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Scot Consultoria

Melhoramento genético na bovinocultura

Entrevista com o zootecnista, Humberto Tonhati

Terça-feira, 10 de janeiro de 2023 - 08h00
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Possui graduação em Zootecnia pela faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista (UNESP, campus de Jaboticabal-SP em (1980), mestrado em Zootecnia pela UNESP (1985) e doutorado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (1994). Em 2007, realizou estágio pós-doutoral na Universitá degli Studi di Napoli Federico II, Itália. Atualmente, é professor titular junto ao Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP Jaboticabal-SP e professor Honorário da Faculdad de Zootecnia da Universidad Nacional Agrária de la Selva,Tingo Maria, Peru. Na graduação, é responsável pelas disciplinas de Melhoramento Animal, Introdução à Zootecnia e Bubalinocultura. Na pós-graduação ministra a disciplina de Melhoramento Genético dos Bovinos Leiteiros.

Foto: Scot Consultoria


Scot Consultoria: Tonhati, que o melhoramento genético aplicado na bovinocultura de corte tem contribuído para a evolução da pecuária brasileira e impactado positivamente na produção de carne bovina é um fato. Quais os maiores avanços genéticos obtidos pela pecuária de corte nacional na última década e qual foi o maior impulsionador para esse cenário?

Humberto Tonhati: Realmente, o melhoramento genético aplicado aos bovinos de corte vem contribuindo com a pecuária nacional na medida em que auxilia na escolha de animais superiores para serem intensamente utilizados na reprodução, o que permite a obtenção de descendentes (progênies) que atendam não somente a economicidade do ponto de vista do produtor, mas também as demandas dos consumidores. Julgo que na última década houve a consolidação dos programas de melhoramento com base na busca de animais mais equilibrados, tanto do ponto de vista racial como do desempenho reprodutivo e produtivo. As avaliações genéticas em grande escala impulsionaram o setor, disponibilizando ao mercado reprodutores com maior potencial de ganho em peso, precocidade sexual e de acabamento, além das características de carcaça.

Scot Consultoria: Você poderia citar aos nossos leitores algumas das vantagens em se ter bovinos melhorados geneticamente dentro do rebanho? Qual o incentivo que o produtor precisa para investir nessa atividade?

Humberto Tonhati: O maior incentivo que o produtor necessita é entender que o uso de animais com valor genético positivo permite melhorar seu rebanho nos aspectos reprodutivos e produtivos. O uso de reprodutores e matrizes superiores afetam positivamente os índices de eficiência, com maior número de crias nascidas, menor número de fêmeas vazias e maior velocidade de ganho de peso, impactando fortemente nos resultados financeiros do produtor.

Scot Consultoria: A transferência de embriões e a inseminação artificial em tempo fixo são duas técnicas comumente empregadas na reprodução de bovinos. Pensando em melhorar geneticamente o rebanho, quais as divergências quanto a essas técnicas em relação a eficiência e “rapidez”?

Humberto Tonhati: Não vejo divergências entre estas biotecnologias reprodutivas e penso que elas são complementares considerando a estrutura piramidal no processo de melhoramento. A produção e transferência de embriões quando aplicadas nos rebanhos de elites, no topo da pirâmide, permite maior intensidade de seleção e diminuição do intervalo de gerações, possibilitando praticamente dobrar o ganho genético nestas populações. O uso da inseminação artificial em tempo fixo favorece a multiplicação dos genótipos superiores pelos rebanhos multiplicadores e por consequência nos rebanhos comerciais.

Scot Consultoria: Na atividade leiteira, quando o produtor foca em elevar sua produção leiteira apenas através da alimentação do bovino, os custos de produção podem acabar se tornando elevados e o método, nem sempre eficiente. Para atingir efetivamente esse aumento de produtividade, o melhoramento genético de bovinos leiteiros deve trilhar por qual caminho? Existem mais variáveis além da genética e da alimentação que devem ser levadas em conta?

Humberto Tonhati: Na pecuária leiteira deve-se adequar os genótipos ao meio ambiente. Se a exploração for com base em raças especializadas e com alta produção deve-se atentar para as necessidades nutricionais, que incluiria o uso de suplementação de volumosos e concentrados de boa qualidade, e ambientais, de modo a proporcionar bem-estar aos animais. Em sistemas semi-intensivos ou extensivos, baseados na produção com uso de pastagens, pode-se utilizar animais mestiços ou de raças sintéticas. Além da genética e da alimentação devemos estar atentos aos aspectos reprodutivos e sanitários, além do uso racional do solo e da água.

Scot Consultoria: Falando em inovação, quais são as mais novas tecnologias dentro do melhoramento genético? E o que é mais utilizado no campo hoje em dia?

Humberto Tonhati: A tecnologia mais recentemente incorporada pelos programas de melhoramento de bovinos no Brasil foi o uso de informações moleculares nas avaliações dos animais. A genômica permite a estimação mais acurada das Diferenças Esperadas nas Progênies (DEPs) e das Habilidades Previstas de Transmissão (PTAs) favorecendo a seleção de animais em idades precoces, com base em características que se manifestam tardiamente na vida dos animais. A diminuição do erro de predição e do intervalo de geração favorece a obtenção de maiores ganhos genéticos.

Scot Consultoria: O que ainda falta explorar de fundamental na bovinocultura de corte dentro do melhoramento genético? Quais os gargalos que essa atividade ainda apresenta e as barreiras a serem superadas para que essa ferramenta se torne algo mais usual nas fazendas brasileiras?

Humberto Tonhati: Atualmente todos os setores da indústria e da agropecuária estão se voltando para a necessidade da sustentabilidade climática e ambiental e neste sentido algumas novas características vêm ganhando importância dentro dos programas de melhoramento de bovinos, como a busca de animais com melhor conversão alimentar e menor emissão de gases de efeito estufa (metano). Identificados os reprodutores e matrizes que atendam estas demandas, o gargalo é a capacidade de disseminar rapidamente estes genótipos nos rebanhos. O uso das biotecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial, em massa permitiria que as fazendas brasileiras se beneficiassem destes conhecimentos.


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