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Scot Consultoria

Manejo de pastagens, TIP, produção de carbono neutro e sustentabilidade

Entrevista com o gestor do projeto Serviços Ecossistêmicos (Nutripura) e pesquisador do Konectpasto (Koneksi Agro), Fernando Ongaratto

Terça-feira, 27 de junho de 2023 - 06h00
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Gestor do projeto Serviços Ecossistêmicos (Nutripura) e pesquisador do Konectpasto (Koneksi Agro), além de especialista em forragicultura e gases de efeito estufa. É zootecnista, mestre pela UFSM e doutor em Zootecnia pela UNESP (Campus de Jaboticabal). Atualmente, reside em Mato Grosso, onde integra, com a parte ambiental, os projetos de intensificação de fazendas de bovinos de corte.


Scot Consultoria: Qual a diferença entre reforma e recuperação de pastagem? O que levar em conta na tomada de decisão?

Fernando Ongaratto: O principal ponto entre recuperar e reformar o pasto é a necessidade do sistema de produção. Basicamente, existem dois parâmetros principais a fim de avaliar o estágio de degradação: diminuição de produtividade e mudança na composição botânica. A escolha pela reforma ou recuperação do pasto, depende do grau de degradação do solo e da população de perfilhos (unidade básica do pasto) que exista no local.

Por exemplo, áreas onde haverá projetos de intensificação do uso de pastagens, com adoção de tecnologias de insumos (adubação, suplementação estratégica, irrigação etc.) e com alto grau de infestação de plantas indesejáveis, convém reformar, utilizando forrageiras mais produtivas como Panicuns de porte alto (Mombaça, Zuri, Tanzânia) e braquiárias do gênero Brizantha (Marandu, Piatã, Xaráes), pois a alta taxa de lotação que tais espécies forrageiras permitem, aliada ao correto manejo, permitirão aos bovinos ganhos de 900g/dia, na estação das águas, garantindo retorno financeiro ao sistema.

Já em áreas com plantas indesejáveis, mas que não serão intensificadas e que ainda existe uma população razoável de perfilho da gramínea forrageira estabelecida, deve-se analisar a recuperação, pois com o manejo adequado, aplicação de herbicidas, roçadas e ajuste da carga de lotação levarão ao aumento do número de perfilhos da forrageira desejada. Uma das recomendações para essa área em recuperação, é o ajuste da taxa de lotação com categorias de animais menos exigentes, ou seja, bovinos que, dentro da programação do sistema produtivo, possam desempenhar ganhos de 500g/dia, na estação das águas.

Scot Consultoria: Muito se fala sobre a emissão de gases do efeito estufa por parte da agropecuária no Brasil e muitas críticas são tecidas sobre a atividade quanto a isso. Como dizer para as pessoas que não são do meio sobre a sustentabilidade ambiental da atividade? Poderia citar algumas das práticas recorrentes que auxiliam na manutenção de gás carbônico no solo?

Fernando Ongaratto: Como me ensinou um produtor de alimentos de um importante criatório de bovinos Nelore, “a composição da atmosfera é NO ar: 78% nitrogênio (N) e 21% oxigênio (O)”. Ou seja, os demais gases somam em torno de 1% da composição atmosférica.

Aliado a isso, o Brasil é responsável por 2,3% do total de emissões globais, valor irrisório em comparação aos países desenvolvidos. Dentre esses 2,3%, a agropecuária (33%) e geração de energia (32%) são os setores com maior volume de emissões, ou seja, o fornecimento de matérias-primas, que garantem o funcionamento das cidades (alimentos e energia), é o que mais emite, tudo dentro do esperado.

Contudo, a agropecuária é um setor capaz de mitigar gases de efeito estufa pelos seguintes processos: semeadura de espécies forrageiras adaptadas ao tipo de solo; manejo de pastagens; e utilização de adubação (orgânica e mineral).

Esses três pontos, sozinhos ou combinados, são práticas que aumentam os estoques de carbono no solo.

A escolha adequada da espécie forrageira, levando em consideração o tipo de solo e o propósito do sistema de operação, permitirá uma cobertura vegetal sem adversidades, uma vez que a forrageira selecionada é adaptada para essa finalidade.

Práticas de manejo, como calagem, adubação, manejo dos pastos por alturas alvos (MPAA), ajuste de taxa de lotação e diferimento de pastagem, são práticas que permitem o desenvolvimento dos perfilhos e aumentam os teores de carbono no solo, pela decomposição dos tecidos vegetais, especialmente raízes.

O nitrogênio atua como um “acelerador” dos processos de renovação dos pastos e, consequentemente, permite o aumento de carbono no solo.  

Em resumo, adequadas práticas de manejo de pastos, como a escolha de forrageiras adaptadas, aliadas à intensificação (especialmente adubação nitrogenada), permitem o aumento do carbono no solo.

Scot Consultoria: No seu ponto de vista, quais são as práticas sustentáveis, na produção de pastagens, mais fáceis de serem aplicadas a campo? E as mais difíceis?

Fernando Ongaratto: Na verdade, não existe prática sustentável fácil ou difícil, o difícil é quantificar a pegada de carbono, mitigação de gases etc.

No dia a dia, o ponto fulcral é saber os objetivos do sistema de produção, ou seja, a programação. Em posse dessa informação, podemos iniciar as práticas: MPAA, ajuste de taxa de lotação e adubação (correção, manutenção, produção), a fim de garantir produtividade e sustentabilidade.

Já foi observado, claramente, nas fazendas que atendemos na Nutripura que, onde há intensificação do sistema (aumento de produtividade), obtém-se menor emissão de carbono (9.4 kg CO2eq. kg carcaça-1); portanto, garantir esses dois pontos é o papel do projeto Serviços Ecossistêmicos.

Scot Consultoria: Na sua visão, quais os principais aspectos a serem levados em consideração em uma terminação intensiva a pasto (TIP) no Sul do Brasil e no Centro-Norte, conhecendo as diferenças regionais?

Fernando Ongaratto: A TIP é uma ferramenta que deve compor as opções do sistema de produção e deve coexistir com o manejo de pastagens e confinamento, desde que seja rentável. A pergunta é clara: qual o objetivo com os bovinos destinados à TIP?

No Sul do Brasil, vejo a TIP como forma de aumentar a taxa de lotação em pastagens anuais de inverno, as quais têm elevados teores de nutrientes, especialmente proteína (o que afeta diretamente o tipo de dieta), assim a TIP pode compor esse sistema, permitindo acelerar e estratificar a terminação de bovinos.

Já no Brasil Central, conduzi sistemas de TIP na estação das águas, que permitiam um alívio da taxa de lotação em pastos perenes, advindos de áreas de integração. Esse sistema permite a entrega desses bovinos ao frigorífico, antes dos bovinos que estão confinados, portanto, resulta em um alívio ao fluxo de caixa, em época de muitos gastos.

Scot Consultoria: É possível toda produção de gado em sistemas de pastagens ser "Carbono Neutro"? O que é necessário para atingirmos tal patamar de sustentabilidade no Brasil?

Fernando Ongaratto: O protocolo carne “Carbono Neutro” é um projeto pioneiro criado pela Embrapa e mitiga a emissão de metano entérico de bovinos com o componente arbóreo.

Bom, se o Brasil não produzir carne com sustentabilidade, independente do protocolo de neutralização, que outro país pode fazer isso? 

Qual outro país tem condições de ter pastagens de gramíneas C4, as quais permitem taxa de lotação de 2 unidades animais (UA = 450 kg de peso vivo) com MPAA? Esse mesmo MPAA, com a utilização de adubação nitrogenada, aumenta a taxa de lotação, chegando a 4, 6 e 8 UA’s (amplamente observado no Konectpasto), gerando o efeito poupa-terra e, por conseguinte, permitindo áreas para reflorestamento (seguindo o protocolo Carbono Neutro). Podemos utilizar coprodutos que melhorem a digestibilidade e o consumo da dieta dos ruminantes e, assim, diminuir a emissão de metano entérico.

Enfim, existe uma série de práticas sustentáveis que, primeiramente, ao serem mensuradas (projeto Serviços Ecossistêmicos) tornam a tomada de decisão e de ação palpáveis, gerando métricas. Assim, iremos contar ao mundo que somos sustentáveis. Os dados de produtividade são esses, é a isso que dedico meu dia a dia.

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