ao ano passado. Essa baixa, reflexo de três anos consecutivos com recordes na participação de fêmeas nos abates formais, sinalizou oportunidades recentes na aquisição de categorias leves, mas também aponta desafios futuros com a possível retenção de fêmeas, que pode pressionar os preços nos próximos ciclos.
A rentabilidade em 2024 variou conforme o planejamento de cada confinador. Aqueles que compraram reposição a preços favoráveis e fizeram boas negociações nos insumos, obtiveram margens mais positivas, especialmente com a alta do boi gordo após junho. No segundo semestre, o mercado foi sustentado por uma demanda forte, mesmo com recorde de oferta, proporcionando oportunidades melhores para quem se preparou. Para o próximo ciclo, mesmo com as projeções de uma arroba mais firme em comparação com o primeiro semestre desse ano, podemos dizer que a eficiência na gestão continuará sendo essencial para mitigar os impactos dos custos de reposição e talvez altas pontuais nos principais insumos.
Scot Consultoria: Quais as vias de compra de reposição mais utilizadas pelos confinamentos visitados? Ciente da dependência dos confinamentos de aquisição de gado magro, quais os impactos do preço da reposição no próximo ciclo?
Julia Zenatti: Entre os confinadores visitados, 41,7% dependem da compra do boi magro como principal via de reposição. Essa dependência externa na aquisição de boi magro reforça a importância do mercado de reposição como uma variável crítica para o setor.
Até o início de 2024, o mercado de reposição foi pressionado pelo maior descarte de fêmeas em anos, o que ampliou a oferta e reduziu os preços, beneficiando os confinamentos. Para 2025, no entanto, espera-se que a retenção de fêmeas reduza a disponibilidade de bezerros, o que poderá pressionar os custos de reposição, mesmo com previsões de preços de comercialização mais atrativos.
Scot Consultoria: Qual o panorama sobre gestão e tecnologia visto pela equipe? E qual o principal desafio enfrentado pelos produtores dentro da porteira?
Julia Zenatti: A integração de gestão e tecnologia no agronegócio tem mostrado avanços significativos. Há uma maior adoção de softwares de gestão, automação de processos, ferramentas para monitoramento de desempenho e o uso de travas de mercado, que ajudam a melhorar a eficiência dessas operações e mitigar os impactos das oscilações de preços.
Apesar dos avanços tecnológicos, o principal desafio ainda é a mão de obra. Questões como dificuldades na contratação, qualificação técnica, baixos níveis de escolaridade e a baixa participação feminina são obstáculos que frequentemente identificamos em nossas visitas e são pautas que trazemos com recorrência nos eventos da Scot, que têm buscado explorar cada vez mais esse gargalo e fomentar soluções dentro do setor.
Scot Consultoria: Quais as perspectivas para o confinamento brasileiro em 2025?
Julia Zenatti: As perspectivas para 2025 são promissoras. De acordo com nossa pesquisa, 72,8% dos confinadores esperam um aumento no volume de bovinos confinados em comparação a 2024.
Esse otimismo reflete a confiança no mercado. Apesar dos desafios enfrentados nos últimos anos, há sinais claros de uma virada do ciclo pecuário. Indicativos de alta nas cotações do boi gordo e expectativas de melhora tanto no mercado interno quanto externo ainda em 2024 reforçaram esse cenário positivo. No setor exportador, 2024 já se consolida como um ano recorde em volume de carne bovina exportada e em bovinos vivos, com projeções ainda mais robustas para 2025.
A crescente demanda internacional por carne de qualidade e as práticas sustentáveis colocam o Brasil como líder global no setor. O confinamento brasileiro segue evoluindo com uma abordagem profissional, equilibrando produtividade, cuidado ambiental e transparência para atender tanto o mercado interno quanto as rigorosas exigências internacionais.
Scot Consultoria: Os leitores conseguem ter acesso a esse relatório completo? Onde podemos checar essas informações na integra?
Julia Zenatti: Sim, o Benchmarking Confina Brasil 2024 foi disponibilizado ao público nesta quinta-feira, 12 de dezembro. Para obter o estudo completo, basta se cadastrar no site oficial da expedição: confinabrasil.com.
Além disso, muitos desdobramentos desse relatório serão apresentados no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, que acontecerá de 8 a 11 de abril de 2025, em Ribeirão Preto (SP). Mais informações podem ser encontradas no site confinamentoerecria.com.br.
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