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Scot Consultoria

Inteligência digital: o uso de mecanismos para a vigilância e prevenção de doenças nos rebanhos

Entrevista com o médico-veterinário e professor na Universidade da Carolina do Norte, Gustavo Machado

Terça-feira, 4 de julho de 2023 - 06h00
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Médico-veterinário formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestre e doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e, pós-doutorado pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Desde 2018, é professor assistente do departamento de saúde de populações e patobiologia do curso de Medicina Veterinária na Universidade Estadual da Carolina do Norte, onde lidera grupos de pesquisas sobre epidemiologia de doenças transfronteiriças.


A Granja Total Agro/Scot Consultoria: A Universidade da Carolina do Norte criou um aplicativo que permite a análise da movimentação animal, que depois foi adaptado às condições de uso no Rio Grande do Sul. Como é que ele funciona?

Gustavo Machado: Graças à parceria com a Secretaria do Estado e o financiamento do Fundeb, começamos esse projeto há 4 anos e, por conta do sistema digitalizado de controle da movimentação animal que o Rio Grande do Sul implementou há um tempo, foi possível tirar vantagem desses dados para conseguir entender como as doenças podem se espalhar entre fazendas.

O que se sabe é que, mais ou menos, 80% da transmissão de doenças entre fazendas acontece pela movimentação de um animal, então tendo esses dados em mãos, tivemos como compreender o padrão de movimentação no estado e foi possível desenvolver, inicialmente, um aplicativo que pode ser utilizado para monitorar a movimentação entre propriedades e, a partir dessa primeira etapa, conseguimos desenvolver um simulador, que permite introduzir, sinteticamente, a doença na propriedade e entender como ela vai se espalhar. Esse projeto começou há 4 anos e agora estamos em fase de treinamento com o pessoal (médicos-veterinários), para deixar a ferramenta mais fácil de ser utilizada.

A Granja Total Agro/Scot Consultoria: Então, baseado no volume de dados fornecido pelo SDA, que é o sistema de informatização da Secretaria da Agricultura, foi possível desenvolver esse aplicativo que, na questão de vigilância, tem um pressuposto fundamental, já que trabalha com qualidade, velocidade e precisão na geração da informação, o que é fundamental para manter uma vigilância ativa e eficiente, em questão de tempo de resposta diante de um possível surto. Portanto, esse sistema poderá ser transmitido para todo o país? 

Gustavo Machado: Ano passado, começamos a realizar workshops e treinamentos para o uso dessa ferramenta, começando no Rio Grande do Sul, com os veterinários do estado e, a partir dessa experiência, iniciamos uma parceria com o Panaftosa, oferecendo treinamentos para novos estados brasileiros e para países da América-Latina. Outros estados têm dados factíveis de serem utilizados, então o plano é deixá-lo disponível para outras regiões que possuam dados digitais que possam ser destinados a essa utilização.

Quando comparamos, por exemplo, os dados de movimentação animal do Rio Grande do Sul com os dados norte-americanos, os Estados Unidos não têm um sistema digital de monitoramento. Eles estão olhando para outros países, como Brasil e Dinamarca, para se inspirar. Eu costumo dizer que há, em média, 10 anos de diferença em relação à qualidade do acompanhamento de dados pelo Brasil, quando comparado ao país norte-americano. Portanto, saber da nossa capacidade de monitorar esses riscos, nos permite ter uma tranquilidade ao ter os dados em mãos e saber como a doença se espalha, com o produtor importando os dados e fazendo o reporte do estoque animal.

A Granja Total Agro/Scot Consultoria: Esse aplicativo tem como calcular o impacto econômico de uma doença que afete o rebanho em determinada região?

Gustavo Machado: Sim, nós trabalhamos, no Rio Grande do Sul, com o modelo de espalhamento de febre aftosa, o que nos permite calcular o custo direto e o custo de reembolso, caso ações drásticas precisem ser tomadas. Ao mesmo tempo, conseguimos estimar o número de funcionários necessários para atender uma possível introdução da doença no rebanho, além do número de doses necessárias por cabeça, quanto à vacinação, fatores que impactam economicamente.

No Rio Grande do Sul, a quantidade de profissionais, médicos-veterinários, é suficiente para atender a um espalhamento da doença, entretanto, nos estados do país norte-americano, isso não ocorre, já que no estado em que estou atualmente (Carolina do Norte), temos menos de 10 veterinários para responder e atuar nessas emergências, um número muito menor do que o que temos no Rio Grande do Sul.

A Granja Total Agro/Scot Consultoria: Muito bom saber que estamos bem-posicionados e temos capacidade de antecipar os riscos e de responder às emergências. Existe a possibilidade de o produtor rural ter acesso a esse aplicativo?

Gustavo Machado: Então, como essa é uma ferramenta especializada, ela requer treinamento. Os veterinários que estão responsáveis pelas emergências na Secretaria da Agricultura são as pessoas que, atualmente, têm acesso ao aplicativo. Mas estamos trabalhando em uma interface, em colaboração com a Universidade Federal de Santa Maria, para popularizar essa ferramenta e deixá-la disponível para todos os escritórios de veterinária do estado.

A contribuição que o produtor pode oferecer é reportar os dados, o estoque, suspeitas de doenças, ou qualquer questão que fuja da normalidade do rebanho. Quando algo assim ocorre, é necessário entrar em contato com a Secretaria do Estado. Portanto, essa é a parte mais importante para o aplicativo poder funcionar. Ele não está disponível ao produtor, mas ele depende do produtor. Quem consegue alterar o aplicativo é o Serviço Veterinário Oficial (SVO).

Em parceria com A Granja Total Agro.


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