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Scot Consultoria

Aumentando a produtividade com tecnologia de precisão nas lavouras

Entrevista com o sócio-diretor na CROPMAN, Henrique C. Junqueira Franco

Segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024 - 06h00
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Engenheiro agrônomo pela UNESP/Jaboticabal (2000), Doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Esalq/USP (2008), Pesquisador Visitante na Universidade de Queensland – Austrália (2008), pesquisador no CNPEM (2010 a 2018). Desde 2018 é sócio-diretor na CROPMAN, empresa especializada em agricultura digital, atuando em toda a América Latina.


Scot Consultoria: Henrique, sabemos que as tecnologias de precisão na agricultura estão sendo amplamente desenvolvidas e utilizadas. Nesse aspecto, o que a tecnologia de precisão aplicada pode trazer de vantagens para as lavouras brasileiras?

Henrique Junqueira: O Brasil tem experimentado um forte crescimento agrícola em décadas recentes, tendo hoje um papel chave na produção de alimentos, fibras e energia para o mundo. Como sabemos, esse crescimento se deu através de saltos de produtividade, em detrimento de expansão de área plantada. E esses saltos de produtividade se devem à adoção de novas tecnologias na produção. Então, vivemos um momento chave onde os produtores precisam produzir ainda mais e de forma eficiente, a fim de satisfazer as exigências do mercado, mas, sobretudo, a fim de assegurar a saúde financeira do seu negócio agrícola.

Nesse sentido, associo o termo agricultura de precisão à eficiência na agricultura. Porque todas as tecnologias associadas à agricultura de precisão visam o manejo localizado das culturas agrícolas, ou seja, utilizam ferramentas de geolocalização acopladas a máquinas e equipamentos, permitindo aos agricultores aplicarem a dose de determinado insumo na posição correta dentro do talhão. Também permitem o paralelismo de linhas de plantio, diagnósticos localizados de pragas de solo, de doenças, entre outros.

Portanto, a adoção de tecnologias de precisão traz, geralmente, maior eficiência no uso de recursos para a produção agrícola, o que proporciona produzir mais com custos menores, de forma mais eficiente e sustentável.

Scot Consultoria: Como a agricultura digital e a tecnologia podem ajudar os produtores a melhorarem o manejo de fertilizantes e corretivos?

Henrique Junqueira: Vivemos o advento da "Era dos Dados", onde a combinação das ciências de dados e agronômicas visam prover os agricultores de uma sólida base de informações, a fim de que possam tomar decisões mais embasadas e, portanto, mais assertivas. Existe um termo em inglês pra isso: “an informed decision”.  A coleta, o trânsito, o tratamento e o processamento desse volume de dados impõem desafios quanto à conectividade no campo, a computação em nuvem, a “internet das coisas” e aplicações de inteligência artificial, esta última capaz de processar um volume de dados muito superior àquele que o cérebro humano poderia avaliar simultaneamente. 

Um bom exemplo é o seguinte: fertilizantes e corretivos constituem um dos principais custos de produção. A aplicação correta (dosificação) desses insumos está baseada no que o solo pode fornecer daquele determinado insumo (estoque), no que a planta precisa durante o ciclo produtivo (exportação) e na eficiência daquela fonte de insumo em fornecer determinado nutriente.

Apesar de tanta tecnologia, a realidade hoje é que a vasta maioria dos produtores aplica esses insumos a taxa fixa por talhão, considerando apenas as necessidades da planta (exportação) e, em alguns casos, da fonte do nutriente. Ao desconsiderar o solo, o tamanho do talhão e sua forma na paisagem, os produtores geram uma ineficiência na dosificação, que os impede de prover condições ótimas para a obtenção da produtividade potencial em cada parcela do talhão. Consequentemente, perde-se também a possibilidade de uso eficiente e racional de insumos, que tem relação direta com a saúde financeira da atividade agrícola.

Então, a agricultura digital e a tecnologia permitem ao agricultor, entre outras coisas, ter maior conhecimento do seu talhão, através de diagnósticos de alta precisão e baixo custo, com uso racional de insumos e habilitando tecnologias já embarcadas no maquinário agrícola, possibilitando a dosificação localizada, atendendo às reais necessidades de cada parcela do talhão. Em suma, uma verdadeira “gestão por metro quadrado” de sua lavoura.

Como exemplo, em um cliente que atendemos em uma área de quase 3.000 ha, a economia pelo uso da aplicação de forma localizada de fertilizantes e corretivos foi de R$435,00/ha. Uma economia originada pela eficiência do manejo, por sua vez baseado em diagnósticos gerados por ferramentas de agricultura digital. Por fim, atendidas as reais necessidades de cada parcela do talhão, estarão providas as condições para o atingimento da produtividade potencial, com ganhos de produtividade em condições normais de clima. Tudo isso com a simplicidade do conceito de aplicar a dose certa no local correto.

Scot Consultoria: Como você vê a aplicação dessas técnicas em fazendas que historicamente têm menos acesso a esse conhecimento?

Henrique Junqueira: É um caminho sem volta. Todo agricultor é um tomador de preço, ou seja, não controla o mercado e o preço, seja de insumos, seja do produto ao final do ciclo. Então, a única variável sob seu controle é o seu custo de produção. Portanto, é fundamental ser mais eficiente, a fim de reduzir custos operacionais.

Muito em breve, não se poderá mais trabalhar por médias, o produtor terá que realmente caminhar para a gestão por metro quadrado da lavoura. Essa transição vem acontecendo cada vez mais rapidamente, em particular pela necessidade de maior eficiência nos manejos, e pela facilidade dos mais jovens em absorver tecnologia digital, que tem ficado mais “amigável” para o usuário do agronegócio.

A questão é o planejamento e o foco, que devem possibilitar a adoção combinada dessas tecnologias de forma a maximizar o retorno do investimento. Por exemplo, um plantio de precisão depende da combinação de equipamento, tecnologias de navegação e controles do trator, e de um mapa de aplicação de precisão. As tecnologias têm ficado mais acessíveis e os retornos bem interessantes, encorajando essa transição. 

Scot Consultoria: Em relação ao retorno financeiro antes do diagnóstico dos solos e antes da fundação da lavoura, o que você tem observado nas fazendas?

Henrique Junqueira: Uma área de abertura tem demandado investimentos da ordem de R$10.000,00/ha, um novo plantio de cana-de-açúcar até R$15.000,00/ha. O alto custo de insumos, principalmente óleo diesel, a alocação de variedades e as aplicações de corretivos, fertilizantes, químicos e biológicos afetam as margens do produtor. Portanto, ter um diagnóstico preciso em mãos para a correta tomada de decisão e direcionamento dos manejos - antes da fundação da lavoura - vai derrubar de forma considerável o custo de implantação dessas lavouras. 

Mas, qual o tamanho dessa redução de custo? Obviamente, depende do nível tecnológico de cada produtor, mas podemos considerar um ganho entre 10 e 20%. O que pode significar o lucro do produtor ao final do ciclo.

Scot Consultoria: Quais são as oportunidades e desafios do uso da técnica de caracterização de solos no Brasil?

Henrique Junqueira: Eu considero que ainda há muita área para ser caracterizada ao nível de detalhe, para gestão por metro quadrado de fato. Possivelmente, mais de 90% da área agricultável do país.

Temos muitas áreas onde a caracterização já foi feita, nas quais os agricultores utilizam técnicas de coleta de solo em grid ou por zonas de manejo baseadas em informações de planta. São metodologias que não se beneficiaram do advento das ferramentas de agricultura digital, e que ainda dependem muito da interpretação subjetiva do ser humano. 

Conhecer com precisão as transições de solo na paisagem requer um salto tecnológico por parte dos agricultores, com a adoção de ferramentas que os ajudem a ser mais eficientes em suas ações de manejo. E isso passa por um processo de conhecimento e conscientização.

Hoje, a precisão que já está embarcada nas máquinas (1 a 2 centímetros para a correta distribuição de linhas de plantio de grãos, por exemplo) requer igual precisão na caracterização das particularidades do solo de cada propriedade agrícola. E esse nível de “ultra” precisão só pode ser obtido quando excluímos a subjetividade humana do processo, através da adoção das ferramentas de inteligência artificial.

Obviamente, temos regiões com solos mais homogêneos que outras, onde a variabilidade é altíssima, mas mesmo nas condições mais homogêneas, as técnicas de caracterização digital de solos agregam eficiência à atividade, trazendo maior economia no uso de insumos e mais sustentabilidade - não apenas ambiental, mas, sobretudo, financeira - ao negócio agrícola. Esse é um aspecto fundamental para uma agricultura de sucesso.


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