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Scot Consultoria

Intensificação da cria: desafios e estratégias

Entrevista com o pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Gustavo Rezende Siqueira

Terça-feira, 6 de setembro de 2022 - 15h00
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Zootecnista pela Universidade Federal de Lavras, mestrado e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Atualmente é pesquisador científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e professor convidado do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da FCAV-Unesp, Campus de Jaboticabal. Assessor Ad-hoc da FAPESP e FAPEMIG e revisor de vários periódicos. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Avaliação, Produção e Conservação de Forragens e Produção Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: produção animal, bovinocultura de corte, suplementação, confinamento, ensilagem e aditivos.

Foto: Scot Consultoria


Scot Consultoria: Gustavo, sabemos que a cria compreende desde a reprodução até a desmama do bezerro. Na sua opinião, qual a fase mais crítica em que o pecuarista deve ter maior enfoque? Qual o maior gargalo a cria apresenta hoje?

Gustavo Rezende Siqueira: É muito comum vermos o pecuarista colocando a vaca que já emprenhou em pastos de qualidade mais baixa e a vaca sente bastante isso.

O principal foco de uma boa cria é emprenhar a vaca e, o segundo é produzir um bom bezerro, mas para que isso aconteça é importante que o pecuarista fique atento ao índice corporal da fêmea. Um ponto muito importante e onde essa vaca teria melhores respostas é da desmama até a parição, onde pode se utilizar de uma nutrição estratégica para um ganho de recuperação fetal e gerar uma boa condição reprodutiva.

Scot Consultoria: Quais dicas o senhor concede para o pecuarista que tem como objetivo desmamar um animal mais pesado e precoce?

Gustavo Rezende Siqueira: Os bezerros que nascem no início da estação de monta são os melhores, mais pesados e com menor desafio sanitário, ou seja, a vaca passou por um período de gestação com uma condição de pasto e nutrição mais favorável.

Para desmamar um animal mais pesado deve-se ficar atento à condição do pasto onde a vaca está enquanto é gestante e lactante. Os bezerros que nascem mais tarde e são desmamados no final da estação de monta se tornam muito dependentes e, se esses bezerros estão em uma condição de pasto desfavorável, o produtor deve fazer uma suplementação para que compense a piora da qualidade do pasto.

Scot Consultoria: Até que ponto vale a pena intensificar a cria? Quais são os principais obstáculos e variáveis que merecem atenção nesse processo?

Gustavo Rezende Siqueira: A intensificação da cria sem exageros é interessante porque traz viabilidade para o sistema, vários produtores têm aderido à essa vertente.

O desafio é aumentar a quantidade de vacas por hectare, esse vai ser o desafio da cria. Devemos pensar na possibilidade de fazer suplementação com volumoso ou forragem em alguma época do ano e cada vez mais estamos vendo pecuaristas trabalhando nesse modelo a médio e longo prazos.

Scot Consultoria: Dentro das metas de produção do boi 777, quais inovações estão sendo aplicadas atualmente para atingir esse bezerro de sete arrobas?

Gustavo Rezende Siqueira: O desafio do produtor hoje não é desmamar um bezerro de sete arrobas, mas fazer essa vaca parir bem e ter mais de uma parição por ano. O principal desafio no conceito 777 é muito mais que os pesos por si só, é olhar para a cria com uma outra visão, é caminhar para essa intensificação e buscar sempre ter mais vacas por hectare e, para isso acontecer, todo sistema tem que estar rodando perfeitamente e sincronizado.

Scot Consultoria: É comum o uso do creep feeding na fase de cria, quais são as inovações para a nutrição de animais nesta fase? Como os sistemas de intensificação à pasto têm influenciado no cenário pecuário?

Gustavo Rezende Siqueira: Os estudos em andamento hoje são sobre o creep como uma ferramenta não só para desmamar um bezerro mais pesado, mas para desmamar um bezerro mais jovem ou para vacas vazias que ficam livres, podendo engordá-las mais cedo.

Muitas tecnologias nutricionais, aditivos e probióticos vão ser direcionados ao creep, hoje já vemos essas tecnologias na engorda passando pela recria e entrando na cria, pensando mais na vaca de reprodução, e logo chegará no creep.

Scot Consultoria: Os custos de produção estão entre as principais preocupações do pecuarista. Quais são os principais custos que a fase de cria apresenta?

Gustavo Rezende Siqueira: A manutenção de uma vaca a pasto é cara, mas o maior custo da cria é a improdutividade, ou seja, o problema de fato é ficar com uma vaca durante um ano sem ela produzir um bezerro. A atividade da cria é extremamente complexa porque ela só se torna interessante quando você está tendo o mesmo retorno que aquela vaca está te custando.

Scot Consultoria: Estamos em plena entressafra de capim, como o pecuarista deve se preparar para esse período para garantir sua rentabilidade? Qual é o erro recorrente na produção a pasto?

Gustavo Rezende Siqueira: O maior erro é o pecuarista achar que não vai ter seca ou que será curta, o capim não cresce e você tem mais gado por hectare do que deveria ter. Em uma fazenda de cria, o que mais condena é o pecuarista voltar para o seu pasto e ver suas vacas vazias, que não vão gerar bezerros.

O principal ponto de uma fazenda de cria, quando você tem o modelo de estação de monta, é que ela seja feita de forma adequada e consiga tirar esses animais o mais cedo possível da sua propriedade para que passe a seca com a menor quantidade de animais possíveis, e solucionamento forrageiro com volumoso ou suplementação para tratar dessas vacas durante esse período do ano.


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