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Scot Consultoria

Pragas da soja, impactos na safra 2022/2023, clima e técnicas de manejo

Entrevista com o diretor administrativo na AGRUM Agrotecnologias Integradas e diretor de desenvolvimento e inovação na Bioagreen Agrociências, Luis Eduardo Curioletti

Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023 - 17h00
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Graduado em Agronomia (2014) e Mestre (2016) em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente é doutorando em Engenharia Agrícola, também pela UFSM e diretor administrativo na AGRUM Agrotecnologias Integradas e diretor de desenvolvimento e inovação na Bioagreen Agrociências.

Foto: ShutterStock


Scot Consultoria/Destaque Rural: Quais as principais pragas incidentes nesta safra?

Luis Eduardo Curioletti: O contexto histórico diz muito sobre as principais pragas da cultura de soja e esta precisa ser dividida com relação à ocorrência de pragas em diferentes estágios do seu desenvolvimento. Esses estágios são: fase de estabelecimento, fase de desenvolvimento ou período vegetativo e período reprodutivo. Em cada uma dessas fases, há ocorrência de diferentes pragas, sendo, as mais relevantes, as mastigadoras e as sugadoras, que oferecem grande risco ao potencial produtivo da cultura.

O que determina a importância de uma praga, em qualquer cultura agrícola, é a ocorrência e o potencial de desencadear danos. Historicamente, na fase de estabelecimento, as principais pragas são as lagartas com hábito de rosca (Agrotis ipsilon, Spodoptera frugiperda). Em algumas regiões, os tipos de solo, a alta temperatura e os baixos índices pluviométricos favorecem a ocorrência da lagarta Elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e da lagarta-da-espiga (Helicoverpa armigera). Nos últimos anos, foi possível observar um aumento das vaquinhas (Diabrotica speciosa), que são pragas da região Sul. O tamanduá da soja (Sternechus subsignatus) é uma praga muito importante que causa diversos danos em praticamente todo Rio Grande do Sul e em regiões de Santa Catarina e Paraná. Porém, nas três últimas safras, teve sua incidência reduzida.

Desde a safra 2015/2016, a mosca da soja (Melanagromyza sojae), que ocasiona galerias nas principais hastes da soja, vem sendo profundamente estudada, porque ocasiona importantes danos à produção quando ocorre na fase inicial de estabelecimento, que é a fase mais crítica para a cultura.

Passada a fase de estabelecimento, qualquer praga que ocorra na fase de desenvolvimento tem grande potencial de causar danos à cultura, já que é nela em que as principais estruturas da planta são desenvolvidas e são responsáveis, principalmente, pela fotossíntese e produção de açúcares. As lagartas e os tripes (Thysanoptera) são as principais pragas nesta fase. Ao entrar no período reprodutivo, há um aumento dos percevejos, que ano após ano vem crescendo.

Scot Consultoria/Destaque Rural: Considerando as condições e diferenças climáticas entre os estados, os produtores devem ficar atentos a quais pragas?

Luis Eduardo Curioletti: Quando há ocorrência do fenômeno La Niña, ocorre a seca por conta dos baixos índices pluviométricos e má distribuição das chuvas, em tempo e espaço. Então, em algumas regiões, as chuvas permitem que as culturas consigam se desenvolver de forma satisfatória, porém em outras regiões, isso não ocorre. O estresse hídrico e as altas temperaturas estão ligados ao aumento da ocorrência de pragas, porém algumas espécies, como a lagarta-desfolhadora, os percevejos e os ácaros, se reproduzem melhor em épocas mais chuvosas.

O produtor costuma dizer que “em ano de lagarta, é ano de soja”. Já em regiões onde há longos períodos de seca, as pragas que mais ocorrem são os insetos sugadores e, nas análises realizadas nas últimas safras, os ácaros têm sido encontrados em grandes quantidades, maiores até do que os tripes.

Scot Consultoria/Destaque Rural: Nas condições de estiagem no Rio Grande do Sul, o manejo de inseticidas para essas pragas é prejudicado?

Luis Eduardo Curioletti: Sim, com certeza. As condições de alta temperatura e baixa umidade, associadas à presença de pragas de difícil controle, trazem complicações ao manejo. Sob o ponto de vista técnico do manejo de pragas, o cenário que favorece a presença de ácaros e tripes, por exemplo, é antagônico às boas práticas da aplicação dos inseticidas. A planta está debilitada e sofrendo com o estresse hídrico, com turgor reduzido, baixa translocação e muito sensível à carga de defensivos aplicados. Portanto, as ações de manejo realizadas para controlar essas pragas, até resultarem em danos de fitotoxicidade, prejudicam os efeitos dos inseticidas, reduzindo sua absorção. Algumas pragas também têm seu comportamento modificado, o que diminui sua exposição aos inseticidas, e assim entramos num fator agravante para o manejo delas.

Scot Consultoria/Destaque Rural: Quais fatores estão influenciando as pragas como os ácaros e quais as melhores formas de lidar com elas?

Luis Eduardo Curioletti: Condições de temperaturas mais altas e baixa umidade favorecem a ocorrência desse grupo de pragas. Até 24 de janeiro, as lavouras do Paraná já estavam plenamente em período reprodutivo e as de Santa Catarina e Rio Grande do Sul estavam prestes a entrar nesse período. Essa fase se torna mais sensível à ocorrência dos ácaros por uma questão de mudança de metabólitos e mecanismos de defesa da planta.

Scot Consultoria/Destaque Rural: Neste ponto da safra, quais as principais recomendações de manejo para controle dessas pragas?

Luis Eduardo Curioletti: As lavouras já estão no período reprodutivo e de formação de grãos, ao tomarmos como exemplo o Paraná, um estado que produz tanto soja quanto milho safrinha, nessa fase de desenvolvimento da cultura, o percevejo é a praga com maior potencial de reduzir o peso e qualidade de grãos e seu controle deve começar a ser realizado desde a safra até a safrinha, porque esta praga pode causar danos até à produção de milho na safrinha.

Quando se fala de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, as lavouras que estão entrando em período reprodutivo devem cuidar da ocorrência de ácaros porque a cultura é muito sensível à essa praga, de tripes, que podem se estabelecer de forma muito rápida e, para as regiões com chuva, manter um cuidado com as lagartas e percevejos.

À Leste de Santa Catarina e Noroeste do Rio Grande do Sul, onde já está ocorrendo a colheita do milho e, em seguida, vem o plantio de soja safrinha, que está entrando em um período muito favorável para o desenvolvimento de pragas, deve-se manter cuidado com as lagartas que estão presentes na palha do milho, realizar um bom tratamento de sementes nas regiões onde existe histórico da presença da mosca-da-haste da soja, reforçar complicações aéreas, cuidar das lagartas desfolhadoras e dos percevejos, porque o período de contato da soja com insetos sugadores é extenso. Cuidar também da ocorrência de mosca branca.

Scot Consultoria/Destaque Rural: Quais os maiores prejuízos das seguintes pragas: ácaros, lagartas, percevejos e tripes?

Luis Eduardo Curioletti: Ácaros e tripes - insetos sugadores - são pragas que se alimentam dos tecidos foliares e fluidos celulares e causam o estresse da planta, o aumento do gasto de energia e de água, e consequentemente, a morte da planta. Reduz a área fotossintética e oferece risco de entrada de patógenos e doenças.

Lagartas, ocorrendo nas diferentes fases de desenvolvimento da cultura, prejudicam a área foliar. Seu processo de alimentação tem implicações fisiológicas para a planta, ativando um processo de defesa através da liberação de substâncias que protegem a planta e paralisam os danos causados pelas lagartas, havendo um grande gasto energético da planta.

Percevejos são pragas históricas que atacam no período reprodutivo da cultura, causando abortamento de flor, de canivetinho, os grãos não se desenvolvem, as sementes não viabilizam, perdem o vigor e germinação e o grão destinado à comercialização perde peso.

Scot Consultoria/Destaque Rural: Quais práticas ajudam a reduzir e evitar a resistência das pragas aos inseticidas e às tecnologias?

Primeiro, é necessário entender quais espécies de pragas estão ocorrendo e definir algumas questões. Cada espécie, cada fase de desenvolvimento e a densidade populacional da praga irão definir o manejo mais adequado. O inseticida e a dose corretos são estratégias importantes para definir o controle químico, sendo pautados na eficácia, respeitando boa cobertura, o horário da aplicação etc. Existem diferentes grupos químicos com diferentes grupos de ação para as diferentes pragas existentes.

Em parceria com a Destaque Rural.


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