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Scot Consultoria

Dicas de ouro para um bom processo de intensificação de pastagens

Entrevista com a professora da Universidade Federal de São João Del Rei, Janaina Martuscello

Terça-feira, 22 de agosto de 2023 - 06h00
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Zootecnista pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2002), mestrado (2004), doutorado (2007) e pós-doutorado (2008) em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em manejo e adubação de pastagens e ecofisiologia de plantas forrageiras


Scot Consultoria: Janaina, como o produtor pode fazer a melhor escolha de forrageira? Quais erros não se deve cometer?

Janaina Martuscello: A escolha da planta forrageira depende de uma série de fatores que devem ser levados em consideração como, por exemplo, as condições de solo, de clima, a topografia e a capacidade de manejo que o pecuarista tem, sendo que este último fator pode ser muito negligenciado, pois o pecuarista, em alguns momentos, esquece que, muitas das vezes, não possui capacidade de manejar uma planta mais indócil, como plantas do gênero Brachiaria spp, que são um pouco mais fáceis de serem manejadas quando comparadas àquelas do gênero Panicum maximum.

Quando o pecuarista escolhe uma forrageira errada, do gênero Panicum, por exemplo, e não tem conhecimento de como manejá-la, os resultados esperados não serão alcançados e o produtor acreditará que a culpa é da planta forrageira. Portanto, quando se faz a escolha da forrageira para a fazenda, ela tem que ser realizada de forma assertiva, efetuando a análise de solo, avaliando o sistema de produção que será utilizado e como é o método de pastejo da propriedade. Isso porque há diferença na escolha da forrageira se você for utilizar o pastejo com lotação contínua ou a lotação rotativa, então todos esses critérios precisam ser avaliados, pois uma das causas de degradação de pastagens no Brasil é, justamente, a escolha errada da forrageira. De forma geral, avaliar condições de solo, clima, topografia e capacidade de manejo, faz com que a escolha da planta forrageira se torne mais assertiva.

Scot Consultoria: Quais as maiores vantagens da intensificação de pastagens? E as dificuldades?

Janaina Martuscello: É necessário esclarecer o conceito de intensificação de pastagens, porque, muitas das vezes, o pecuarista acredita que intensificar uma área de pastagem é trabalhar com um número muito grande de piquetes, altas doses de adubos e irrigação, quando, na verdade, qualquer ação que se faça dentro da propriedade que aumente a sua produtividade, da forragem e, consequentemente, da produtividade animal, já é um sistema intensificado. Portanto, se a taxa de lotação sai de 1 UA/ha e passa, no próximo ano, para uma taxa de lotação de 1,2 UA/ha, você já está realizando o processo de intensificação do sistema.

A maior vantagem da intensificação é, de fato, produzir bem dentro da propriedade e isso é muito importante, principalmente quando se considera o valor da terra atualmente. O pecuarista precisa descobrir o que está impedindo a propriedade de ter boa produtividade e apenas conhecendo qual é o seu maior problema, é que se conseguirá corrigi-lo e melhorar seu sistema de produção. Na grande maioria das vezes, a intensificação leva a algum custo, porém não considero isso uma desvantagem porque custo é diferente de investimento. Quando você intensifica de forma correta, fazendo uma avaliação total dos custos que serão necessários, você está fazendo um investimento, então isso irá trazer um retorno. Em resumo, para que a intensificação seja bem-feita, ela precisa ser planejada.

Scot Consultoria: Como é possível calcular a capacidade de suporte do pasto? E a necessidade de forragem pelo rebanho?

Janaina Martuscello: A capacidade de suporte é a quantidade de animais que seu pasto e sua fazenda suportam, sem que tenha início um processo de degradação. Então, uma das causas de degradação de pastagens é não respeitar a capacidade de suporte de uma fazenda. Existe uma preocupação muito grande por parte dos pecuaristas em relação à taxa de lotação, ou seja, quantos animais cabem dentro da propriedade. Porém, mais importante do que a taxa de lotação, é você conhecer a capacidade de suporte, ou seja, saber a produção de alimento para que, somente a partir daí, a estimativa de quantos animais você pode colocar seja realizada. A capacidade de suporte vai ser medida pela quantidade de alimento, ou seja, pela quantidade de capim disponível na fazenda ao longo dos meses. Então, fazer essa avaliação de produção de capim é essencial para que se possa determinar a melhor taxa de lotação.

Scot Consultoria: Como o produtor pode proteger e preparar sua produção para o período de seca todos os anos?

Janaina Martuscello: Costumo dizer que todo ano tem seca e isso não é novidade para ninguém.  Então, sabemos que, todos os anos, teremos a sazonalidade de produção. Isso porque as nossas gramíneas tropicais possuem uma produção sazonal, ou seja, há muita produção de forragem no período chuvoso que coincide, em grande parte do Brasil, com um período de muita luz e temperaturas mais elevadas, enquanto o inverno é marcado por ser um período seco, de menor disponibilidade de luz, água e temperatura, ocasionando uma queda na produção desses capins. Portanto, essa distribuição sazonal já é conhecida. É necessário potencializar a reserva daquilo que sobra no período das águas para que seja utilizada no período seco do ano. Existem várias estratégias a serem utilizadas para que seja possível fazer uma melhor distribuição dessa produção de forragem, entre elas a silagem, uma das técnicas mais utilizadas no Brasil, para que se possa ter alimento disponível no período seco do ano, algo que muitas vezes nem pensamos. Fazer uma silagem de capim tropical é completamente possível e tem trazido bons resultados. Em um sistema rotacionado, por exemplo, onde há divisão dos pastos por piquetes, é muito possível que você separe parte desses piquetes para que seja feita uma silagem do capim tropical que será destinado para o período mais seco do ano.

Outras excelentes estratégias são a utilização de feno e de capineiras como segurança alimentar para o período seco do ano, e, também, o diferimento de pastagens, que nada mais é do que a separação de uma área no período seco do ano para que você consiga vedá-la, ou seja, não seja utilizada pelo animal, para que seja utilizada no período de seca. É importante salientar que o diferimento de pastagens, para trazer bons resultados no período seco, deve ser aliado a uma boa suplementação, para que a matéria seca (MS) de baixa qualidade do pasto diferido possa, então, ser degradada em nível de rúmen.

É necessário tratar muito bem o pasto no período das águas para que ele entre melhor na seca. Então, se o pasto está “rapado” no “melhor período”, ficará muito difícil conseguir passar pela seca com segurança, pois a tendência é de haja perda da condição de escore corporal do rebanho e, em alguns casos no Brasil, podendo até acontecer a morte de animais por inanição. Portanto, fazer a adubação, cuidar do sistema radicular, fazer com que o solo tenha uma reposição de nutrientes e realizar um manejo por altura são estratégias excelentes para que esse pasto entre melhor no período mais seco do ano.

Scot Consultoria: Existe uma fórmula mágica com relação à escolha da adubação para pastagens?

Janaina Martuscello: Não existe uma fórmula mágica, como também não existe uma receita para todos os pecuaristas. Ouso dizer que também não existe uma receita igual para as várias partes de uma mesma propriedade. Não há uma fórmula mágica para a adubação de pastagens, o que existe é realizar uma interpretação de acordo com a análise de solo, para assim poder fazer a recomendação das necessidades. Dessa forma, a análise de solo é primordial e é o primeiro passo para que seja possível ter um “raio-x” do solo, além de servir como base para a recomendação de adubação, auxiliando na escolha da planta forrageira que será adotada. De forma geral, não existem doses genéricas de calcário, assim como não existem doses genéricas de adubos, tudo precisa ser avaliado de acordo com a análise de solo e os resultados.

Scot Consultoria: Quais fatores favorecem a disseminação de plantas invasoras e quais os problemas causados pela presença de plantas daninhas nas pastagens?

Janaina Martuscello: Plantas invasoras são conhecidas como plantas oportunistas, que representam um sinal claro de que algo está errado quando aparecem no pasto. Em geral, essas plantas invasoras aparecem quando ocorre um declínio na fertilidade do solo, ou seja, a não reposição de nutrientes dá a elas a oportunidade de surgirem e ocuparem os espaços vazios.

Outro fator que faz com que os pastos fiquem muito propensos ao surgimento de plantas daninhas são os erros no manejo. A alta taxa de lotação determina que a planta forrageira não tenha capacidade de rebrota suficiente para competir com as plantas invasoras e, como elas são muito mais eficientes na utilização de recursos, ainda mais quando estes estão escassos, isso permite que elas consigam vencer a competição. Então é muito difícil conseguir fazer com que o seu capim, sua forrageira, estando em um ambiente errado, super pastejado e sem reposição de nutrientes, consiga competir com as plantas invasoras. Um manejo bem-feito, com reposição de nutrientes e com a utilização da planta forrageira adequada àquela região, é um passo imprescindível para que a forrageira consiga competir com eventuais plantas invasoras.

Scot Consultoria: No Brasil, uma grande porcentagem das áreas de pastagens estão degradadas em diferentes níveis. Existem soluções para a recuperação dessas pastagens?

Janaina Martuscello: Sim, é possível que se faça uma recuperação de uma área degradada. A recuperação, ou renovação, é um processo muito oneroso, por isso, muitas das vezes recomendamos que seja feita a partir da área menos degradada, porque o investimento vai ser menor e o retorno financeiro será maior. Com esse maior retorno, vamos fazendo a recuperação das áreas que estão mais degradadas.

Como já citado, a escolha errada da forrageira, o manejo inadequado e a falta de reposição de nutrientes são os motivos para a ocorrência da degradação de pastagens. Porém, é claro que nenhum pecuarista deixa sua área de pastagem se degradar de propósito. Inúmeras vezes, há falta de recursos financeiros, ou até mesmo falta de conhecimento.

Antes de decidir como fazer este processo de recuperação ou renovação de pastagens, é necessário avaliar o estado do pasto. Pastos com poucas plantas invasoras, poucos espaços vazios e com grande quantidade da forrageira de interesse, muitas das vezes, necessitam somente de uma simples recuperação, não há a necessidade de trocar a planta forrageira. Nesse caso específico, às vezes, um descanso ou somente uma calagem seria suficiente para fazer com que o pasto recupere a sua produtividade anterior. No entanto, quando encontramos pastos com muitos espaços vazios, com uma quantidade muito pequena da planta forrageira de interesse e solos compactados, é mais interessante que se faça uma reforma, ou seja, uma renovação, que nada mais é do que você fazer todos os tratos agronômicos, revolvendo o solo, para iniciar novamente essas áreas de pastagens, mas é possível fazer a recuperação. Vale salientar que o pecuarista deve avaliar qual a área que está menos degradada para que ele inicie esse processo.


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