• Sábado, 27 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Influenza aviária e seus impactos na avicultura

Entrevista com a professora associada na FZEA-USP, Helena Lage Ferreira

Terça-feira, 17 de janeiro de 2023 - 08h00
-A +A

Graduação em Medicina Veterinária na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FMVA/UNESP), 2003. Doutorado em Genética e Biologia Molecular na Universidade Estadual de Campinas (IB/UNICAMP), 2007. Pós-Doutorado em Influenza Aviária (2008) e pesquisadora assistente (2008-2011) no Sciensano (antigo VAR), Bélgica, 2008. Pesquisadora visitante em influenza aviária e doença de Newcastle no Southeast Poultry Research Laboratory (SEPRL-ARS-USDA), Estados Unidos, 2017 a 2019. Livre docente em Doenças virais aviárias na Universidade de São Paulo (FZEA-USP), 2016. Atualmente é professora associada da Universidade de São Paulo (FZEA-USP) e Presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (2023-2024).

Foto: Unsplash


Scot Consultoria: Professora, poderia nos dizer o que é a H5N1 e como essa doença é transmitida?

Helena Lage: H5N1 se refere a linhagem de um subtipo do vírus da influenza aviária (gripe aviária), um vírus influenza tipo A (influenza A), da mesma espécie da gripe humana.

Os vírus da gripe aviária são classificados como "de baixa patogenicidade" ou "altamente patogênicos" com base em suas características genéticas e na gravidade da doença que causam em aves domésticas (galinhas, perus, patos e codornas) e aves silvestres. A doença pode causar alta morbidade e mortalidade e não possui tratamento específico.

A linhagem do subtipo H5N1, que vem causando preocupação, é altamente patogênica e foi identificada pela primeira vez em gansos na China em 1996. Este vírus tem sido disseminado pelas aves silvestres e vem causando um enorme impacto e repercussão na produção avícola, no comércio internacional e em criações de subsistência.

Scot Consultoria: Países próximos já apresentam casos confirmados de aves infectadas pela influenza aviária. Você acredita que seja uma questão de tempo para que apareçam casos no Brasil?

Helena Lage: Algumas espécies de aves silvestres migram durante o ano em busca de alimentos e de condições climáticas favoráveis à reprodução. Elas podem ser infectadas com o vírus H5N1 de alta patogenicidade e não apresentar sinais de doença, transportando o vírus para novas áreas ao migrar, potencialmente expondo aves domésticas.

O país não ficará sujeito às restrições comerciais quanto à detecção em aves silvestres, porém sua identificação precoce em aves silvestres permitirá ações mais efetivas próximas das regiões de introdução do vírus. Por essa razão, os surtos em aves silvestres devem ser notificados ao serviço veterinário oficial.

Scot Consultoria: O fato de o Brasil nunca ter registrado a ocorrência da doença em seu território pode significar que estaríamos despreparados para lidar com o problema, caso ele surgisse? Qual seria o prejuízo estimado caso nosso plantel fosse atingido?

Helena Lage: Apesar do vírus da influenza aviária altamente patogênico nunca ter sido notificado no Brasil, o serviço veterinário oficial de todos os estados brasileiros realiza treinamentos frequentes para a identificação e o controle da influenza aviária. O laboratório federal de defesa agropecuário (LFDA-SP) é o laboratório referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) na América Latina e está preparado para a identificação do vírus também. Os serviços veterinários estaduais, federais e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) prepararam folhetos e livros informativos para os produtores rurais ficarem atentos aos casos, informando os procedimentos quando alguma suspeita de influenza aviária é observada.

Scot Consultoria: Quais os principais sintomas que aves infectadas apresentam? Como identificar um foco da doença dentro do aviário e qual a primeira providencia a se tomar?

Helena Lage: Não há sinais característicos da influenza aviária altamente patogênica que permitirão o diagnóstico definitivo no campo. Os primeiros sinais podem ser sutis, como redução da ingestão de alimentos e água. Alguns sinais podem indicar a presença do vírus no lote, como mortalidade súbita, sinais neurológicos e respiratórios, a diminuição de produção de ovos ou ovos anormais; edema e coloração roxa (cianose) de crista, barbela e pernas. A mortalidade alta em um curto período sem sinais ou lesões em órgãos também pode ocorrer.

Qualquer suspeita de influenza aviária deve ser notificada ao serviço veterinário oficial pelo telefone ou pelo site do Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinária (e-SIBRAVET). Eles investigarão se a suspeita é fundamentada ou não e farão a coleta e envio de material para o LFDA-SP, para a identificação do vírus da influenza aviária.

Scot Consultoria: Quais as principais medidas de biossegurança que devem ser reforçadas em meio ao risco que o Brasil tem vivido?

Helena Lage: Como o vírus é transmitido por aves silvestres, as medidas de biosseguridade no aviário devem ser reforçadas para manter as aves silvestres longe dos galpões. A mortalidade de aves silvestres também deve ser notificada, para que implementem rapidamente medidas adequadas para reduzir o risco de propagação do vírus em nossa indústria avícola.

Deve-se também limpar e desinfectar equipamentos e as instalações, realizar o controle rígido de acesso às granjas, desinfecção dos veículos, equipamentos e materiais que entram na granja, além do tratamento adequado dos dejetos, como cama e carcaças.

Scot Consultoria: Com a Europa vivenciando o maior surto de gripe aviária da história, como isso pode impactar o mercado internacional de carne (frango)?

Helena Lage: O alto número de surtos de influenza aviária altamente patogênica deve causar uma diminuição na exportação de carne dos países europeus afetados pelo embargo parcial ou total dos países importadores. A exportação de carne dos países europeus já vinha em declínio nos últimos anos e deve permanecer em queda em 2023. Com isso, a demanda do mercado importador deve aumentar em busca a carne de outros países sem a doença, como a carne brasileira.

Scot Consultoria: Pensando no mercado exportador brasileiro, a ocorrência dessa doença em outros países soa mais como uma ameaça ou uma oportunidade para o Brasil, no momento?

Helena Lage: A permanência do Brasil com o status de livre da influenza aviária e a ocorrência dessa doença em outros países deixa o produto brasileiro em vantagem em relação aos demais países. A ocorrência da influenza aviária gera prejuízos aos países pelas medidas de prevenção e controle da influenza aviária além deles estarem sujeitos às sanções comerciais. O mundo inteiro está atento ao Brasil, pelo seu protagonismo na exportação de carne de frango.


<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja